Por que cientistas estão protestando em 500 cidades do mundo (incluindo Brasil)?

No “Dia Internacional da Terra”, 22 de abril, milhares de cientistas de mais de 500 cidades em todo o mundo sairão às ruas para protestar contra a interferência política na comunidade científica com projetos que não são baseados em evidências. A iniciativa começou em Washington, no começo de 2017, após o presidente norte-americano Donald Trump desmontar organizações científicas e diminuir drasticamente o orçamento do governo para pesquisas.

Cientistas de 55 países vão participar do evento que tomou proporções globais, chamado “March For Science”.

O Brasil também vai participar, mas por motivos diferentes.

Marcha pela Ciência no Brasil

Pelo menos 21 cidades brasileiras devem fazer parte do manifesto, mas por motivos diferentes: devido ao corte de 44% do orçamento do governo para a pasta de Ciência e Tecnologia no governo atual do presidente Michel Temer.

O caso é tão agravante, que até a revista científica Nature destacou o assunto.

“Temos carência de políticas públicas e investimentos que favoreçam a pesquisa. Os estudos da comunidade científica trazem inúmeros benefícios à sociedade, da saúde pública à economia, passando pelo meio ambiente e por novas tecnologias sustentáveis”, destacou Felipe Simões, aluno da Universidade de São Paulo (USP) e um dos organizadores do evento na capital paulista.

Além disso, os organizadores lutam pela democratização dos estudos científicos. “A ciência deve ser inclusiva”, explica Flávia Virginio Fonseca, aluna de doutorado do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “As pessoas não se interessam pela ciência e parte disso se deve à falta de preparo dos próprios cientistas para lidar com a divulgação dos estudos de maneira fácil e objetiva”.

As cidades que realizam eventos relacionados à Marcha pela Ciência são Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Diamantina (MG), Natal (RN), Pato Branco (PR), Petrópolis (RJ), Petrolina (PE), Porto Alegre (RS), Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), São Carlos (SP), Recife (PE), Boa Vista (RR), Goiânia (GO), Brasília (DF), Alto Araguaia (MT), Itajubá (MG), Ilhéus (BA), Salvador (BA) e Curitiba (PR).

https://www.facebook.com/MarchaPelaCienciaNatal/posts/953874984748697

Manifestação de cientistas

Cientistas protestando por motivos políticos é algo histórico, que remonta à época em que o famoso astrônomo Galileu Galilei (1564-1642) foi preso pela Inquisição por sustentar que a Terra não era plana.

Durante as guerras mundiais e o uso da bomba atômica, diversos cientistas também foram às ruas, para mostrar indignação.

Desde que o aquecimento global passou a ser uma preocupação no mundo todo, diversos políticos têm enfrentado o problema de formas diferentes. Donald Trump, por exemplo, não acredita nas consequências do superaquecimento do planeta, tanto que chegou a exigir que a agência ambiental dos Estados Unidos apagasse dados do site da Casa Branca sobre o assunto.

Além do posicionamento irredutível, o presidente promoveu diversos cortes nas pastas de Ciência, levando diversos membros da comunidade científica a organizar um protesto em massa, articulado em várias instituições acadêmicas de diversas cidades.

https://www.facebook.com/marchforscience/photos/a.317918548602466.1073741826.317917411935913/317918375269150/

“Está brilhando uma luz na comunidade científica, que está lavando sua roupa suja de outra maneira”, disse ao jornal New York Times a bióloga marinha Ayana Elizabeth Johnson, que participa do “March For Science”. “Acho que é um passo realmente valioso para descobrirmos como fazer melhor enquanto comunidade”.

Nem todos os cientistas, porém, concordam com essa manifestação. O professor de psicologia da Universidade de Harvard, Steven Pinker, é um deles: “Eles fazem com que a marcha pareça uma extensão da política de identidade e vitimismo que desacreditaram a academia aos olhos de grande parte do resto do mundo”.

A grande mobilização deve acontecer dia 22 de abril. Mas, na visão de uma das articuladoras do “March For Science”, a professora Caroline Weinberg, pesquisadora de saúde pública da Universidade de Nova York, não pode parar por aí. “Vou considerar a marcha um fracasso se, depois do dia 22, todo esse movimento e toda essa paixão acabarem”.

Ciência no Brasil