MBA: moda ou necessidade ?

Todos os seus amigos fazem, seu chefe quer que você faça e você conhece um monte de gente que já fez. O que é isso ? MBA. Três letrinhas mágicas que são, segundo especialistas e palpiteiros de plantão, a garantia para que você continue no mercado. Mas, afinal de contas, o que é isso e vale a pena mesmo ? Vários profissionais no mercado que já fizeram o curso acharam que não valeu a pena. Então fez-se o dilema: vale a pena fazer um MBA ? Para ajudar você a responder a estas questões nós fizemos um levantamento dos melhores cursos de MBA e conversamos com alunos e professores. A decisão agora depende somente de você.

MBA é a sigla em inglês para Master in Business Administration. A tradução ao pé da letra para o português significa mestrado em administração de negócios. A primeira coisa que deve ser lembrada é que os MBAs brasileiros são, por princípio, diferentes dos tradicionais MBAs americanos e europeus. Por isso, não faça comparações entre Harvard e Fundação Getúlio Vargas. Isto não quer dizer que as americanas são melhores que as nossas, acontece que as universidades americanas exigem dedicação integral aos estudos (full-time), enquanto que as nossas nos permitem conciliar a vida estudantil com o trabalho (part-time).

Se você quer fazer um MBA aqui no Brasil, é muito importante que você saiba que os cursos são diferentes no formato em relação aos internacionais. No conteúdo, porém, nunca devem diferir. Um MBA é por natureza um curso de formação generalista de executivos, por isso, deve formar profissionais capazes de tomar decisões, fazer análises financeiras, entender de marketing, se relacionar com as pessoas e, também, aplicar essas habilidades num contexto competitivo e instável. Os programas são baseados na premissa que você pode aprender a administrar de maneira mais eficiente qualquer tipo de situação.

Os MBAs oferecidos no Brasil podem ser classificados em três categorias: o mestrado profissional (stricto sensu), o Executive MBA (pós-graduação lato sensu), e os cursos que carregam a sigla MBA, mas não o são, estão mais para a enganação. Todos são part-time, com duas únicas exceções: a escola de negócios da Universidade Federal; do Rio de Janeiro, e um programa recém lançado pela Business School São Paulo. O mestrado profissional é ideal para quem busca a formação de executivo e, ao mesmo tempo, acredita que o reconhecimento do MEC é importante. Este curso dá formação prática, em outras palavras, prepara você para atuar no mercado de trabalho. Os mestrados profissionalizantes para executivos têm duração variada, normalmente, de um ano e meio a dois anos de curso.

Se você está procurando atualização profissional e não dá a mínima se o Ministério da Educação vai reconhecer ou não o seu diploma, o executive MBA é a sua melhor opção e a maioria dos MBAs oferecidos no país está nesta categoria. Há grande oferta e todos partem do princípio de que você vai trabalhar enquanto estuda. Em geral, são cursos de um ano de duração com aulas à noite mais um dia inteiro (sexta ou sábado) por semana. Portanto, se você quer fazer um curso desse, faça um acordo com o seu chefe para conseguir as folgas semanais e para deixar o escritório mais cedo nos dias de aulas noturna..

Propagandas publicadas nos maiores jornais do país trazem diariamente a informação de que um novo MBA está sendo criado. Um deles anunciou recentemente o “One day MBA” (MBA de um dia). Como o nome diz, tem um dia de duração e – melhor ainda – os participantes ganham um DVD grátis. O professor de economia Carlos Ramalho comenta: “Este curso deveria se chamar Muito Burro Aceita, porque a procura é grande, mas o conteúdo é sofrível”. Todos esses cursos incorrem num mesmo erro: não são MBAs se formos rigorosos no uso internacional da sigla. Ou alguém imagina que é possível fazer um mestrado em sete horas ? Traduzindo: usar a sigla MBA atrai alunos. E aí é que está o grande problema, o interesse financeiro das instituições que promovem este tipo de curso está acima do conteúdo oferecido pelas mesmas.

Mesmo as melhores instituições de ensino são criticadas, seja pela didática, seja pelo conteúdo. Raphael Rodrigues faz MBA em e-business na Fundação Getúlio Vargas, a instituição mais cobiçada, e cara, do país. Você acha que ele está satisfeito ? Ledo engano. “Não acho que seja imprescindível todas as pessoas fazerem MBA, eu faço porque o mercado é exigente e eu quero um lugar ao sol. Nossa turma é a primeira em e-business, por isso, somos uma espécie de cobaias do ensino, o curso ainda está se estruturando. Além disso, os professores falam de uma forma muito generalizada, não são específicos em determinado assunto, o que faz com que o meu interesse diminua”.

Os professores, por sua vez, tentam se defender e, é claro, jogam a culpa nos alunos. “Se o aluno tiver pouca experiência de mercado, vai aprender de uma forma mais generalizada, porque são muitas informações passadas em pouco tempo”, afirma o professor do curso de Gestão de Pequenas e Novas Empresas, Marcio Rolla. E vai mais além: “Os alunos reclamam porque não sabem escolher bem os cursos que irão fazer, não fazem uma análise mais detalhada do programa do curso e acabam se decepcionando. Aí é fácil criticar o corpo docente. Mas uma coisa é certa: MBA não garante o emprego de ninguém, é apenas um diferencial a mais no currículo”.

Outro item muito questionado pelos alunos é a divisão modular dos cursos. “Falta uma seqüência lógica nos módulos, de modo que o aprendizado fica muito fragmentado e as turmas mais perdidas do que cego em tiroteio”, diz Raphael. Roberta Costa, estudante do curso MBA em Marketing no IBMEC, outra instituição bastante conceituada no meio empresarial, faz coro com o colega: “As turmas entram juntas, mas fazem matérias completamente diferentes, então não há aquela harmonia de conhecimento entre os colegas, não há troca de informações entre os alunos, o que é muito ruim”.

Agora quem decide é você. Pergunte para o seu chefe se é imprescindível que você faça MBA, se ele realmente acredita que três letrinhas a mais no currículo
façam tanta diferença assim. Se ele disser que sim, relaxe e faça, mesmo sabendo que esta experiência pode não ser tão engrandecedora profissionalmente quanto ele pensa. Reflita e tome a sua decisão, afinal de contas, é o seu tempo, o seu dinheiro e a sua carreira que estão em jogo.