Crítica construtiva

Se tem uma coisa que ninguém gosta é de levar desaforo para casa. Ainda mais quando ele vem do trabalho – nem hora extra para digerí-lo se ganha. No entanto, não é sempre que uma crítica ou um comentário tem o papel de ofender ou repreender. Muitas vezes, a declaração, apesar de não soar como música para os ouvidos, é dada com a melhor das intenções. Como assim?! Isso mesmo. Devemos, em certos momentos, tirar a carapuça de vítima e não só aceitar, como também compreender a crítica, que pode ser extremamente construtiva tanto para o lado pessoal quanto profissional.

Criticar é preciso, no entanto, encontrar a tônica correta para tal ação é mais necessário ainda. Para isso, usar de clareza, conhecimento de causa e boa vontade é fundamental. O diretor financeiro de uma multinacional Raul Saldanha afirma que, muitas vezes, no calor do expediente, não é fácil fazer críticas construtivas, geralmente, elas acabam saindo na forma de bronca mesmo. “Sei que é errado, mas quando você precisa que tudo saia perfeito e não sai, é difícil segurar a bronca. O que procuro fazer é, em outro momento, conversar melhor com o funcionário, mostrar o erro ou saber o porquê de ele ter ocorrido”, comenta ele.

Escutar adjetivos pouco lisonjeiros a respeito da tarefa que consumiu horas da sua vida não é nada agradável realmente. Claro que em muitas dessas vezes, o trabalho não estava lá uma “Brastemp”, mas em outras o funcionário tem a certeza de que a crítica é pura implicância. “A minha ex-chefe era insuportável. Quando trabalhei com ela me sentia uma burra, aliás, acho que emburreci mesmo naquele período. Ela era assim: se estava bom, nenhum comentário ou elogio. Se estava mais ou menos, era esculacho na certa. Nunca ninguém agradava, ela descontava os complexos de inferioridade dela no trabalho, humilhando as pessoas”, conta a assessora de imprensa Karina Mello.

Ouvir a crítica também é questão de saber aproveitar o tijolo arremessado para, posteriormente, fazer alguma construção. No entanto, existem aquelas pessoas que não admitem que se lance sobre elas nem um grão de areia. “O pior funcionário é aquele que não admite que está errado ou que pode melhorar. Está sempre criando desculpas ou se achando injustiçado, são pessoas que colocam o seu lado pessoal na frente do objetivo maior, que são os resultados para a empresa. Todos devem ter em mente que ali são funcionários, então, devem trabalhar de acordo com as expectativas. Se a pessoa competente faz uma crítica, ele deve aceitá-la e entendê-la para não cometer de novo o erro”, pensa a advogada Daniela Camacho.

Para o psicoterapeuta empresarial Ricardo Estevam, a crítica construtiva se caracteriza por apresentar também o lado positivo. “A pessoa critica, mas aponta a solução para o problema. A crítica construtiva deve ter sempre o lado positivo, falar mal do trabalho ou da atitude do outro é fácil e não é compensador para ninguém”, revela ele.

Salientar pontos positivos e mostrar o caminho correto, são essas as bases da crítica construtiva. Outra ferramenta importante para que ela cumpra sua função, é a forma como é feita. “Existem maneiras e maneiras de se criticar alguém. Grosseria, impaciência e ofensa não resultam em nada, fazem parte da crítica destrutiva. Isso quer dizer, da crítica que pode abalar uma pessoa, dar um baque na auto-estima dela, fazendo com que ela não renda nada no trabalho. Ninguém que se sente um incompetente traz retorno”, comenta Ricardo Estevam. Criticar é uma arte. Portanto, sabendo fazê-la, chefe e funcionário podem sair lucrando.