Bolsa de Mulher: Podemos dizer que, apesar de consolidada junto ao público, sua carreira ainda está começando. Que caminhos, como cantora de rock brasileira e, mais do que isso, baiana, você já encontrou pavimentados e quais você quer abrir?
Pitty: Olha, sinceramente, pavimentado, quase nenhum. Porque teve aquela coisa de se fazer rock na Bahia, e tal… Acho que o caminho que todo mundo que faz arte no Brasil deseja ver aberto é a possibilidade mais viável de se chegar ao grande público através dos meios de comunicação.
BM: Que mulheres lhe serviram e servem de referência ao longo da sua trajetória?
P: Muitas, em diferentes áreas. Simone de Beauvoir sempre me inspirou muito, Anne Frank, Clarice Lispector, Elis Regina, Rita Lee, Billie Holiday, Irmã Dulce… As guerreiras, as que acabaram sendo discriminadas no seu tempo porque já estavam no futuro.
BM: O fato de você ser menina foi impressionante para alguém em algum momento da sua carreira? O rock ainda é masculino em suas atitudes?
P: Acho que era mais impressionante o fato de ser uma menina cantando rock pesado e com um discurso mais contestador. Porque ainda existe, e muito, aquele estereótipo patriarcal e machista de que as mulheres devem ser doces, submissas e conformadas. Aí quando aparece alguém falando um pouco mais “grosso”, é inevitável um ligeiro susto.
BM: A cena feminina de rock tem despontado cada vez mais no Brasil. A que você atribui esse interesse crescente do gosto feminino pelo rock, a sua estética e suas mensagens?
P: Ao momento. Uma pequena fresta se abriu e as pessoas puderam perceber que isso era algo que tinha valor.
BM: O que há de diferente no rock feito por mulheres? E no rock ouvido por mulheres?
Fora as pequenas sutilezas e os hormônios, acredito que música independe do gênero.
BM: Você identifica algo em comum no comportamento ou na personalidade do seu público?
P: Em sua grande maioria nosso público é formado por pessoas questionadoras, curiosas, que desejam aprimorar o próprio senso crítico e aprender a pensar. Existem muitas meninas e muitos meninos também, e acho que eles se identificam como seres humanos apenas.
BM: Você tem um trabalho muito equilibrado de forma e conteúdo. De onde vem a sua inspiração? Qual o segredo para casar tão bem e de maneira tão marcante discurso e objetivo estético?
P: É engraçado isso, porque objetivo estético, na real, não houve. Talvez a forma seja reflexo do conteúdo, é algo de dentro pra fora. É algo que endossa o discurso apenas porque é sincero.
BM: A sua geração de rock não gosta muito de pensar no futuro. Mas, mesmo por trás dele, qual o seu grande objetivo?
P: Chegar lá na frente, olhar pra trás e ver que eu consegui aprender alguma coisa. Me aprimorar como cantora, escrever melhor, estar aberta para os sinais e para as inspirações que vêm de fora.