Negócios Mulheres que lideram

Com armadura e espada na mão, salto alto e batom, as mulheres partem para a luta no mundo dos negócios com unhas afiadas, e pintadas, é claro. Algumas destas bravas mulheres são pessoas-chave na política brasileira. É o caso da secretária municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, Sol Garson, presidente da ABRASF (Associação Brasileira de Secretários de Finanças das Capitais), 50 anos, mãe de três filhos, responsável por nada menos que toda a receita, orçamento e patrimônio do município. Sol, desde 1973 no mercado de trabalho, acredita que as mulheres já conquistaram seu espaço na sociedade e conta nunca ter tido problemas de discriminação por ser mulher. Lida tanto com homens como mulheres de igual para igual, mas confessa: “gosto de trabalhar com mulheres, são mais “caxias”, dedicadas, detalhistas e organizadas.” Tem fama de ser durona, mas está sempre aberta a ouvir seus colaboradores, e apesar do setor público não ter muita flexibilidade, procura sempre ajudar as pessoas da sua equipe a crescerem e terem acesso às novidades.

Uma das primeiras coisas que fez quando chegou ao governo foi uma espécie de faxina e uma organização na “casa”. “Adoro desafios, adoro o novo”, afirma Sol Garson. Implantou uma administração transparente, com todas as contas municipais em um site na Internet (www.rio.rj.gov.br/smf). O dia-a-dia de Sol Garson começa as 6:30 da manhã. São 12 horas diárias de trabalho e quando pára no horário de almoço come sua comida caseira levada na marmita. Procura não levar trabalho para casa nos finais de semana, que dedica à leitura, ao marido, à dança espanhola e aos filhos. O marido nem se incomoda com a agenda cheia da mulher. Invertendo os padrões antigos, trabalha em casa como consultor, sem problemas, enquanto a esposa se divide no trabalho na Prefeitura, a organização doméstica, o papel de mãe e esposa e ainda sobra um tempo para ir a Brasília brigar pelos direitos da cidade.

A baiana Vanda Souza, 45 anos, formada em Arquitetura, mas trabalhando como consultora da Dinsmore Associates, não teve tanta sorte quanto Sol Garson. Penou até achar a profissão certa e foi discriminada por seu sexo. Trabalhou 13 anos em uma empresa de Arquitetura em Salvador onde chegou a diretoria. Quando foi apresentar um projeto pela primeira vez , o presidente da empresa falou: “quando essa menina acabar de falar, me chamem”. Seu chefe imediato rebateu na hora: “Fique mais um pouco e escute ela falar”. Depois disso, passou a falar sempre: ficou encarregada de fazer e produzir todos os projetos. Só saiu da empresa para se casar. Tempos depois se separou, pegou as filhas e rumou para Búzios para assumir a gerência da pousada do irmão. Quatro anos depois foi convidada a assumir a área de vendas e marketing da Dinsmore, onde está até hoje.

Quando assumiu a pousada um empregado falou: “Se ela ficar eu saio. Não vou ser mandado por mulher.” Não demitiu o sujeito, preferiu provar sua competência. Depois de tantas idas e vindas, Vanda tem certeza que a mulher é aceita naturalmente pela sociedade, hoje, como líder: “No primeiro momento você precisa conquistar, quebrar barreiras. Acho que sou respeitada e trabalhamos com muitas mulheres na empresa, não vejo mais problema com isso. Tudo depende da competência, ela só precisa saber demonstrar que tem. Eu não quero competir com homem nenhum, tem espaço para todo mundo. Quero permanecer sendo o sexo frágil, quero passar na frente por ser mulher. Não quero abrir porta para homem, pegar peso. É bom ser mulher porque quando bate o desespero eu posso chorar, ser frágil, sem problema algum. Choro sem medo de errar.”

Gail Evans, vice-presidente da CNN, afirma em seu livro “Play like man, win like woman” que as mulheres personalizam muito a liderança e o mundo a nossa volta ainda nos cobra muito. A poderosa vice-presidente dá dois exemplos certeiros. Segundo ela, quando uma mulher trabalha com outra elas tendem a se tornar amigas e, quando a chefe reclama do trabalho da funcionária, essa toma como um golpe baixo na relação de amizade das duas e não como uma reprimenda inerente ao trabalho. Outro exemplo que Gail Evans aponta é o do choro. Quando um homem chora no trabalho é porque ele é tão apaixonado pelo que faz que isso o leva às lágrimas. Na hora que uma mulher chora no trabalho, porém, só se escutam comentários sobre como ela é nervosa e histérica.