Meu filho está com câncer. E agora?

Lidar com o  câncer infantil não é simples. Além da própria gravidade da doença e da agressividade de muitos tratamentos, há também os questionamentos das crianças a respeito de seus problemas de saúde, o que pode acabar aumentando a preocupação natural dos pais e até mesmo o sentimento de culpa. “Muitos pais quando passam por essa situação prefeririam que a enfermidade atingisse a si mesmos e não a seu filho. Perguntam-se onde e em que falharam, como isso poderia ter sido evitado e várias outras questões vão surgindo e angustiando. Infelizmente, essa situação não pode ser alterada. E é muito importante que todos nós saibamos que não falhamos em nada. Com certeza, não foi o cuidado que demos ou deixamos de dar, nem tampouco as brigas e os castigos em casa que fizeram com que o pequeno ficasse doente”, afirmam as enfermeiras Andréa Porto da Cruz e Fernanda Papa de Campos.

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A boa notícia é que as  chances de cura do câncer ou de uma boa qualidade de vida são altíssimas para as crianças que enfrentam a doença. Já a forma como os pequenos irão encarar o problema pode variar em cada caso. “A criança entenderá o problema de uma maneira especial, pois deixará de fazer suas atividades cotidianas (ir à escola, natação, balé, futebol, etc) e, consequentemente, sua família estará mais mobilizada em torno dela. Mas a vida tem que continuar! Alguém terá que tomar as rédeas da situação e organizar da melhor maneira possível essa família para que se possa dar continuidade ao tratamento da criança, apoio emocional aos pais e familiares, e lembrar que a vida dos irmãos continua e que geralmente o caminho será longo”, dizem.

Como dizer à criança que ela está doente?

Crianças merecem saber o que está acontecendo com elas (Crédito: Thinkstock)

Para muitos pais, fica também a dúvida sobre contar à  criança que ela está com câncer e esclarecer a gravidade da doença ou omitir o assunto. Para as enfermeiras, as crianças merecem saber o que está acontecendo com elas. “Até mais ou menos sete anos a criança não entende a morte como irreversível e nem a gravidade do câncer como uma doença potencialmente fatal. Expliquem que ela está com um ‘bichinho malvado’ que precisa ir embora. Digam que o bichinho é forte e para combatê-lo ela vai ter que tomar remédios mais fortes que ele, por exemplo”, sugerem.

Outra dica para  falar sobre doença com os filhos é procurar histórias infantis ou usar um desenho animado que a criança conheça. Recentemente, uma campanha foi feita com  personagens infantis carecas para afastar o preconceito em relação ao problema. Além disso, é importante falar sempre a verdade. “Não privem as crianças das informações das alterações concretas de que seu corpo poderá sofrer com o tratamento. Falem que os remédio podem deixá-la um pouco ‘molinha’ e que seu cabelo pode cair. Troque as mentiras por soluções temporárias, presenteie-a com um lindo chapéu, lenço, peruca, boné… Use a imaginação e o amor”, recomendam.

Os irmãos também precisam saber o que está acontecendo e qual é o motivo de tantas preocupações em casa e mudanças na rotina. As explicações, da mesma forma que para a criança doente, irá depender da idade e do grau de compreensão de cada uma. O mais importante é que os diálogos sejam sempre feitos de forma carinhosa e que haja um momento para fazer um programa com cada filho, por mais que seja difícil.

Pais não devem fazer da doença dos filhos um tabu (Crédito: Thinkstock)

Medo da morte

A maior preocupação dos pais quando se deparam com o diagnóstico de um  filho com doença grave é a possibilidade de não haver cura. Para as crianças, no entanto, as preocupações com o futuro não são comuns. Elas costumam se preocupar mais com coisas com as quais elas podem ver e sentir, como a picada da agulha, os enjoos, a irritação e a queda do cabelo. Por isso, nada de fazer do câncer um tabu ou algo que não possa ser falado. “Tanto para o filho doente, como para os demais é importante que todos sintam um canal aberto de comunicação. Que fiquem à vontade para perguntar o que quiserem, para chorarem de medo ou de tristeza, e até mesmo para rirem de situações engraçadas que podem acontecer. Dividir esses sentimentos e percepções é muito saudável”, dizem.