Cremes, shampoos, condicionadores, batons, reparadores de ponta, corretivos, bases, loções adstringentes, protetores solares – atire o primeiro hidratante quem não gasta pelo menos alguns minutos do dia cuidando da beleza. O cuidado com o corpo e o rosto, hoje, faz parte do cotidiano das mulheres (e dos homens também), cada vez mais preocupadas com os efeitos da idade e de fatores naturais que possam tirar seu vigor. Por trás da corrida pela beleza, as indústrias alimentam a economia, geram empregos e atraem investimentos para o Brasil. Devido a toda essa importância (visual e econômica na vida dos brasileiros), o Bolsa de Mulher preparou uma série de três reportagens, desvendando o mercado da beleza – da produção dos produtos, passando pelas profissões que se dedicam a cuidar dela até chegar em quem vive de ser um rostinho bonito.
Brasil atrai investidores
O Brasil tem hoje cerca de 1,1 mil indústrias de cosméticos, sendo o terceiro mercado mundial em produtos capilares e o décimo em maquiagem, cremes e loções para a pele, segundo cálculos da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Ainda de acordo com a Associação, o mercado de cosméticos, higiene e limpeza e perfumaria movimenta R$ 9,4 bilhões (em receita líquida) e cresceu 14% nos três primeiros trimestres deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Só o mercado de cosméticos representou R$ 8 bilhões (85% do mercado).
E a tendência é que tudo prospere ainda mais. Segundo matéria publicada na Cosmetics Business – uma das mais conceituadas revistas internacionais do setor cosmético – o mercado brasileiro de cosméticos se torna cada vez mais atraente aos olhos do mundo. A análise do mercado brasileiro deste setor e de produtos de higiene, baseada num relatório recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, indica o Brasil como um dos cinco lugares mais atrativos para investimentos estrangeiros em 2005 e 2006.
As novas consumidoras – conscientes e exigentes
As mudanças no dia-a-dia e no comportamento da mulher influenciaram muito os avanços na área de beleza. Hoje, elas representam uma importante fatia da economia e podem investir em cuidados com a estética. Marina Hayashi, gerente de produtos da Granado, opina: “Eu diria que, hoje, a mulher possui mais alternativas à sua disposição e o seu nível de informação sobre os cuidados com a aparência é maior. Com isso, elas se tornaram mais exigentes e buscam cada vez mais produtos que se adequem ao seu tipo de pele, cabelo e rosto. Não podemos ficar parados esperando, temos que nos antecipar às necessidades”, diz ela. A Granado, que foi fundada em 1870, conta atualmente com distribuição em todo o Brasil e exporta para lugares como Uruguai, EUA, Inglaterra, França e Peru, além de realizar vendas pela internet – um importante nicho que começa a ser explorado por várias empresas.
Ana Eliza Barboza, Gerente de Marketing do O Boticário, reafirma a forte exigência das consumidoras, que esperam cada vez mais produtos práticos, com fórmulas eficazes, e sem perder a relação custo x benefício. Sobre a empresa, ela nos conta: “O crescimento exponencial do Boticário é um dos reflexos da nova cultura de beleza na sociedade brasileira. Passamos, em apenas 28 anos, de uma farmácia no Centro de Curitiba para cerca de 2.400 lojas no Brasil e mais de mil pontos de venda em 24 países, atendendo milhões de consumidoras. Não só pela maior penetração na população, mas também pelo nosso portifólio de produtos, podemos perceber uma grande mudança na cultura da brasileira. Hoje, oferecemos cada vez mais produtos com proteção solar, ativos nas fórmulas mais eficazes contra o envelhecimento, textura de produtos mais sofisticadas e cores que acompanham a moda. Além de estarmos constantemente trazendo inovações em perfumes”.
Vendas diretas em crescimento
As vendas diretas, conhecidas como porta em porta, estão fortemente ligadas ao comércio de cosméticos. No Brasil, 1,5 milhão de pessoas trabalham com este tipo de negócio, e, de acordo com a Abevd (Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas), de julho a setembro de 2005m, o setor movimentou R$ 3,1 bilhões, 18% acima que o mesmo período de 2004.
Entre as empresas de cosméticos nacionais, os números de vendas também são otimistas. A Natura, maior fabricante brasileiro de produtos de beleza, detentora de 18,9% do mercado nacional, fechou 2004 com uma receita bruta de R$ 2,5 bilhões. O valor é 33% maior do que a receita de 2003.
A Avon, com larga experiência no mercado, hoje conta com 4,9 milhões de revendedoras autônomas em todo o mundo. No Brasil, atinge a marca de um milhão de revendedoras autônomas – a maior força de vendas da corporação. Em 2004, o faturamento líquido da marca, globalmente, foi de US$ 7,7 bilhões.
As academias aceleram o ritmo
As academias também se adequaram a essa nova mulher. Muitas oferecem, além das aulas, consultas nutricionais e tratamentos de beleza. Tudo para conquistar novas clientes. “As academias cresceram muito e a concorrência também. A busca cada vez maior por um padrão estético de beleza fez com que se tornasse importante matricular-se em uma academia. O principal objetivo das alunas, com certeza, é cuidar da forma física. Mas, nossos associados procuram também cuidar da mente para conquistar o bem-estar e, para isso, trazem seus filhos e parentes para desfrutar de bons momentos em um ambiente agradável”, comenta Carol Cotrim, gerente geral da Estação do Corpo, no Rio de Janeiro. Como diferencial perante a forte concorrência, ela enumera: “Temos um espaço enorme ao ar livre, jardim, piscina aberta, sauna, quadra de vôlei na areia, quadra de futebol, restaurante qualificado, estacionamento, salão de beleza, spa, aulas diversificadas, bons professores, funcionários atenciosos. Um ambiente familiar”.
A Curves é um exemplo de espaço inteiramente dedicado ao público feminino. Constantemente citada pela revista Entrepreneur, em sua eleição anual, como um dos melhores empreendimentos em franquias, entrou para o Livro dos Recordes como “A maior franquia de fitness do mundo”. No espaço, onde só entram mulheres, são praticados exercícios em circuitos de 30 minutos. Anna Geller, dona de duas academias da rede, no Rio de Janeiro, explica a filosofia da empresa: “O nosso objetivo é fazer com que as mulheres malhem de forma saudável de forma que não seja uma obrigação. Tentamos mostrar que se a aluna faz exercício de forma moderada, porém de forma regular, obterá resultados muito bons com relação ao seu corpo e principalmente sua mente! A aluna Curves é uma mulher que não quer se exibir na academia. Ela quer se divertir e se exercitar de forma saudável. Atingimos também um público que não tem muito tempo para passar horas na academia”. Hoje, soma-se 43 unidades espalhadas por 10 estados do Brasil, como Bahia, Ceará, Distrito Federal e Espírito Santo.
Na corrida pelo crescimento
Obviamente a segurança econômica e estabilidade no emprego são fatores primordiais, como alerta João Carlos Basílio da Silva, presidente da Abihpec: “Quando o consumidor começa a ouvir falar mais em demissões do que em contratações, ele fica cauteloso e reduz seus gastos”, diz ele. Outro obstáculo para fabricantes e proprietários de lojas de cosméticos é a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado pela Secretaria da Fazenda, cujo valor – variante de acordo com o Estado – pode chegar a 25%.
Apesar da disputa acirrada, os empresários garantem que há espaço para todos. O otimismo impera e as estatísticas não negam: o Brasil é um dos mercados mais importantes do setor em todo o mundo, segundo a WFDSA (World Federation of Direct Selling Associations).