Engana-se quem pensa que atitudes empreendedoras são exclusividade de quem tem dinheiro no bolso e um bom negócio para começar. Independente da posição ocupada ou da área de atuação, ser um profissional criativo, inovador e capaz de colocar as idéias em prática e desenvolvê-las é um bom começo para quem quer ter seu trabalho valorizado. Afinal, ser um funcionário acomodado, daqueles que criticam a falta de ação de seus superiores e esperam forças ocultas trazerem bons resultados, não colabora, em nada, com o crescimento dos negócios. E como abrir a própria empresa custa caro e exige uma administração cuidadosa e dedicada, ajudar a sua e crescer junto pode ser uma alternativa para realizar seus próprios projetos.
Segundo o coordenador de Recursos Humanos da TV Globo, Roberval Andrade Passos, a principal característica para quem pretende tornar-se um empreendedor é “estar sempre atento ao mercado, buscando novas tendências e formas eficazes de experimentá-las e executá-las”. “O funcionário empreendedor deve estar sempre à frente de seu tempo, ter uma visão holística da área em que atua, se antecipando na tomada de decisões que tenham possibilidades de êxito”, sentencia Roberval.
O verdadeiro empreendedor é um visionário, alguém que se arrisca em grandes projetos, é pró-ativo e vai além de suas obrigações e expectativas. “Há dez anos, buscava-se profissionais que fossem capazes de ocupar cargos e assumir determinadas tarefas. Hoje buscamos, primordialmente, competência, flexibilidade e ousadia. As empresas não querem mais profissionais descartáveis, querem gente que tenha capacidade para acompanhar o seu crescimento”, analisa o coordenador de RH.
O gerente comercial da indústria ferroviária T’Trans, Juarez Barcellos Filho, acredita que um funcionário empreendedor seja indispensável a qualquer empresa, mas salienta: “Há pessoas que têm muitas idéias, mas que não, necessariamente, sabem estruturá-las, realizá-las ou, mesmo, mantê-las e gerenciá-las. É preciso estar atento à distância entre a idéia e a ação. Existem pessoas com um enorme potencial criativo, contudo sem nenhum poder de operacionalização. Ou seja, sem capacidade de empreendedorismo”, garante.
Para o empresário Marcus Ramalho de Oliveira, de 41 anos, dono de cinco restaurantes na cidade de São Paulo, três características são fundamentais para quem deseja empreender, seja em seu próprio negócio ou mesmo dentro de uma empresa: coragem, profissionalismo e muita dedicação. “Além do famoso ‘feeling’, capaz de nos fazer perceber as situações e momentos mais propícios a apostas”, completa.
Mas é preciso mais do que determinação. “A informação, hoje, é muito rápida. Um funcionário empreendedor deve saber desenvolver sua consciência e construir um pensamento capaz de compreender o mundo e as pessoas ao redor. Só assim é possível identificar oportunidades, produzir idéias e empreender negócios promissores”, afirma Marcos Borges, dono da Multinational, uma das maiores empresas da área de promoção do Rio de Janeiro.
Até as universidades brasileiras já começaram a se preocupar em capacitar os futuros profissionais a desenvolverem seus sonhos. Cada vez mais, torna-se comum a inclusão do ensino de empreendedorismo nos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, motivada por alunos dos mais diferentes cursos. “Podemos dizer que há uma verdadeira revolução silenciosa acontecendo nos bastidores do ensino universitário e do mundo empresarial no Brasil. A mudança salta aos olhos. Hoje, o quadro nas universidades é bem diferente. Antes, era necessário sensibilizar, explicar o que era e porque o empreendedorismo deveria estar no currículo. Isso mudou”, aponta o consultor Fernando Dolabela.
Para o diretor da empresa Cempre (Conhecimento e Educação Empresarial) e autor do livro “Não Durma no Ponto – O Que Você Precisa fazer para Chegar Lá”, Roberto Tranjan, a frase de um dos mais importantes palestrantes e consultores para organizações globais e chefes de estado, John Naisbitt, “pense globalmente, haja localmente”, traduz perfeitamente a necessidade de perceber as tendências e oportunidades. “O mercado possui suas próprias leis através da dinâmica da oferta e da demanda. Compreender o sistema econômico é uma maneira de fazer com que o empreendimento interaja positivamente com as forças econômicas”, orienta. Mas, Tranjan atenta para um erro comum: “Um dos maiores erros dos novos empreendedores é sair por aí oferecendo um serviço ou um produto a quem se interesse por comprá-lo. Poucos conseguem conceber um negócio interessante na forma de produtos e serviços e sabem focar o seu público-alvo”, afirma. Ou seja, o conhecimento de negócio é fundamental para tornar-se um bom funcionário empreendedor.
Pode-se perceber que em tempos de concorrência acirrada e economia instável, a “condição” de funcionário empreendedor torna-se sine qua non para quem pretende destacar-se no mercado de trabalho. Nunca o mundo esteve tão aberto a novas idéias. Confie em seu potencial, crie uma grande rede de relacionamentos, aprenda a assumir riscos e a lidar com imprevistos, saiba administrar equipes, desenvolva seu marketing pessoal, exercite seu poder de decisão e liderança e … tenha fôlego!