O namoro não anda muito bem, as brigas aumentam na mesma proporção que a paciência despenca e logo começa a surgir aquela pontinha de dúvida – será que vale a pena? Alguns preferem pedir arrego, fazer a prova dos nove, aí, pronto, chega a proposta (in)decente: “Vamos dar um tempo, amor?” Você conta até dez e respira fundo para engolir o choro e se fazer de durona. Ou, nada disso, arma um contra-ataque instantâneo cheio de lágrimas e o melancólico “não me deixe”. Mas o fato é: depois do pedido fatídico, ficam as angustiantes divagações. Seria o tempo o prenúncio de um fora, um eufemismo para não ter que dizer “acabou”, assim, na lata? Afinal, será que funciona mesmo ou está mais para história da carochinha? Bom, essa é a chance de trocar as interrogações por um ponto final.
Tempo ensolarado
Para Sabrina Alencar*, jornalista, o tempo pode ser muito positivo numa relação, assim como foi na dela. Ela e o namorado formavam um casal daqueles que nunca brigam, mas, pouco a pouco, foram perdendo o bom-humor, a vontade de conquistar um ao outro. Até que Sabrina percebeu que aquela já não era mais a praia dela, que já não estava mais sentindo a mesma coisa. “Achei que era só uma fase, mas não passou, fui ‘empurrando com a barriga’. Parei de dizer ‘te amo’, de querer beijar, ser carinhosa… Ele também já não demonstrava a mesma coisa do início e as brigas começaram. Qualquer problema era motivo para ficarmos emburrados. Chegou um ponto em que não estava dando mais”, desabafa.
Se pediram um tempo para você, não fique na paranóia. Você pode recusá-lo se achar que não vale a pena e propor algo diferente ou então aceitar e aproveitar o período para você mesma colocar ordem nas suas idéias
O namorado tomou a iniciativa de chamar a jornalista para uma conversa e tentar resolver a situação na base do diálogo, mas Sabrina estava tão confusa que não sabia mais se queria continuar o relacionamento. “Eu já tinha até tirado umas férias do namoro quando viajei a trabalho durante uma semana. Ainda assim, eu não sabia o que queria da vida”, confessa. Então, ela resolveu pedir um tempo, oficialmente, para colocar as idéias no lugar. “Ele ficou bastante triste, mas eu estava tranqüila, curtindo a nova fase de ter um tempo para mim. Quando a gente namora, fica-se muito em função do parceiro. Aí, quando você dá um tempo, é bom, porque você tira um day spa – vai à praia, ao cinema, ao cabeleireiro, cuida do corpo, sai com as amigas. E você vê que isso é maravilhoso”, conta Sabrina.
“O tempo serviu como um teste para que eu visse como seria minha vida sem ele a todo momento do meu lado. Sabia que as coisas não estavam bem entre nós há muito tempo, mas não tinha coragem de largar tudo”, admite. Depois de um período afastada do namorado, no entanto, a jornalista percebeu que não tinha mais o que investir na relação, já que não estava apaixonada. “Ter pedido um tempo foi proveitoso para isso, para eu ter certeza de que não estava dando certo e de que eu estava feliz sozinha. Me mostrou que tinha chegado a hora de eu pensar mais em mim, seguir o meu caminho”, afirma. E hoje, garante, os dois estão tranqüilos. “Ele me pediu para não fechar as portas para ele. Mas, vamos levando a vida como amigos”, diz.
