Desculpe, você é saudável!

Você é daquelas que ao primeiro pigarro jura estar com pneumonia? Ou então, quando sente uma pontada no abdômen, parte para o pronto-socorro mais próximo com a certeza de que se trata de uma crise de vesícula – afinal, vovó fez essa cirurgia quando tinha praticamente a sua idade.  Mas lamentamos ter que informar que nem todo mundo que sente dor de cabeça sofre de aneurisma cerebral, e nem toda queda te condena a ser mais uma vítima da osteoporose. Na verdade, o diagnóstico certo é mania de doença.

Calma! Não necessariamente se trata de um quadro de hipocondria – doença de quem tem obsessão por doenças e remédios –, embora alguns sintomas sejam os mesmos: necessidade de atenção, carência afetiva… Afinal, a pessoa que faz de uma cólica menstrual a dor de um parto está, na maioria das vezes, querendo carinho. A professora Márcia Costa apresenta exatamente esse quadro. Bonita e bem casada, ela admite gostar quando alguém lhe diz que esta pálida ou com uma olheira mais acentuada. O que, no fundo no fundo, representa, segundo ela mesma, necessidade de atenção. “Não me considero doente, sei que na verdade sou sensível e adoro de ser paparicada”, admite.

Na mesma receita, se encontra a cabeleireira Tânia Ribeiro, que chega a ficar decepcionada quando vai ao médico e ele lhe apresenta diagnósticos de saúde invejável para os inúmeros exames que insiste em fazer. “Se dependesse de mim, removeria todas as pintas e manchas do meu corpo, mas os médicos insistem em dizer que elas não representam perigo. Não acredito, mas vou fazer o quê?”, conforma-se. Já a advogada Laura Coimbra não pode nem ouvir falar em doenças e remédios. “É automático! Se escuto a palavra gripe, começo a espirrar na hora”, confessa ela, contando ainda que, às vezes, foge de rodas de conversa, onde o assunto é doença, para evitar contágio.

Está impressionada? Então veja mais esta: a eterna busca pela beleza e pelo corpo perfeito faz do sexo feminino o principal alvo deste problema. A TPM, como diz a psicóloga da Universidade de São Paulo (USP) Valéria Meirelles, é uma fase em que a maioria das mulheres acaba apresentando algum sintoma de hipocondria, mesmo em escalas mais leves. “O corpo da mulher sofre mudanças todos os meses e é normal que ela se sinta insegura, com necessidade de chamar a atenção”, tranqüiliza a psicóloga.

Enquanto a ausência de um vírus terrível provoca sofrimento nos dodóis de plantão, para a família, o diagnóstico causa muita dor de cabeça. A jornalista Maria Clara Ferreira que o diga: “Meu pai é popular no pronto-socorro perto da casa dele. Toda hora aparece com a suspeita de alguma doença que ele próprio diagnostica e, não havendo confirmação, confronta as opiniões dos próprios médicos”, explica a jornalista, rapidamente consultada ao surgimento dos primeiros sintomas de seu pai. Haja paciência!  “Tem vezes que ele me liga só para reclamar de algum inchaço, caroço, dor… Se duvida que eu esteja prestando atenção, pede para eu repetir tudo o que ele falou. A mania de doença chegou a tal ponto que ele comprou um livro com bulas de remédio, genéricos e de marcas”, conta Maria Clara.

Pois é, uma pessoa com mania de doença pode realmente incomodar muita gente. A estudante de direito Valentina Barbosa conta que os infindáveis problemas de sua avó afetam toda a família.  “Meu tio fez um plano de saúde para ela porque com a idade fica mais complicado mesmo. Só que ela levou essa questão a sério demais. No primeiro mês, foi a tantos médicos que ele teve que pagar além da mensalidade normal”, comenta Valentina. No entanto, quando as queixas são freqüentes, a atenção, principal objetivo dos dodóis, começa a se restringir. “Minha avó diz que existe um caroço que anda pelo corpo dela e manda a gente ficar botando a mão para sentir, só que, claro, nunca tem nada. A pessoa que faz isso perde completamente a confiança, porque ninguém vai acreditar de primeira”, alega a estudante.

Quem tem complexo de enfermo realmente sente dores e sintomas de patologias horríveis. Bem… às vezes aumenta um pouquinho, chegando a duvidar da competência dos médicos – apenas por eles não terem detectado nenhuma mazela incurável. Ou seja, diagnóstico de perfeito estado de saúde é a morte. “Já tive pacientes que não falavam de outra coisa. Seus programas favoritos eram visitas a farmácias e consultórios”, relata a psicóloga Valéria Meirelles.

Mas como convencer pessoas assim de que antiácido não é água e que podemos viver naturalmente sem fazer uso constante de analgésicos? De acordo com Valéria Meirelles, não é possível apontar uma causa genérica para esta mania, que pode na verdade representar uma disfunção emocional. “Não existe uma causa única, cada caso é um caso. O quadro exige maior atenção quando a mania de doença começa a tomar um espaço exagerado na vida da pessoa”, aconselha a psicóloga.

Portanto, o que temos que examinar é o quanto as pessoas se preocupam com a gente, mesmo não tendo nenhuma doença que nos faça um vegetal com os dias contados. A receita, então, é auto-estima lá em cima e ambiente saudável. Assim, não há doença que resista.