A mulher e o próprio dinheiro > A mulher no mercado de trabalho

As mulheres – com algumas notáveis exceções – saíram para o mercado de trabalho, há uns cinqüenta anos mais ou menos. Nos Estados Unidos e Europa, elas se lançaram no mercado, durante a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de ajudar seus países no tal esforço de guerra. Enquanto os homens lutavam nos campos de batalha, as patrióticas mulheres americanas e européias saíram das suas cozinhas, atendendo ao chamado de seus governantes, para construir artefatos de guerra ou para substituir os homens onde quer que fosse necessário.

Quando a guerra acabou, os homens retornaram e quiseram seus empregos de volta, mas para isso foi preciso convencer as mulheres a voltarem para a cozinha. Não deu certo, obviamente! Ainda que mulheres virtuosíssimas – e suas casas impecáveis – aparecessem aos montes no cinema e na televisão, a tentativa de fazer a mulher comum retornar ao modelo anterior de constituição familiar foi por água abaixo porque elas já haviam descoberto um novo senso de propósito para suas existências: gostaram de ter seu próprio dinheiro e, gostaram ainda mais, da possibilidade de consumir sem ter que dar satisfação a quem quer que seja (especialmente quando se tratava de bolsas e sapatos).

As mulheres brasileiras só saíram de casa para trabalhar quando algumas vagas de emprego começaram a sobrar. Era preciso trabalhar para ajudar o bolo a crescer, para depois dividir, como se dizia na época

As empresas também gostaram do novo poder de compra que se somava ao clássico poder de compra do homem. Claro! Muitas mulheres resistiram e não voltaram – de jeito nenhum – ao acordo antigo dos sexos. Elas também não conseguiram criar um novo acordo com os homens. Ou seja, eles voltando da guerra e assumindo o lugar delas na cozinha. E foi assim que uma nova guerra começou: a chamada guerra dos sexos.

Muitas mulheres resolveram lutar para que seu novo estilo de vida se expandisse por todas as partes do planeta e, assim, elas poderiam ajudar outras mulheres e conseguir a tão sonhada igualdade, afinal! E os anos 60 chegaram rapidamente! E, com eles, as feministas Simone de Beauvoir, Betty Friedman e a nossa Rose Marie Muraro! Ah! E também vieram os tempos de inquisição para os sutiãs, que foram impiedosamente queimados nas fogueiras em praças públicas.

No Brasil, as mudanças do mercado de trabalho vieram um pouco mais tarde: na década de 70, do século XX, durante o milagre econômico. As mulheres brasileiras só saíram de casa para trabalhar quando algumas vagas de emprego começaram a sobrar. Era preciso trabalhar para ajudar o bolo a crescer, para depois dividir, como se dizia na época. Depois disso foram as benditas (malditas?) crises. Uma atrás da outra. O homem brasileiro – coitado – enfrentou séria dificuldade em suprir – sozinho – as inesgotáveis demandas de uma família urbana em transformação, onde todo mundo passou a ser um consumidor em potencial, mas só o homem estava produzindo renda!

A mulher brasileira, então, saiu de casa em busca do seu próprio dinheiro movida não apenas pelas transformações de um mundo que se globalizava, mas também pela dificuldade de encontrar homens que ganhassem bem! Brincadeirinha, calma!