“Ponha-se daqui pra fora”, “a porta da rua é serventia da casa”, ou um simples e grosseiro “pegue a suas coisas, você não trabalha mais aqui”, com certeza, não são as melhores maneiras de demitir alguém. Por si só, a demissão já é um momento desconfortável tanto para quem está demitindo, quanto para quem está sendo demitido. No entanto, existem algumas formas de desmistificar deste assunto incômodo, fazendo com que os dois lados encarem a situação da melhor – ou da menos pior – maneira possível.
Demitir alguém é um trabalho muito delicado. É preciso tato para deixar, ou ao menos tentar deixar, a pessoa confortável apesar da má notícia. Mas, acima de tudo, é preciso saber como agir com o profissional que será dispensado. É o que conta Eliana Genuíno, gerente de RH da Promon Engenharia. “Quando se está para demitir uma pessoa, você deve sempre sinalizar que isto vai ser feito. A demissão nunca deve ser de surpresa. Na hora de comunicar à pessoa que ela está sendo demitida, vá com ela para um lugar apropriado, onde você possa falar com tranqüilidade e olhar nos olhos dela. Então, antes de qualquer coisa, dê logo a notícia ruim, diga logo de cara que ela está sendo desligada da empresa”, ensina.
Outra problema para quem está demitindo é não saber o que falar para a pessoa que está indo embora. Marcius Melhem, diretor de Jornalismo da Agência de Notícias Leia, acredita ter descoberto uma boa fórmula. “Não uso a palavra demissão, é muito forte. Causa um efeito muito negativo. Prefiro dizer que vou abrir mão do trabalho da pessoa”, diz ele, defendendo a idéia de usar uma linguagem mais gentil para que fique claro que ele não está faltando com respeito o profissional dispensado.
Mas, independente da maneira como a demissão é passada, a pessoa a ser demitida dificilmente vai encarar bem o comunicado. Por mais esperada que a demissão seja, todos sempre sentem o baque. “Já fui demitida sim, mas de um lugar que eu queria sair. Mesmo assim, senti a demissão. Na hora me pareceu que eu estava ‘viajando’ e que via tudo em câmera lenta. Por uns segundos, parecia que o mundo tinha parado”, descreve Suzana Machado, Coordenadora de Marketing da Certisign.
Sentir o choque é uma reação comum, até bem racional e nada exagerada. No entanto, há funcionários que levam a questão para o lado pessoal. “Já fui perseguida por causa de demissões. Já levaram para o lado pessoal, alguns me rogaram até praga”, conta Sheila Gomes Ferreira, supervisora da rede de lojas Fernanda Chies, que já viveu também o outro lado da história. Depois de quatorze anos trabalhando numa mesma empresa, ela foi demitida pela chefe e, apesar de estar tão familiarizada com o processo por trabalhar em cargo de gerência, também não lidou bem com a situação. “Foi horroroso. Não levei pro pessoal, mas achei que a empresa teve um problema de comunicação comigo. Minha chefe me chamou e disse: ‘você sabe porque está aqui?’ Eu respondi: ‘sim, viemos conversar.’ Foi quando ela me pegou de surpresa e me comunicou que eu estava demitida e que devia procurar um advogado”, lembra. Depois disso, Sheila contou que chorou durante uma semana, mas que depois correu atrás e quinze dias mais tarde já estava novamente trabalhando.
Outro ponto fundamental é deixar claro os motivos da demissão. Mentir, demitir alguém sem dizer o porquê ou não ter paciência com quem está sendo demitido não ajuda em nada o profissional dispensado. Para Eliana Genuíno, a verdade é de extrema importância. “Na conversa sobre a demissão, é preciso dar todo o tempo do mundo para a pessoa entender que a demissão não é pessoal e que houve motivos para isso. Sempre diga a verdade, mesmo que ela seja dura. Pois se de início a pessoa não vai gostar, depois ela pode crescer por causa da sua sinceridade”, destaca.
E a falta de diálogo na hora da demissão pode realmente causar estragos e o caso do economista Carlos Augusto Bremer é um bom exemplo disso. “Eu trabalhava para um banco e fui demitido. Na conversa, o chefe não quis dar explicações. Disse que estavam cortando pessoal, mas sempre duvidei disso. Nunca entendi e isso me fez mal. Fiquei um ano sem trabalho e aquela conversa ainda balança a minha cabeça. Até hoje não sei porque fui demitido”, lamenta o economista, que sem o retorno do chefe sobre a demissão não teve como melhorar e não soube o que fazer para evitar a repetição do erro.
Demitir ou ser demitido nunca foi ou será o sonho de qualquer profissional. Mas com bom senso e responsabilidade, é possível ser justo e até tirar boas lições dessa perturbadora situação.