Uma região no Brasil é a 2ª mais perigosa do mundo para tornados: há 3 motivos

O Brasil é um país praticamente imune a furacões. Até hoje, há registro de apenas um desses fenômenos, o Furacão Catarina, em 2004. O que pouco se sabe é que há uma enorme ocorrência de tornados em território brasileiro. E o pior é que uma específica região é a segunda onde eles mais acontecem em todo o mundo.

Onde ocorrem tornados no Brasil?

O aumento da ocorrência de tornados no Brasil foi o objeto da tese de mestrado do geógrafo Daniel Henrique Cândido na Unicamp. “Os resultados obtidos mostram que o setor centro-sul do país apresenta elevado risco de ocorrência do fenômeno, sendo que os estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são particularmente mais afetados”, afirma o artigo aprovado pela banca avaliadora.

Dessas três regiões citadas, o interior de São Paulo é onde o fenômeno é mais recorrente, sobretudo próximo a cidades grandes, como Campinas e São José dos Campos – de acordo com o trabalho, nessas regiões metropolitanas industrializadas os riscos de ocorrência superam 20% ao ano.

O levantamento realizado mostra que todo este corredor que envolve o interior paulista até o litoral do Rio Grande do Sul apresenta o segundo lugar no ranking mundial de incidência de tornados. Só fica atrás da região meio-oeste e sul dos Estados Unidos, que é conhecida como “Tornado Alley” (“beco dos tornados”, em tradução livre).

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Por que há tantos tornados no país?

Há dois fatores que contribuem muito para a alta incidência de tornados no Brasil, sobretudo neste corredor de São Paulo até Rio Grande do Sul: o tipo de relevo e a convergência de massas de ar.

Encontro de massas de ar

As condições que tornam, não apenas o estado de São Paulo, mas todo o Centro-Sul brasileiro propício à ocorrência de tornados está no fato de sua localização geográfica. “Este setor se situa em área propícia à atuação de massas de ar com diferentes características, explicou o geógrafo Daniel em entrevista ao VIX. “Por vezes, ocorre o encontro entre massas de ar com características contrastantes dando origem à tempestades. Por exemplo, uma massa fria e seca se confrontando com outra quente e úmida.”

Regiões planas

Além disso,  relevo mais plano de alguns setores desta região, interior do estado de São Paulo e do Rio Grande do Sul, por exemplo, pode facilitar a formação de tornados nessas localidades”, completou o geógrafo. Isso acontece porque os ventos mais fortes, não encontram barreiras naturais (serras) ou artificiais (prédios).

Ilhas de calor

Em seu artigo, o especialista acrescenta um terceiro fator, menos determinante que os dois primeiros: são as áreas muito populosas, “o que faz com que o espraiamento urbano e a ocorrência de ilhas de calor sejam mais comuns nessa área, em detrimento das demais”.

Quando existem ilhas de calor, a temperatura sobe e é absorvida pelas nuvens, que se tornam mais instáveis. podendo causar tempestades, como comumente ocorre em grandes cidades.

Por que não percebemos a ocorrência de tantos tornados?

Ao contrário dos furacões e tempestades tropicais, que podem ter milhares de quilômetros de alcance, semanas de duração e sempre iniciam no oceano Atlântico, os tornados são eventos localizados e breves: seu diâmetro não é maior do que dezenas de metros e sua longevidade é de horas. Por outro lado, seus ventos são extremamente agressivos, muitas vezes superiores a 500 km/h.

Apenas em 1991 os tornados entraram de vez na pauta dos cientistas brasileiros. Nesse ano um tornado atingiu a cidade paulista de Itu no dia 30 de setembro e deixou 15 mortos e mais de 200 feridos. Ou seja, a percepção e mesmo o estudo dos tornados é algo bastante recente no Brasil.

Há, de fato, uma tendência de aumento no número de registros desse tipo de episódio meteorológico nas duas últimas décadas. De acordo com o trabalho de Daniel, tal elevação está relacionada a dois aspectos: alterações climáticas em nível local e global e avanço tecnológico.

O aumento da temperatura global afeta o microclima da região e gera mais instabilidade nas nuvens. Isso se alia ao acelerado processo de urbanização, que forma o que os especialistas chamam de “ilhas de calor”.

“A presença de ar mais aquecido pode induzir a formação de tempestades mais intensas sobre estas áreas, havendo então intensificação da possibilidade de que algumas delas gerem episódios relacionados à ocorrência de ventos intensos, tais como os tornados”, justifica o geógrafo.

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E o avanço tecnológico, por sua vez, disponibiliza mais equipamento capazes de registrar as ocorrências do fenômeno. Seja em relação a detectores especializados, seja com a popularização dos smartphones, que permitem que todo mundo que vê um tornado possa gravá-lo e divulgá-lo online.

É provável, portanto, que cada vez mais notícias sobre tornados no Brasil sejam divulgadas.

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