Virei chefe, e agora?

Não importa o cargo, no ambiente corporativo, qualquer profissional está sendo testado o tempo todo. Primeiro, ao se submeter à meticulosa seleção para disputar a almejada vaga com outros tantos profissionais que, diga-se de passagem, sempre parecem melhores e mais bem preparados. Insegurança até a última etapa. Quem diria, hein? A escolhida foi você! Daqui pra frente, tudo vai ser diferente: nova empresa, pessoas estranhas, responsabilidades, cobranças… Mais insegurança! Só que você não desce do salto, dá tudo de si e, quando percebe, é uma das candidatas à promoção. E não é que você foi a felizarda? Assim, entre frios na barriga e muito esforço, você vai subindo, subindo, até que, um belo dia, sua escalada profissional atinge o ápice e você vira chefe! Merecimento e compensações à parte, adivinha: a demanda triplicou e você ainda tem que arcar com as implicações de passar para o outro lado. Calma, antes de o poder ou a insegurança – ela de novo! – subirem à sua cabeça, saiba como se comportar sem perder o posto.

Observação: Essa matéria é dedicada a todas as mulheres batalhadoras, competentes e poderosas que tiveram seu trabalho reconhecido e viraram chefes.

Você se esforçou para ser promovida e quando, enfim, seu nome sobe um nível no organograma da empresa, se pergunta se realmente é capaz de desempenhar a função. Esse tipo de dúvida é perfeitamente aceitável, mas o que você deve ter em mente é que não se vira chefe por acaso. Além de desempenhar o seu trabalho com excelência, o funcionário precisou, acima de tudo, mostrar sua capacidade como líder. Segundo o departamento de Recursos Humanos da Embratel, existem competências imprescindíveis para um cargo gerencial. “Elas estão ligadas à habilidade de o indivíduo gerenciar suas atividades diárias e de trabalhar dentro de uma organização, conduzindo e estando à frente de situações de trabalho com diversidade de pessoas e objetivos comuns”, avalia o RH da Embratel. Assim sendo, o mérito é seu – e as exigências que vêm pela frente também são, de agora em diante, por sua conta.

Ao mesmo tempo em que o funcionário se torna hierarquicamente mais importante, o aumento de poder – e de salário – vem acompanhado de mais responsabilidades e cobranças. De acordo com o psicólogo empresarial Ricardo Estevam, não se pode radicalizar diante do volume de trabalho e das exigências, tem que manter o ritmo. “Deve-se desenvolver um método facilitador de trabalho, ser disciplinado. É só uma questão de auto-confiança e organização”, analisa o psicólogo. A gerente de cultura e desenvolvimento de Recursos Humanos da Casa & Vídeo, Ana Cláudia Fernandes, aconselha a administrar o crescimento do número de tarefas com um bom plano de metas. “A pessoa deve se preparar para assumir uma carga maior de obrigações e, consequentemente, de pressão, se organizando melhor, traçando planos e contando com a ajuda da equipe”, explica Ana Cláudia.

Pois bem, mesmo sendo responsável por determinado número de pessoas, você não está sozinha. Os subordinados são essenciais para o cumprimento de qualquer função gerencial. “O chefe desempenha o papel de um coordenador, líder. E para que seu trabalho dê certo, ele tem que conquistar a equipe, mostrar que todos têm as mesmas metas e objetivos, ou seja, que estão juntos. O bom líder sabe potencializar as competências da sua equipe”, alega Ana Cláudia Fernandes. No entanto, a convivência inicial com os subordinados pode ser complicada, sobretudo quando se vira chefe dos próprios colegas de trabalho. Um entrave delicado para os dois lados, porque, enquanto é difícil impor sua posição aos que antes desempenhavam a mesma função, eles também podem resistir à idéia de obedecer a um antigo colega. O consultor de Recursos Humanos da DMR Consulting, Herculano Ferreira, acredita que o respeito virá naturalmente com o tempo. “À medida que o profissional apresentar resultados e demonstrar que estava preparado para a nova posição, o que inclui saber diferenciar o lado pessoal e profissional”, diz Herculano.

A figura do chefe é, na maioria das vezes, vista negativamente. Afinal, cabe a ele coordenar e ordenar, com todo o cunho imperativo da palavra. Por isso mesmo é que quem sobe de cargo não sabe como agir com os ex-companheiros de função – que, provavelmente, eram comparsas na hora de falar mal do antigo chefe – e corre o risco de ser hostilizados por eles. Para minimizar conflitos e garantir uma boa transição, o psicólogo empresarial Ricardo Estevam explica que cabe ao recém-promovido combinar uma postura respeitosa com o caráter conciliador. Segundo ele, as pessoas tendem a adotar dois posicionamentos: ou não mudam e continuam a tratar os subordinados de igual para igual, ou se transformam em verdadeiros tiranos e misturam questões pessoais, como rixas antigas, na relação com os subordinados. “Quando a pessoa recebe um cargo de chefia, as regras mudam. Ela tem que ter uma visão macro da equipe. O primeiro passo é manter os pés no chão, confiar no que está fazendo”, acrescenta Ricardo Estevam.

Como se pode ver, a transição não implica em uma mudança de comportamento. “A pessoa não necessariamente tem que mudar de postura. Se ela está bem preparada, vai ser a mesma, sem deixar o poder subir à cabeça”, coloca a gerente de cultura e desenvolvimento de Recursos Humanos da Casa & Vídeo, Ana Cláudia Fernandes. Quanto ao vestuário, não é porque você desempenha uma posição superior que vai trocar o jeans pelo terninho, a menos que a própria empresa exija essa providência. O importante é estar preparada para assumir uma carga maior de pressão e saber motivar a si mesmo e a equipe. “O profissional chegou até esse cargo por tudo o conquistou ao longo da vida pessoal e profissional. Assim, tem que manter uma posição condizente com o que sempre foi. Além disso, a pessoa não pode largar tudo de mão e colocar o trabalho em primeiro lugar, deixando o pessoal de lado”, aconselha o psicólogo Ricardo Estevam. Se, mesmo depois de todas essas dicas, a insegurança voltar a bater, procure um profissional mais experiente que você e mãos à obra! Afinal, você merece.