Ensaio com mães nuas mostra transformação natural do corpo após a maternidade

Mulheres mães, gestantes e crianças despidas. Essas foram as personagens do ensaio Natureza Mãe, que nasceu com o intuito de naturalizar a transformação dos corpos femininos durante o processo de tornar-se mãe. As 30 imagens do  ensaio fotográfico retratam o cuidado e a interação cotidiana entre mães e suas crias e, de acordo com a autoria, busca, quebrar paradigmas. Os relatos das fotografadas após verem o resultado são emocionantes.

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A autora, Kalu Brum, se formou em jornalismo, mas atualmente, como doula e fotógrafa, dedica-se a companhar mulheres em um período de grande transformação: a gestação e o parto. Foi nesse meio que a ideia surgiu.

Como conta em seu site, ao fotografar grávidas, Kalu percebeu que elas tiravam a roupa com muita facilidade. No entanto, essa relação com o corpo mudava muito após o parto, momento em que algumas diferenças notáveis aparecem. Foi para enaltecer essa transformação natural que o ensaio surgiu.

Através de publicações feitas nas redes sociais, a doula selecionou seis mães com filhos nascidos e duas gestantes para o trabalho. Realizado em uma cachoeira, o processo aconteceu naturalmente, sem que precisasse de ensaio ou pose ditada. “As mulheres foram chegando, despindo seus bebês e tirando as roupas. Quando vi era a única que continuava vestida. Me despi e comecei a registrar as cenas, sem dirigir. As mães interagiam, conversavam. As crianças curtiam a água fresca de um fim de inverno quente”, conta.

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Atualmente, a intenção é dar continuidade ao projeto em transformá-lo em livro. Mas, as fotos foram divulgadas com relatos emocionantes das personagens.

Amanda Souza dos Santos, 29 anos, mãe da Laura. “Cada um e cada família tem uma criação e uma forma de ver o mundo. Eu sempre sofri muitas restrições e estigmas e não é essa a relação que eu quero ter com minha filha e muito menos que ela tenha consigo mesma e com o próprio corpo (…)”

“(…) A apropriação do próprio ser, da própria imagem e do próprio corpo por si, faz parte da construção de uma estima saudável. Este ensaio foi um momento de homenagear o feminino, o natural e a beleza que há em nós, bem como, o amor aos nossos filhos e à natureza (…)”

“(…) Foi um momento especial e único de respeito à natureza, à quem somos e como somos e aos outros como são; uma lição de direito ao próprio corpo e de amor próprio, indispensáveis para o desenvolvimento do senso crítico de moralidade e respeito (…)”

“(…) Agradeço a todas pela oportunidade de olhar para dentro e reconhecer o amor, o sagrado e a beleza feminina que só a maternidade tem o condão de exteriorizar, sem estereótipos ou padrões, com naturalidade e espontaneidade únicas (…)”

“(…) Estou muito feliz com o resultado e orgulhosa pela força de todas em fazer um mundo melhor pra nós mulheres. Coragem não precisa porque são todas lindas sem exceção”.

Ana Paula Lacerda e Silva, 33 semanas, grávida do Joaquim. “Cheguei em casa, depois deste encontro muitas coisas vieram na minha consciência. Foi um encontro que acalentou Alma, agradecia a Mãe Divina, por poder gerar uma Criança (…)”

“(…) Por algum tempo, não acreditei na minha fertilidade. Fui tentante alguns anos, os ginecologistas declaram que o método para engravidar seria fazendo uso de indutores de ovulação. Não quis bancar este tratamento devido os efeitos colaterais, pois sabia que a minha cura tinha ser no plano sutil (…)”

“(…) Fiz uso de fitoterapias, homeopatia, encontros xamânicos , muitas coisas foram se revelando aos poucos. Minha cura foi pela natureza, pelo poder da MÃE NATUREZA. Vi todas tão entregues ao ensaio, ao espaço. Interagimos espontaneamente e tudo isso compôs aqueles instantes  que a vida nos faz parar para apreciar todo momento. Como numa foto (…)”

“(…) Foi tanta sincronicidade deste encontro que pude escutar o sagrado feminino,  o milagre de gestar, cuidar e nutrir. Estar na presença de mulheres tão diversas me fez perceber a pluralidade, o ser no mundo em conexão com a Mãe natureza. Este projeto não deveria ter nome melhor. Em virtude, percebo a importância de estarmos abertas às surpresas, às sincronicidades, ao novo na nossa vida diária, assim teremos sempre um sentimento de descoberta da própria vida, favorecidos pelos bons encontros”.

Jéssica Souza, 25 anos, mãe do Tales. “Eu tinha muito medo de não conseguir sequer ultrapassar a média de amamentação das brasileiras, tinha medo de nem chegar nos 54 dias (…)”

“(…) Então, cada dia pra mim é uma conquista a ser celebrada. Estou num caminho de aceitação e reapropriação do meu corpo (…)”

“(…) Estar junto de mulheres maravilhosas contagia e me fez sentir maravilhosa também. Saí daquelas águas mais feliz comigo mesma e grata pela beleza de ser quem sou e de lutar minhas batalhas”.

