Em Kelt-9b, é verão o ano todo. O exoplaneta gigante, localizado a 65 anos-luz de distância de nós, é o mais quente já encontrado pela humanidade. Sua temperatura pode chegar até a 4.327°C, ou seja, é mais quente que a das estrelas e apenas cerca de 900°C mais frio que o nosso próprio Sol.
Isso acontece porque o planeta Kelt-9b está localizado muito próximo à estrela gigante Kelt-9, que propaga muito calor – ela é quase duas vezes mais quente que o Sol e, também, duas vezes e meia mais massiva.
A descoberta foi publicada na revista científica Nature como resultado do trabalho das universidades de Ohio, Vanderbilt e Lehigh, ambas norte-americanas.
Os autores do estudo acreditam que a observação sobre o sistema estelar da estrela Kelt-9 pode colaborar para a compreensão de todos os estágios da vida de um planeta.

Novo planeta: por que é tão quente?
A estrela Kelt-9 tem temperatura elevada (quase 10.000°C, o dobro do Sol) e grande força gravitacional. Isso mantém o planeta próximo a ela.
O movimento de translação do Kelt-9b em torno de sua estrela tem duas características incomuns. Ao contrário da grande maioria dos sistemas estelares já encontrados, neste caso, o exoplaneta orbita sua estrela em movimentos polares, e não equatorais. Ou seja, giram por cima da estrela, e não pelos lados.
E, assim como a Lua orbita em torno da Terra sempre com a mesma face voltada para nós, o planeta mais quente do universo gira da mesma forma ao redor da Kelt-9. “Tão perto assim da estrela, ele sempre terá a mesma face voltada para ela, resultado de um campo gravitacional muito grande”, afirma o cientista da USP.
A surpresa vem do fato de que o Kelt-9b pode resistir a um calor tão intenso e, mais ainda, absorver o calor em sua própria composição.
“A descoberta é muito nova e as razões estão sendo debatidas ainda”, explica o professor do Instituto de Geociência da USP, Roberto Costa. “O que sabemos é que planetas gigantes gasosos são capazes de aguentar muito calor. E que o Kelt-9b deve ter vida curta”, completa.
Planeta terá vida curta?

O Kelt-9b é composto de um núcleo rochoso e coberto por um enorme manto composto de gases hidrogênio e hélio – sua massa é três vezes maior que de Júpiter. Estes gases são os mesmos que formam uma estrela, o que significa que podem suportar muito calor sem evaporarem imediatamente.
Contudo, a forte irradiação de radiação ultravioleta queima gradualmente estes gases, o que gera uma espécie de cauda gasosa brilhantes, semelhante a dos cometas. O artigo publicado na Nature prevê que em 600 milhões de anos, o planeta terá seu fim, seja se transformando em um corpo rochoso estéril no universo, seja evaporando-se por completo.
O estudo também estima que a estrela Kelt-9 tenha apenas 300 millhões de anos – o Sol tem 4,5 bilhões – e que deve entrar em processo de se transformar em uma gigante vermelha em 600 milhões de anos. Ao iniciar este processo, ela começa a se expandir e pode, rapidamente, engolir o planeta, ou o que restar dele. Em 1 bilhão de anos, provavelmente ambos não existirão mais.
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