E é no próprio mundo da literatura que a reforma encontra opositores. O escritor Ziraldo diz que, apesar de não ter se aprofundado muito no assunto, acredita que mais uma reforma ortográfica vai “atrapalhar” os brasileiros. “Não entendo o motivo, quem faz a língua é o povo”, diz. E ele vai além: “Qual o propósito da reforma? A vida de quem vai melhorar?”, questiona. No entanto, Ziraldo diz que o projeto tem um lado bom: a mudança do alfabeto, que agora inclui oficialmente as letras K, W e Y. Para o escritor, as coisas agora vão fazer algum sentido, já que “a principal avenida da capital do Brasil é a W3”.
Agora a atenção terá que ser redobrada na prova. O fim do acento em algumas palavras com ditongo aberto e a extinção do trema podem virar questões de prova e atrapalhar a vida de quem, como eu, sabia bem o Português
O escritor Ruy Castro concorda que a inclusão destas três letras também é o único lado bom da reforma. Ele, que é Ruy com Y, diz que não vai mais “ficar na clandestinidade, já que, com a mudança, a letra vai passar a fazer parte do alfabeto brasileiro”. No entanto, Ruy Castro diz que “a unificação é inócua na prática. Mesmo escrevendo tudo igual, Brasil e Portugal continuarão com suas ricas e necessárias diferenças de vocabulário”. O escritor afirma que “não vai aderir à reforma, pois já passou da idade de reaprender a escrever”. Ele diz que vai usar a atual ortografia e “o computador vai corrigir colocando na nova ortografia”.
E a população? O que será que as pessoas estão pensando de ter um novo português? Lucia Santana é jornalista e está passando pela sua segunda reforma na língua portuguesa. Na primeira, em 1971, ela tinha dez anos e sempre perguntava aos pais e professores como se escrevia as palavras que tinham mudado. Não entendia a razão das alterações. “Lembro que foi difícil me adaptar”. E agora, com esta nova alteração, ela acredita que não será tão complicado. “Estou bem mais velha e, além disso, com a Internet será mais fácil fazer pesquisa para tentar ver o que mudou”.
Ruim para uns, bom para outros
Já os estudantes que aprenderam escrever há pouco tempo estão gostando da novidade. Rodrigo Martins tem nove anos e acredita que o fim do acento em algumas palavras vai ser bom. “Eu sempre me esqueço de colocar o acento e perco pontos nas provas”. Os mais velhos parecem concordar. Daniela Barros tem 16 anos e gosta de escrever. Ela acha que agora vai ser mais fácil. “O fim do trema, dos acentos nas palavras com ditongos e do acento circunflexo vão facilitar a vida de quem ainda não tem muita habilidade com as palavras”.
Mas há aqueles que têm medo da reforma. Gabriela Guimarães é advogada e estuda para concurso público. Ela teme que, com a nova escrita, as provas tenham ainda mais pegadinhas e tirem pontos preciosos de quem aprendeu a escrever antes das mudanças. “Agora a atenção terá que ser redobrada na prova. O fim do acento em algumas palavras com ditongo aberto e a extinção do trema podem virar questões de prova e atrapalhar a vida de quem, como eu, sabia bem o Português”, diz ela.
A tradutora Monica Lemos tem opinião semelhante. “Eu já fazia traduções com dicionário ao lado. Agora com a reforma em vigor, vou ter que consultar também gramáticas”, conta.
Mas, apesar de toda a polêmica, as mudanças representam apenas entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Então, não há motivo para pânico. É só estudar um pouquinho!