Apenas bons colegas > Separando os papéis

Amizade à parte, quando você está no ambiente de trabalho, o seu foco deve ser… o trabalho! Não deixe suas tarefas de lado para ficar em conversas paralelas, falando mal do chefe e de outros funcionários ou dando em cima do colega. O ambiente exige respeito e maturidade, afinal, você é pago pela sua produção intelectual. “Minha relação com muitos pacientes se aproxima da amizade, mas eles não me pagam para tomar um chope. Minha tarefa é ajudá-los o máximo possível, e não tornar a terapia uma sessão de conversa de bar”, afirma o psicólogo Antonio Carlos.

Segundo ele, é importante separar os papéis, administrando as relações de amizade e de trabalho. “Desfrute da amizade fora do local de trabalho, porque, lá dentro, você e seus companheiros têm tarefas a realizar”, aconselha o psicólogo.

Assumindo responsabilidades

E quando seu amigo comete algum erro que certamente irá impactar as ações da empresa? Como separar amizade de profissionalismo? Se você quiser ajudar, saiba que não é colocando a poeira debaixo do tapete que você vai ser útil. Pelo contrário, você pode, inclusive, se queimar. A amizade no trabalho deve ir até o ponto de não prejudicar seu desempenho, outros profissionais ou a própria empresa. “Posso ser a melhor amiga de uma pessoa, mas, se ela falhar no cumprimento de uma tarefa, vou chamar sua atenção, vou ajudá-la a resolver, mas não encobrir”, afirma Sandra Santos, advogada.

Confiando em você, eu acabo por despertar sua confiança em mim. Assim, todos os profissionais são valorizados, desde os subordinados até os superiores

“Quando é para cobrir um atraso ou algo do tipo, é até compreensível que um acoberte o outro, mas é preciso cuidado para não cruzar essa barreira”, alerta a consultora Esther Diego. “Acima de tudo, as pessoas devem ter bom senso para não envolver seus amigos em situações delicadas. Quem é realmente amigo não vai querer prejudicar o companheiro”, completa. A advogada Sandra Santos concorda: “Faço qualquer coisa por um amigo, desde que não violente meus princípios. Se ele o exigir, então não é meu amigo. Amigo não põe amigo em situação comprometedora”.

Palavrinha mágica

No ambiente empresarial, muito se tem falado sobre a gestão por confiança, que é quando uma empresa comanda sua equipe baseada na confiança. “Confiando em você, eu acabo por despertar sua confiança em mim. Assim, todos os profissionais são valorizados, desde os subordinados até os superiores”, garante a consultora Esther Diego. Ela acredita que essa é uma das formas de fortalecer os laços de amizade ou mesmo de coleguismo no ambiente de trabalho: partindo do presidente, passando pelos diretores e gerentes até o funcionário de menor cargo da companhia.

Claro que não dá para confiar em todo mundo, mas o contrário também é verdadeiro: não dá para viver com mania de perseguição. “O indivíduo precisa aprender a lidar com as pessoas que vai encontrar pelo caminho e com as mais diversas situações”, explica o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira. E isso, segundo Esther Diego, só se consegue com a própria experiência ao longo dos anos.

Para estimular a confiança e interatividade entre seus funcionários, é interessante que a empresa ofereça encontros ou organize eventos que aproximem as pessoas. “A empresa onde trabalho promove reuniões externas através de uma associação. Sempre que posso, vou, e procuro prestigiar todo mundo”, revela a publicitária Suzana Guimarães. Segundo ela, essa é uma oportunidade excelente para entrar em contato com pessoas de outros departamentos e, assim, compreender melhor a empresa em que trabalha.

Mas não se desanime se a sua empresa não faz esse tipo de coisa. A advogada Sandra Santos, por exemplo, organiza, ela mesma, eventos que entrosem os funcionários, contando com a participação de todos os seus amigos e colegas.

Dicas amigáveis

A dica número um é evitar grupinhos. Segundo a consultora Esther Diego, profissionais competentes não precisam disso. É aconselhável ter um bom relacionamento com todos. “O profissional de hoje tem network, ou seja, rede de contatos, e não grupinhos”, afirma. Assim, é possível até mesmo conhecer o funcionamento da empresa como um todo se o funcionário se abre para a amizade com pessoas de outros departamentos. A advogada Sandra Santos concorda e acha que panelinhas não levam a lugar algum, porque uma empresa não prospera com grupinhos, mas com um time só, focado no mesmo objetivo.

Outros cuidados básicos: fique longe de fofocas e não esqueça que você está ali para trabalhar, tirando o máximo de prazer disso, mas, ainda assim, é o seu local de trabalho.

Útil e agradável

“Eu tenho amigas que trabalharam comigo há anos e continuam amigas até hoje. Uma delas é, inclusive, madrinha da minha filha e já não trabalha comigo há mais de cinco anos!”, conta a publicitária Suzana Guimarães.

Viu? É possível, sim, ter e confiar em amizades de trabalho, mas, é claro, é preciso saber diferenciar o que é realmente amizade, quem é realmente amigo, daquele que é apenas um colega. Assim como na vida, deve-se saber em quem confiar, mas decepções podem ocorrer, seja no trabalho, na faculdade ou onde for.

Juntando a fome coma vontade de comer, sem dúvida o local de trabalho é um bom ponto de partida para novos contatos e amizades. Nem sempre é fácil, mas, com maturidade, transparência e discernimento, pode ser que muitas amizades para a vida comecem entre cafezinhos, reuniões e computadores.