Por pouco, há 70 mil anos, a humanidade não ficou para a história. A nossa espécie chegou bem perto do fim dezenas de milhares de anos atrás, quando ainda não havíamos desenvolvido habilidades importantes, como a linguagem ou a agricultura: à época, estima-se que apenas 10 mil de nós sobreviveram a uma breve era do gelo. E a culpa é toda de um vulcão.
Supervulcão de Toba: o maior que temos notícia
O local onde hoje se encontra um tranquilo lago, na ilha paradisíaca de Sumatra, na Indonésia, é o registro geológico daquela que quase foi a catástrofe final para a humanidade. Há aproximadamente 74 mil anos, o supervulcão Toba, nome que também batiza o lago atualmente, entrou em erupção e mudou a paisagem de todo planeta por um milênio.
Há indícios de que o Toba entrou em erupção mais de uma vez, mas esta foi especial. A explosão de lava trouxa à superfície terrestre o equivalente a 2.500 quilômetros cúbicos. É o mais poderoso dos últimos dois milhões de anos. Para efeitos de comparação: o mais devastador vulcão em nosso século foi o filipino Pinatubo, cuja erupção em 1991 liberou 5 quilômetros cúbicos.
Após a erupção, a Terra viveu seis anos de inverno vulcânico. A temperatura média global teria caído até 12 graus centígrados e a atmosfera do planeta ficado coberta por uma cortina de gases emanados do vulcão. Após este fenômeno, o planeta viveu uma breve era do gelo de mil anos.
“O inverno vulcânico após uma erupção de um supervulcão do tamanho do Toba, hoje, teria consequências devastadoras para a humanidade e os ecossistemas globais. Essas simulações [feitas pelo estudo] sustentam a teoria de que a erupção do Toba pode ter contribuído para um gargalo genético”, afirma artigo escrito por cientistas norte-americanos.
Restaram apenas 10 mil homo sapiens
A diversidade genética entre humanos é baixa em comparação de outras espécies. Desde a descoberta do genoma, o porquê disto era uma dúvida para os cientistas. Hoje, a hipótese mais provável é a de que houve um gargalo genético entre os homo sapiens. Gargalo genético, neste caso, é uma forma suave de dizer que quase fomos varridos da Terra.
A queda na temperatura, o céu com menos luz solar e uma atmosfera repleta de cinzas do vulcão tornaram a Terra um ambiente não tão propício para a vida humana. Não se sabe exatamente quantos indivíduos haviam antes da erupção, mas o resíduo genético posterior demonstra que, após o evento, restaram aproximadamente 10 mil deles – alguns cientistas variam a estimativa entre 4 mil e 20 mil.
“Este número demonstra o tamanho efetivo populacional. Foi possível identificar isso porque, a partir de uma análise mitocondrial, se constata que a linhagem humana descende da África e é praticamente uma só”, explica Reinaldo Brito, professor do departamento de genética e evolução da Universidade Federal de São Carlos.
Sobrevivência nos tornou mais fortes
Para fugir do frio, a população humana de 70 mil anos atrás se movimentou em direção à porção equatorial da Terra. Nas margens de onde fica a Linha do Equador, a temperatura é mais quente e havia mais opções de alimento. A África equatorial foi o ponto de maior densidade populacional à época. E isto foi um passo fundamental para que o homo sapiens se tornasse a espécie dominante no planeta, em três fases.
Ao se concentrarem na África equatorial, diversas etnias diferentes se encontraram e tiveram que, necessariamente, colaborarem entre si para sobrevivência, afirma artigo de Stanley Ambrose. Com os anos, cruzamentos foram inevitáveis e houve intensa mistura genética – o tal gargalo genético.
Em regiões fora dos trópicos, como na Europa ou Rússia, as espécie tinham muito mais dificuldade para resistir às baixas temperaturas, caso do Homem de Neandertal. Isto é, enquanto havia troca genética intensa entre homo sapiens (o que, teoricamente, é fator favorável na evolução), outros hominídeos estavam isolados e lutando contra o ambiente hostil.
Por fim, os cientistas têm evidências de que 20 mil anos após o episódio, houve um salto evolutivo enorme na nossa espécie. Uma hipótese bastante aceita é de que o gargalo genético estimulou a manutenção de genes mais adaptados ao ambiente. Houve, portanto, uma aceleração em 20 mil anos de um processo que poderia levar milhões, conclui o antropólogo da Universidade de Ilinóis.
Mais adaptado, mais forte e mais inteligente, o homo sapiens rapidamente dominou territórios fora da África e em pouco tempo viu seus “iguais” sucumbirem.
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