Sexo anônimo

A identidade dele é uma incógnita. Mesmo assim, não deu para resistir. No meio de uma festa lotada de gente, os olhares se cruzaram, bateu uma atração fatal e aí – depois de muitos beijos e amassos – não teve jeito: terminaram a noite no motel, transando loucamente. Ao final do ato, cada um para o seu canto e tchauzinho, até nunca mais. Transar de repente, com alguém que nunca vimos na vida, tem um certo gostinho de aventura. Afinal de contas, não é todo mundo que tem coragem de se entregar ao prazer com gente sem referências anteriores. E olha que nem precisa acontecer, especificamente, em um quarto de motel. Vale tudo quando bate aquela atração: cabines de banheiro público, carro, um cantinho discreto na piscina, cinema, escadaria do prédio… o que importa é ter um lugar para extravasar o tesão.

Sem medo e louca para experimentar novas aventuras, a advogada Ana Carolina T. é uma das mais entusiasmadas quando se fala em sexo com desconhecidos.  “Dá uma adrenalina enorme estar ali com uma pessoa estranha, em um local inusitado, transando de tudo que é jeito: oral, anal e as mais variadas posições. Independentemente de onde ou com quem, tenho uma sensação incrível. O sexo fica mais quente, mais ousado. Por não conhecer o cara, sinto até mais liberdade de experimentar novas coisas. Fico tremendamente excitada, é algo totalmente imprevisível”, descreve.

A aventura do sexo com pessoas de misteriosa identidade também é facilitada – e muito! – pela tecnologia. A Internet é a maior aliada de quem deseja novas experiências entre quatro paredes. As salas de bate-papo e sites de relacionamentos – como o Pulacerca, por exemplo – estão aí para provar.  Cadastrado em uma dessas páginas para arrumar encontros regados a sexo, o webdesigner Marcio S. já teve a chance de realizar algumas fantasias. “Como todos os inscritos estão lá pra transar, é superfácil encontrar uma mulher disposta. Basta olhar as fotos e o perfil, trocar algumas mensagens no chat online, marcar um lugar no mesmo dia e curtir adoidado”, afirma ele.

Nas casas de swing, além de dividir o parceiro com um estranho, é possível realizar um outro tipo de fantasia: a transa em público. Isso acontece porque muitos ambientes desses estabelecimentos são de grande circulação de pessoas – e a maioria delas, claro, está transando. Opa, um momento! Transar com um desconhecido e ainda assistir ao parceiro transando com outra pessoa igualmente desconhecida? Só de lembrar da experiência, a economista Helena B. sente arrepios. “Já fui a um clube desses e me arrependi horrivelmente. Uma coisa é você não estar namorando e procurar alguém para transar. Outra é ver o seu namorado, na sua frente, tendo prazer com outra pessoa. Tem de ter muito sangue frio”, diz ela.

Fantasia, tara ou a coisa mais normal do mundo? De acordo com a sexóloga Glene Faria, transar com alguém que nunca se viu na vida é mais uma forma de extravasar as fantasias. “De repente a pessoa não tem coragem de pedir ou experimentar algo com o parceiro, então resolve procurar um desconhecido para realizar esse desejo. A pessoa percebe que está protegida pelo anonimato e não tem nenhuma responsabilidade com aquela relação”, observa. Apesar de os maiores praticantes dessa modalidade serem os homens, tem muita mulher adotando a prática. Afinal de contas, se a independência feminina nos deu a chance de tomar as rédeas de nossa própria vida, por que haveria de ser diferente em relação ao sexo?

Apesar de parecer estimulante, nem sempre o resultado sai como o esperado. Ora, nem todo mundo é santinho! O risco de cair nas mãos de gente maluca é enorme. E foi isso que aconteceu com uma amiga da estudante Solange R. “Ela era desinibida e toda cheia de fantasias sexuais, resolveu ir a uma boate e teve a infeliz idéia de procurar dois rapazes desconhecidos para fazer um ménage. Conheceu dois caras que toparam e, de lá, os três foram pra um motel. Pra resumir a história, ela foi agredida pesadamente pelos dois do começo ao fim da relação e não tinha como se defender. Ainda bem que não fizeram nenhuma barbaridade”, relembra. Para Glene Faria, a possibilidade de isso acontecer é grande. “Na nossa fantasia tudo ocorre perfeitamente bem. Já na realidade há todo o tipo de risco, como encontrar alguém com más intenções ou contrair alguma doença sexualmente transmissível. Nem sempre a pessoa tem consciência disso, acha que vai sair tudo conforme o imaginado”, diz a sexóloga.

Saber lidar com o resultado da experiência com desconhecidos é tão importante quanto pensar duas vezes antes de arriscá-la. Pois a realidade pode ser muito diferente da fantasia. E haja maturidade para encarar as conseqüências – boas ou ruins! “Quem pratica esse tipo de sexo tem de saber lidar com seus sentimentos e ter noção de onde isso tudo pode levar. No entanto, não devemos julgar quem opta por essa prática. Se está bom para a pessoa e o parceiro, não há por que tachar esse comportamento de anormal. Desde que feito com responsabilidade e ninguém se sinta agredido, é saudável”, observa a doutora Glene. Então, você já sabe: na hora em que bater o desejo, pés no chão, cabeça no lugar e camisinha na bolsa!