Você pode achar um pouco estranho, mas glossofobia é o termo utilizado para o medo de falar em público, uma complexa tarefa que atrapalha a vida de muita gente. Palestras, apresentações e reuniões de trabalho se transformam em momentos de angústia e ver um grupo de pessoas à frente, prestando atenção em você, parece ser um desafio e tanto.
Apesar do nome complicado, a glossofobia não é incomum; ela atinge 75% da população mundial, de acordo com estudos científicos. Ou seja, o comportamento de travar durante a apresentação em uma sala com muita gente não é uma coisa só sua.
Por ser um assunto que compromete bastante a vida social (e, muitas vezes, profissional) das pessoas, especialistas da mente e do corpo estão tentando decifrar a origem e o tratamento para este medo.
Um grupo de fisioterapeutas indianos encontrou, por exemplo, uma relação entre a quantidade de atividade física realizada por voluntários e sua apreensão em falar em público.
Ao Vix, o Doutor em Psicologia pela PUC-SP e especialista em terapeuta comportamental Nicodemos Borges explicou como identificar e lidar com o medo de falar em público, com um passo a passo que trazemos ao final da matéria. Leia a seguir.
Glossofobia: medo de falar em público
A Glossofobia (do grego ‘glóssa’: língua e fobia: medo) atinge pelo menos 75% da população mundial e é o segundo maior medo das pessoas. O primeiro é da morte.
O desconforto ao falar em público, portanto, vai além de sintomas puramente emocionais.
De acordo com pesquisadores paquistaneses em estudo publicado no International Journal of Research, quem tem esse medo pode apresentar outros sintomas, além do bloqueio psicológico, sendo físicos, verbais e não-verbais. Veja em detalhes:
Sintomas
Físicos
- Boca seca
- Aumento da pressão arterial
- Vermelhidão do rosto
- Transpiração e respiração assimétrica
- Voz fraca, pausada ou agitada
- Tremedeira no corpo
- Rigidez no pescoço
Emocionais
- Medo de se perder e parecer bobo
- Ansiedade
- Medo de julgamentos
Origem do medo
A origem do medo de falar em público, segundo o psicólogo e especialista em terapia comportamental Nicodemos Borges, pode estar relacionada a uma ou mais experiências de vida da pessoa.
“Pode ter a ver com a história que ela construiu na vida dela e como ela entende que as pessoas vão ouvir o que ela tem a dizer”, comenta. “Tem a ver com a preocupação que essa pessoa tem em relação à opinião alheia”, define.
Traumas na infância também podem influenciar no medo de falar em público.
“Se a criança ouviu muitos comandos como ‘tome cuidado com o que você fala’ ou ‘não faça desfeita na frente dos outros’, pode afetar, mas não necessariamente”, comenta o especialista.
O grau e o desenvolvimento deste medo vão depender, portanto, da conjuntura em que esse indivíduo se desenvolveu.
Introversão x medo de falar em público
É importante destacar que nem sempre uma criança introvertida terá dificuldade de falar na frente de uma plateia. O mesmo raciocínio vale para uma criança extrovertida; ela pode ter dificuldades de dizer o que precisa para um grande público.
“Não é a mesma coisa. Alguém pode se sentir seguro falando pra um grande grupo, mas de amigos. Muita gente não se sente segura com uma audiência que não conhece”, diz Nicodemos.
Relação com atividade física
Em busca de respostas para o alcance deste medo de falar em público, fisioterapeutas resolveram avaliar características pessoais de um grupo de 100 voluntários do KG College of Health Science, em Coimbatore, na Índia.
Eles relacionaram a quantidade de exercício físico que os participantes faziam e a ansiedade que demonstravam ao falar em palestras e apresentações.
O resultado encontrado pelos pesquisadores foi de que os voluntários que praticavam mais atividade física (o que foi classificado pelos próprios participantes) tinham “melhor autoestima e percepção física”, o que, entre outros fatores, reduz o efeito negativo da ansiedade e promove a integração social e o desenvolvimento com os colegas. A pesquisa foi publicada no International Journal of Pharmaceutical Science and Health Care.
Como tratar
O tratamento do medo de fazer palestras ou subir em um palco para um relato deve ser terapêutico, segundo o especialista Nicodemos Borges. “Sozinho, é difícil dominar”.
Apesar disto, algumas técnicas comportamentais podem ajudar no preparo antes de se apresentar em público. Veja a orientação do psicólogo:
- Prepare o material que vai apresentar com antecedência
- Ensaie o que você precisa falar
- Se for apresentar com o apoio de um recurso como slides, não coloca conteúdo exagerado, que traga dificuldade de ler;
- Ao se colocar em frente ao público, não olhe nos olhos das pessoas que estão sentadas;
- Em vez disso, fixe seu olhar na testa das pessoas. “Se tem a impressão de que está se olhando, mas não tira a atenção de quem está falando”;
- Busque no grupo algum sinal de aprovação, alguém que esteja afirmando com a cabeça, por exemplo, e mantenha o olhar na direção.