Não há estatísticas comprovando o crescimento da participação nossa no gerenciamento de estabelecimentos comercias. Mas, estamos cada vez mais nos interessando por uma das atividades mais antigas da humanidade, o comércio. Quem não ouviu falar da advogada que deixou o escritório para abrir uma papelaria? E da contadora que largou uma empresa de auditoria multinacional para se transformar em estilista e comerciante? Numa simples visita a um shopping podemos comprovar isso. Não estamos apenas “batendo perna” pelos corredores. Agora somos vistas vendendo atrás de um balcão, atendendo a fornecedores ou olhando alguma planilha de custos no computador.
Ana Elisa Cesário Alvim atuava como produtora de eventos e não conseguia estar próxima das filhas de seis, dez e 12 anos. Resolveu, então, largar a profissão e abrir a loja de sapatos e acessório infantis Sinsalabim. “Era um projeto antigo que alimentava há seis anos. O comércio me dá grande liberdade de horário porque tenho uma equipe boa”, explica Ana Elisa. “Nunca tinha trabalhado na área, acho que a pós graduação na Fundação Getúlio Vargas foi o que mais me ajudou”. A contadora Kátia Barros foi mais corajosa. Kátia largou um emprego na renomada firma de auditoria Ernest Young para abrir uma franquia num shopping carioca. A franquia não rendeu os frutos esperados e Kátia resolveu colocar seu lado estilista para fora e abrir a marca Farm, um dos quiosques mais badalados da Feira Hype, emprega 20 funcionários fixos e 30 tercerizados. “Acho que vale a realização pessoal e, consequentemente, a financeira. Estou ganhando mais do que ganharia numa carreira sólida de 15 anos. Tenho fábrica no bairro do Jacaré e show room em Copacabana”, revela a estilista de sucesso. “Acho que tenho a veia comercial, meu pai é um representante comercial bem sucedido e eu herdei esse tino comercial”.
As irmãs Kelab também são outro exemplo de sucesso. Há três anos Márcia, Marta e Patrícia resolveram ocupar um imóvel que a família possuía numa das ruas principais de Ipanema e montar a papelaria fina “Cerilla”. O negócio está indo de vento e popa. Entusiasmada, Patrícia Kelab considera o comércio apaixonante. “Você comprou, você colocou para vender e recebeu. Ele é ágil, ver o produto que escolhemos girar é estimulante. Marta acrescenta: “Comércio é um ópio, uma cachaça. Não dá para parar”. A sócia e irmã Márcia tem um casal de filhos pequenos e faz metade das tarefas em casa. Os conhecimentos adquiridos na pós graduação em administração no COPEAD são vitais para a loja. Patrícia é responsável pela área de vendas e atendimento ao público enquanto Marta, concilia a área administrativa com algumas causas advogatícias do escritório do pai, que, aliás, já começou a abrigar o estoque da papelaria. Maria Marques montou um quiosque de venda de artigos religiosos há dois anos pois “estava com 40 anos, achava que a atividade me daria uma liberdade maior , além de adorar vender. Já vendi roupa numa sala comercial.” Maria não é tão otimista” O comércio é uma atividade perigosa. Você tem que ficar sempre a frente e não se deve esperar o lucro rápido. É preciso também ter cuidado para não comprar muito”, aconselha
Qual a diferença entre homens e mulheres comerciantes? Para Patrícia Kelab, “as mulheres comerciantes são mais impulsivas, gostam de buscar novidades nas feiras e no próprio fabricante. Elas querem satisfazer o cliente de qualquer forma, não deixam um furo. As mulheres não deixam para amanhã o que podem fazer hoje. Os homens são mais acomodados, ficam na loja esperando o representante. No nosso ramo, os clientes têm sede por novidade”. Ana Elisa Cesário Alvim considera a mulher mais organizada. “Como ela já tem a tradição de lidar com o orçamento de casa, ela pode levar essa experiência para o comércio” explica. “Ter negócio requer estratégia, pesquisa e dedicação e nós, mulheres, podemos dar conta do recado”, analisa. Pelo lado do consumo, Ana Elisa acha “as mulheres extremamente consumistas, posso comprovar isso desde que são crianças. Na minha loja, de cada dez sapatos, oito são vendidos para as meninas. Elas sempre convencem as mães a comprarem mais um sapato enquanto os meninos não querem comprar nenhum, nem para substituir um que esteja rasgando” lembra.
A contadora Thereza Cristina, da Thargo assessoria contábil e tributária, vai além: “As mulheres são mais honestas, transparentes, arrojadas, perfeccionistas, detalhistas e dedicadas. Independente do ramo, comércio ou não, o mercado tem preferido contratar mulheres por essas características. Acho que o preconceito inicial em relação às mulheres a nível de cargos e salários forçou elas a se preparem mais e se dedicarem mais. Tudo isso ocorre em função da competição desigual.”
Para abrir o próprio negócio, além de ouvir comerciantes mais experientes, é fundamental freqüentar alguns cursos. O SEBRAE, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, espalhado por 27 unidades regionais, oferece diversos a preços acessíveis que variam entre R$ 55 e R$ 75. De acordo com Rebecca Rieggs, da assessoria de comunicação, três são fundamentais para quem quer começar com “o pé direito”. Nas aulas do “Como iniciar o seu próprio negócio” são abordados tópicos importantes para o planejamento do negócio e do processo de legalização da empresa como, por exemplo, os conceitos de empreendedor e empresário, os atributos que um empresário deve possuir, a legalização de uma empresa, a aquisição de uma empresa existente, o estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte, legislação trabalhista, documentos fiscais e roteiro para estudo de viabilidade. Em “Como Administrar sua Micro e Pequena Empresa” o aluno aprende a gerenciar de forma simplificada. O planejamento empresarial, administração de pessoal, controle financeiro, vendas, compras e administração de empresa familiar fazem parte do currículo. Já no curso “Como formar o preço de venda na Micro e pequena empresa” são ensinados os elementos dos custos, classificação das despesas, métodos de rateio das despesas fixas, apuração do custo total, margem de lucro, determinação do preço de venda e cálculo do ponto de equilíbrio. Segundo Rebecca, o número de mulheres se matriculando no SEBRAE só tem aumentado.
O contador é o profissional que não se deve esquecer nessa hora. A contadora Thereza Cristina Gomes, da Thargo assessoria contábil e tributária, aconselha a procurar um contador idôneo e recomendado antes de dar o pontapé inicial. “O ideal é ir no Conselho Regional de Contabilidade de sua cidade e saber se o profissional possuí alguma pendência ou problema no órgão”.