Lidiane Rodrigues Rabelo, 35 anos, mãe do Lucas. “Participar do ensaio foi muito gostoso para mim. Achei q fosse ficar com vergonha, principalmente porque estou acima do peso e isso me incomoda muito. Confesso que cheguei a pensar em não aparecer algumas vezes, por vergonha de me mostrar (…)”

“(…) Mas me encarei e assumi como estou agora. E foi surpreendente. Foi tudo tão natural, sem preconceitos ou julgamentos que me senti super bem, integrada às pessoas q estavam ali e à natureza. Esqueci a questão do corpo (…)”

“(…) O ensaio me tocou numa esfera muito superior. Meu filho todo feliz também, brincando com a água, tentando pegar as folhinhas. Sensação maravilhosa vê-lo conhecendo a natureza e gostando, saindo dessa rotina de vida tão urbana/industrializada que vivemos. Não pensei que seria tão bom”.

Mariana de Castro Costa, 30 anos, mãe de Letícia. “Não tenho como mensurar a satisfação de me sentir livre novamente e de compartilhar isso tudo com outras pessoas(…)”

“(…) a beleza verdadeira de estar nua, com meu corpo com as marcas e cicatrizes que ele ganhou nesta aventura que é gestar, parir e maternar (…)”

“(…) O sorriso, a alegria e o relaxamento da minha filha durante as fotos me fez reforçar toda a paixão que sinto por ela e por toda a natureza”.

Pollyanna Alves Martins, mãe do Gabriel e da Kalu. “A princípio achei que teria vergonha da minha nudez, do meu corpo de mãe, das cicatrizes da vida (…)”

“(…) Eu sabia que durante a sessão ia trabalhar a minha aceitação, amor próprio, naturalidade das minhas cicatrizes que são tatuagens da vida. Nunca me senti tão realizada e feliz assim. Águas mágicas (…)”

“(…) Senti uma infinita admiração pela história das mulheres presentes, por estarmos ali representando tantas outras mulheres, por desmistificar estereótipos de padrões moldados à bisturi. Desconstruir tudo que engloba a nudez como foi registrada é importantíssimo (…)”

“(…) Para o Gabriel, 3 anos, foi fundamental, penso. Ele viu cada mulher como realmente é. Nada moldado à bisturi. Beleza pura, plena e natural. Senti a minha feminilidade, conexão com a mãe terra e a minha deusa interior. Me senti privilegiada e grata por estar diante de mulheres fortes, guerreiras e empoderadas, verdadeiras deusas”.

Ana Rafaela, grávida. “A manhã de um sábado ensolarado foi uma oportunidade de grandes encontros e fortalecimentos. O encontro da mulher com a natureza, da mulher com a outra mulher, da mulher com o próprio corpo, o encontro da aceitação e da não aceitação, de olhares especiais (…)”

“(…) O grande encontro das coisinhas internas que são desvendadas quando nos abrimos para o novo. E, ao encontrarmos, tornou-se possível o fortalecimento”

Raissa Anastasia, 34 anos, mãe do Dante. “Crescer é permitir-se ser, eis o desafio da minha vida, a aspiração por encontrar meu espaço no mundo, encontrar a paz em mim. Durante muito tempo acreditei no que disseram, mas aquela não era a verdade, não era a minha verdade. Era a verdade ‘deles’, eu não me encaixava, nunca me encaixei (…)”

“(…) Dai vieram meus filhos, eu fui julgada, nós mulheres sempre somos: ‘Porque você não se cuidou? ‘- Diziam eles. ‘Como você aguenta criar 4 filhos?’- Julgavam. Ser mãe é ter coragem, é ser casa sempre aberta, é enfrentar o mundo, dar a vida por amor. Como posso negar esse amor a esses seres que me escolheram por mãe? Como posso arrancá-los do meu ventre por achar que não tenho forças pra cuidar deles? (…)”

“(…) Eu tenho força e minha força é em ser mulher. Eu não tenho vergonha de ser quem sou. Eu não tenho vergonha de ser mãe. Eu não tenho vergonha do meu corpo. Eu não tenho medo dos que irão torcer o nariz porque estive nua. Estar entre tão outras corajosas mulheres foi mais que levantar uma bandeira: foi um grito que todas nós contemos há tempos, o grito de nossas mães, nossas avós e tataravós (…)”

“(…) O grito da mulher que gera a vida e que descobre em si o seu poder. Registramos na foto nossa coragem, mas há muito mais em todas nós. Abençoados sejam os nossos filhos e aquelas que consigam reconhecer em si sua força. Não há nada mais miraculoso que o amor (…)”.