Um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão da ONU, foi publicado nesta segunda-feira (9) e mostra como o aquecimento global está se desenvolvendo mais rápido do que o esperado – principalmente em consequência das ações humanas.
Com cerca de 3.500 páginas, escrito por 234 autores de 65 países, o documento apresenta anos de pesquisa sobre o tema. Por meio das redes sociais, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para um “código vermelho para a humanidade”, observando que o aquecimento global está afetando todas as regiões do nosso planeta.
“As evidências são irrefutáveis: as emissões de gases de efeito estufa estão sufocando o nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em perigo. O aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra, com muitas mudanças se tornando irreversíveis. Devemos agir agora para evitar uma catástrofe climática”, escreveu Guterres.
The evidence is irrefutable: greenhouse gas emissions are choking our planet & placing billions of people in danger.
Global heating is affecting every region on Earth, with many of the changes becoming irreversible.
We must act decisively now to avert a climate catastrophe. https://t.co/TQlgp1D9AV
— António Guterres (@antonioguterres) August 9, 2021
O que diz o relatório do IPCC sobre mudanças climáticas?
Elaborado a partir de 14 mil artigos científicos, o relatório do IPCC mostra que, indiscutivelmente, as atividades humanas estão causando a mudança do clima. Além disso, também confirma que a elevação do nível dos mares, o derretimento de calotas polares e muitos outros efeitos do aquecimento global podem se tornar irreversíveis.
Em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira, a vice-presidente do IPCC, Thelma Krug, falou sobre os destaques do documento.
“As atividades humanas estão tornando os eventos climáticos extremos, como as ondas de calor, as fortes chuvas e as secas – que são cada vez mais frequentes, duradouras e intensas”, afirmou Krug.
“O que se espera é que as informações que estão nesse último relatório permitam que os governos as assimilem e tomem as decisões mais apropriadas. Se o problema está sendo causado pelo homem, ele também tem a solução no ser humano”, completou.
De acordo com o documento, a dependência da sociedade de combustíveis fósseis é a principal razão pela qual o planeta já aqueceu 1,2 graus Celsius. Com o aquecimento acontecendo de forma mais rápida nos últimos anos, estima-se que o limite de 1,5 graus Celsius (meta indicada pelos cientistas como fundamental para ficar abaixo) possa ser ultrapassado nas próximas uma ou duas décadas – o que “provocará eventos climáticos extremos sem precedentes”.
Como o relatório culpa a poluição do carbono pelo aumento das temperaturas, ele também afirma que a única forma de desacelerar e tentar reverter a atual situação é por meio da redução das emissões de gases do efeito estufa.
Caso as emissões continuem aumentando, a Terra atingirá 2 graus Celsius de aquecimento antes de 2050 e 3 graus Celsius antes do fim do século 21. As consequências se tornam cada vez mais devastadoras.
Destaques do relatório do IPCC
Nível do mar aumentará mais rápido
De acordo com o relatório do IPCC, o nível global dos oceanos aumentou cerca de 20 centímetros desde 1900 e sua taxa de elevação quase triplicou na última década.
Caso ocorra o aumento esperado das temperaturas globais, o nível aumentará até cerca de meio metro no século 21. E mais: continuará aumentando até quase dois metros até 2300.
Ondas de calor serão cada vez mais prováveis
Por conta do aquecimento global atual, as ondas de calor já são cinco vezes mais prováveis de acontecerem. Já caso o aquecimento avance para quase 2ºC, a probabilidade aumenta para 14 vezes.
O resultado? As temperaturas mais altas na Terra podem chegar a quase 3ºC a mais do que as ondas de calor anteriores.
Secas serão mais frequentes e graves
As secas mais graves geralmente ocorrem em média uma vez por década. No entanto, por conta da mudança climática, essa periodicidade aumentou: elas se tornaram 70% mais frequentes.
Caso o aquecimento ocorra como esperado, as secas mais severas podem ocorrer até três vezes mais do que atualmente.
Inundações também aumentarão
Apesar da evaporação mais intensa levar a mais secas, o ar mais quente pode reter mais vapor para produzir chuvas extremas. Esse cenário, inclusive, já é visto na Europa e na China durante o verão de 2021.
Segundo o IPCC, a frequência de inundações aumentou cerca de 30% e têm cerca de 7% a mais de água.