Para tudo se tem uma primeira vez. Com o sexo, a regra não é diferente, todo mundo que já fez – ou vai fazer – precisou de uma inauguração.
Uns cedo, outros mais tarde, com a pessoa amada ou com um mero affair, de caso pensado ou no embalo do momento, perder a virgindade é um marco na vida de qualquer um. No entanto, nem todos se sentem à vontade para falar sobre isso. Para muitas pessoas, o sexo continua sendo tabu. Na família, então, é um assunto delicado, sobretudo entre pais e filhos. Fica aquela situação no ar: os progenitores, que já foram jovens um dia e, portanto, passaram por essa etapa da vida sexual, e as crias cientes de que, para virem ao mundo, seus pais tiveram que fazer isso. Afinal, sexo é uma prática comum a todos os seres humanos – assim se espera. Mas, a menos que se pertença a uma família muito liberal, principalmente para nós, mulheres, revelar que a menina dos olhos da mamãe, e o pior, do papai, não é tão casta quanto eles pensam pode ser bem complicado.
Cinto de castidade, obrigação de segurar as pontas para se manter “donzela” até o dia do casamento, ou puritanismo puro e simples deixaram de representar uma realidade predominante na sociedade em que vivemos. Por conta disso – e da compreensão materna –, a estudante de publicidade Patrícia Ribeiro não hesitou em contar à mãe que perdeu a virgindade com o seu namorado. “Foi muito tranqüilo, porque eu sempre disse tudo pra ela, então falei com todas as letras. Fiquei um pouco envergonhada para iniciar a conversa, mas ela já desconfiava”, conta Patrícia, que teve como única exigência assegurar que estava prevenida. Fácil assim. Por outro lado, mesmo sendo evidente, a estudante nunca teve abertura para informar a boa nova ao pai. “Eu tenho uma relação muito distante com ele em relação a esses assuntos, mesmo sendo um pai presente, não criamos tanta intimidade para conversar sobre isso”, diz Patrícia, que lamenta não ter poder dividir algo tão importante com o pai.
Quando o assunto é tornar a público a perda da virgindade, a mãe costuma ser a primeira a saber quando a filha passa por isso. E, como é de se esperar, o pai é a quem os meninos recorrem na hora de confirmar que carimbaram o atestado de machão. Uma herança cultural extremamente comum, mas que, pelo que parece, deixou de ser padrão. A advogada Clarice Gama procurou seu pai para contar o ocorrido e o que é mais incomum: pediu segredo da sua mãe. “Ele estava contando experiências dele e eu me senti bem para expor a minha intimidade. A minha mãe soube logo depois, só que, por uma questão de circunstância e identificação, eu quis falar pro meu pai antes”, diz Clarice.
Enquanto que, para as mulheres, a questão continua sendo mais delicada, com os homens, perder a virgindade soa como uma obrigação. No entanto, a regra do confidente paterno também não domina no reino masculino. O engenheiro Antonio Pedro Cantareira está aí para provar que os relacionamentos mudaram. Quando jovem, ele arrumou um jeito bem direto de contar que não era mais virgem para nada mais nada menos do que sua querida mãe. “Sempre conversei sobre sexo com ela porque é pé no chão. Falo com o meu pai também, só que ele leva pro lado brincalhão. Então, um dia, perguntei pra ela se achava se eu era virgem e ela disse que não. Foi assim que eu contei”, explica Antonio Pedro. Também na casa da advogada Rosita Soares, é ela que desempenha o papel de consultora sexual dos filhos, a melhor forma de controlar sem ser opressiva. Assim, quando o filho mais velho perdeu a virgindade, foi para a mãe que ele recorreu para pedir um auxílio. “Ele me contou e disse que tinha vergonha de comprar camisinha. Daquele dia em diante, eu passei a colocar preservativos na lista do mercado”, explica Rosita. E a figura paterna, onde entra nessa história? A advogada garante que seu marido participa ativamente dos diálogos com os filhos. No entanto, de forma diferente. “Ele fala de sexo de um jeito machista, que meus filhos correspondem da mesma maneira. Comigo, o papo é mais sério”, reconhece a mãe coruja.
Talvez se eles fossem mulheres, a conversa seria diferente. Por mais aberta que seja a relação com seus pais, a estudante de jornalismo Christina Valente prefere deixar o dito pelo não dito. “Minha mãe compra minha pílula todo mês e volta e meia pergunta se eu estou esquecendo de tomar. É o máximo que falamos sobre o assunto. E, sinceramente prefiro que seja assim, fico com a minha privacidade mantida”, revela a estudante. Com o pai, então, ainda que seja óbvio, o pudor é maior. “Ele me poupa do constrangimento com comentários desnecessários e eu também não falo nada. Por mais mente aberta que seja, ele tem 50 anos e me viu nascer”, alega Christina.
Infelizmente, nem todas tiveram a mesma sorte de Patrícia. Em algumas famílias, a notícia não é tão bem recebida, como aconteceu com a promotora de eventos Valéria Alves, que sentiu como se tivesse jogado uma bomba em casa ao revelar para os pais que não era mais virgem. “Aconteceu depois de oito meses de namoro. Meus pais gostavam muito dele, mas na hora que eu contei, foi um choque, parecia que eu tinha cometido uma atrocidade”, relembra ela. Pois é, a verdade, às vezes, é a pior solução. Pelo menos é o que pensa a estudante de administração Sabrina Morrone, que insiste em omitir o fato pela certeza de que sua mãe desaprovaria o contexto da sua primeira vez. “Ela jura de pé junto que eu sou virgem até hoje. Como eu nunca namorei ninguém sério, não tenho cara de contar pra ela. Já tive vários outros parceiros, só que tenho medo da reação dela”, explica Sabrina. Exagero? Bom, cada uma sabe a família que tem. “Eu sei que ela ficaria decepcionada comigo. No fundo, acho que ela prefere não pensar nessa hipótese. Se bem que, se eu estivesse no lugar dela, teria desconfiado há muito tempo”, assume a estudante.
Cada casa é um caso, vai de acordo com a criação que cada um recebeu. A psicanalista Márcia Gomes explica que a perda da virgindade da mulher é delicada porque diz respeito a uma nova etapa da vida. “Há pais que consideram o início sexualidade como a perda da filha. Como a primeira vez é, simbolicamente, um marco da vida adulta, alguns têm a dificuldade em aceitar que a cria perdeu um pouco da inocência. Além disso, cada experiência do outro remete uma experiência nossa, sobretudo a dos filhos”, acrescenta Márcia. Enquanto umas mães reagem mal por se sentirem traídas de não terem sido procuradas, outras realmente preferem não saber. Depende do diálogo que predomina entre pais e filhos. “Alguns pais se mostram de uma forma tão conservadora, que cria uma barreira com a filha. cabe aos pais ter a sensibilidade para compreender o que o filho quer saber para responder sem ser pedagógico”, aconselha a psicanalista. A sexualidade está desde sempre presente na vida de qualquer pessoa, tanto que, ainda pequenos, apresentamos curiosidades tanto em relação ao nosso próprio corpo quanto aos outros. “Falta conversa na relação entre pais e filhos e isso prejudica posteriormente. A abordagem tem que ser de uma forma natural, sem reprimir. O importante é estabelecer um diálogo”, conclui Márcia Gomes.