Cartão ou cheque?

Compras. Não há representante do sexo feminino que  resista a essa prática. Ainda mais quando a loja preferida entra em liquidação, oferece um mundo de porcentagens em desconto e o melhor: pagamento parcelado! Fácil assim, né? Dá vontade de levar todas as roupas da loja… Ah, é só passar vários cheques para baterem na conta nos meses seguintes, ou sentir o valor da compra ser cobrado lentamente no cartão.  Peralá! Você pode se endividar até o último fio de cabelo e acabar se arrependendo pelas extravagâncias. Para que isso não aconteça, o Bolsa vai ensinar a gerenciar suas finanças pessoais conhecendo melhor os prós e os contras do cheque e do cartão de crédito.

Em qualquer lugar do mundo capitalista, nós, mulheres, somos conhecidas pelo espírito consumista. Tudo bem, quem somos nós para negar uma olhadinha na vitrine daquela loja? E já que estamos ali, não custa nada experimentar um vestido que cairia como uma luva em você. Como ninguém é de ferro, levá-lo para casa já pensando na ocasião perfeita de usá-lo é plenamente perdoável. A não ser que as reservas financeiras estejam escassas. Sem problemas, você pensa, é só preencher um cheque e deixar para depois. Mas não é bem assim. Vamos colocar vírgulas nesses zeros. A assinatura de hoje pode ser a causa da dor de cabeça de uma data bem próxima. Isso porque, a menos que o cheque seja pré-datado, ele nada mais é do que um título de valor nominal imediato, cuja quantia correspondente será debitada na sua conta.

Vamos à utilidade de cada forma de pagamento. O cheque serve para substituir o dinheiro vivo no ato ou parcelar uma dívida. O cartão possui uma data de vencimento fixa estabelecida pelo contratante, e é útil quando você somente terá dinheiro em alguns dias (recebimento de salário). Se o caso for desembolsar o dinheiro de plástico ou remeter o valor no cheque para mais adiante, existem algumas restrições. Ao mesmo tempo em que o cartão e o cheque eliminam a necessidade de portar dinheiro e pagar no ato, a dolorosa só está sendo postergada. E, mesmo pós-datando, nada impede que o vendedor deposite antes da data combinada. O diretor do comitê de controladoria da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Luiz Roberto Nascimento, explica que as duas modalidades de compras têm pontos positivos e negativos. “Embora o cartão de crédito permita adiar o pagamento de gastos pessoais e domésticos, se a fatura não for liquidada no vencimento, os juros cobrados podem tornar-se uma bola de neve crescente”, resume ele. No final, a conta acaba ficando exorbitante.

Quando você fecha uma compra em qualquer loja, é como se a empresa responsável pelo cartão assumisse o compromisso de quitar o valor, que pode não ser pago integralmente pelo portador do cartão. No entanto, Luiz Roberto Nascimento não recomenda este tipo de transação. “Se pessoa não quita o total da fatura, são cobrados, em média, de 6 a 12 % ao mês sobre o saldo devedor, o que dá uma taxa anual de 102% até 290% ao ano”, esclarece. Com o cheque, não é muito diferente. Segundo o economista Guilherme Abreu, como o dinheiro de hoje não é o mesmo de amanhã – por causa da maldita inflação, quem adquire um produto ou serviço e desmembra o saldo total em dois ou mais meses sofre um adicional sobre o valor total da parcela chamado factorim. “Para cada quantia, existe uma taxa de juros, que é o custo do dinheiro mensal, ou seja, 1.18% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ao mês para ajustar ao câmbio”. Então, se você tem três cheques pré-datas de mil reais, sendo um para o dia e os outros para daqui a dois meses, o primeiro corresponde ao valor referente. No segundo, a factorim é cobrada em dobro, por causa da margem de risco – ou seja, do cheque bater sem fundo. E assim vai…

No cheque ou no cartão de crédito, não importa, a menos que não haja juros, se o valor total da comprar for dividido, o cliente sempre vai sair perdendo. Primeiro, porque você paga taxa de impressão de talões ou tarifas de anuidade para a empresa do cartão de crédito que você utiliza, usada como capital de giro. No mais, é comum a pessoa não perceber que os juros estão embutidos no custo do produto ou serviço. De acordo com Benignos Ares, quando se oferece pagar uma quantia em várias vezes sem juros, dizendo que à vista é o mesmo preço, na verdade as pessoas estão sendo iludidas. “Toda a venda a prazo tem juros. A pessoa que paga a vista tem que negociar”, informa ele. Pois é, o segredo é barganhar. “A grandes lojas tornaram-se exímias vendedoras com parcelas baixas. É bom comparar o preço à vista. Caso o vendedor diga que o valor é o mesmo, das duas uma: ou o preço à vista está muito caro ou a venda a prazo está muito barata”, comenta Luiz Roberto Nascimento.

Como há uma enorme incidência de cheques sem fundo ou, como são popularmente conhecidos, borrachudos ou voadores, é melhor sempre ter mais alguma fonte de pagamento, ou pode ficar na mão. Para não ter erro, Luiz Roberto Nascimento dá mais alguns alertas: “Não deixe grandes espaços em branco no cheque, sempre cruze e preencha a cédula nominalmente”, acrescenta ele. Ter um documento sempre em mãos também é importante na hora de comprovar que o cartão ou o cheque é seu.

Algumas recomendações: seja organizada para gerenciar suas finanças, fazendo um orçamento pessoal. “Deve-se usar o cartão dentro dos limites que possa pagar. Com o cheque, se não houver saldo na conta, ele pode ser devolvido, sendo que, se o mesmo ocorrer pela segunda vez, a pessoa pode ficar com nome sujo no mercado”, recomenda Benigno Ares. Quem sai lucrando é o banco, que ganha em torno de 17% com os cheques devolvidos. Como dinheiro na mão é vendaval, mas no prazo são outros quinhentos, é um incentivo de gastar mais. “A dívida é você dilatar o pagamento. Porém se, quando contraída, ela não acarretar juros e nem implica o resgate de fundos de uma aplicação financeira, não há problema”, indica Benigno. Ele esclarece ainda que, no caso do cheque especial, os juros são muito altos – de 4 a 10%. Além disso, as dívidas devem estar dentro da sua capacidade de pagamento. “Não é o fato de ter crédito que a pessoa terá capacidade de pagar”, diz o consultor da Financenter. “O ideal é sempre evitar o endividamento. Por isso, fique longe dos juros”, alerta. No fim das contas, o bolso agradece.