Parcialmente nublado
Já para Helena Moreira*, advogada, o tempo fechou. “Na maioria das vezes, a pessoa que pede um tempo está querendo cair fora de fininho. Comigo não foi diferente. Depois de oito anos de namoro, meu ex queria me dar um pé na bunda mesmo, mas sem ficar com tanto peso na consciência. Ele disse que estava se sentindo preso, mas queria é deixar um vínculo para trás, um colo para o qual correr”, revolta-se. “O.K., eu dei o tempo, mas falei que seria para os dois, porque eu sabia que ele não ia ficar só meditando, já conhecia a figura. Galinha, sabe?”, conta. E, se o folgado achou que Helena ia ficar amargando à sua espera, ledo engano. “Comecei a namorar outro rapaz, aí ele surtou”, ri a advogada, que voltou a namorar o ex depois de três meses de insistência. “Mas não pedi tempo para o outro não! Fiz questão de terminar, sem enrolação”, diz.
A publicitária Fernanda Dias* também soube dar o troco direitinho. Pudera! Ela ouviu não só um, mas dois pedidos de tempo do namorado. Da primeira vez, sentiu que ele estava estranho e escreveu uma carta enorme falando tudo o que pensava da relação, de como as coisas eram antes e por que achava que tinham mudado. “Na carta, eu falava que talvez um tempo fosse a melhor solução, mas, no fundo, eu queria que ele negasse e falasse que estava desesperadamente apaixonado e que não era nada disso. Só que ele concordou e demos o tal tempo”, conta. “Foi um horror! Pedi para voltar, para tentarmos ajeitar as coisas juntos… Não deu muito certo, ele acabou dizendo que achava estar gostando de outra pessoa. Tivemos, então, uma discussão horrível, ele gastou um rolo de papel higiênico inteiro chorando. Aí disse que, quando percebeu que tinha me perdido, se deu conta de que ainda me amava. Ele insistiu na reconciliação, mandou flores, aí voltamos”, conta.
Mas a confusão não foi o suficiente para colocar um fim nos problemas do casal. Tanto é que eles precisaram de um segundo round. O segundo tempo aconteceu mais de um ano depois do primeiro. Segundo Fernanda, não foi nem exatamente um tempo. “Tivemos uma discussão sobre um assunto bobo e, no dia seguinte, o Carlos* pediu um tempo. Retruquei dizendo que preferia terminar, aí ele disse que não era bem isso que queria. Mas eu não ia ficar ali em stand-by, como da outra vez, e disse isso ao Carlos. Além do mais, eu também não tinha mais certeza do que eu queria”, conta. “Ele ainda me perguntou se, caso terminássemos, eu voltaria com ele depois. Disse que não tinha como responder. Terminamos”, completa.
E foi muito bom para a publicitária, que pôde “reatar” com as amigas, deixadas de lado na época do namoro. Além disso, foi um período precioso para Fernanda redescobrir coisas de que ela gostava, mas que deixou de fazer por causa do namorado. “Ele não gosta, por exemplo, de unhas escuras, entretanto eu adoro pintá-las de vermelho. Nunca pintava por causa dele. Quando demos esse tempo, ou ´tempo-término´, voltei a fazer coisas pequenas, bobas, mas que havia deixado de fazer. Acho que redescobri a minha individualidade”, comemora. Numa das saídas com as amigas, Fernanda chegou a ficar com um rapaz. Ela conta, aliás, que se forçou a isso, porque queria se sentir livre do namorado. “Foi bom, porque me senti um pouco mais dona de mim mesma, menos pertencente a ele”, diz. O “ex” ficou péssimo quando soube da notícia e, tremendo na base, pediu para voltar.
Quando as nuvens se dispersam
“Incrível como essas coisas mexem com a cabeça de um homem! Quando ele disse que me queria de volta, fiquei realmente na dúvida, porque estava gostando da minha nova vida de solteira, dessa fase legal com as minhas amiga depois de três anos sem vê-las direito”, lembra. Então foi a vez dela colocar as cartas na mesa e ditar as regras do que queria dali por diante. “Fomos ficando, porque eu não queria voltar a namorar. Mas, quando se tem muita intimidade com uma pessoa, ficar nunca é só ficar. Acabei assumindo que era namoro de novo e, sem dúvidas, fica muito melhor depois de terminar, porque é reiniciar a relação, com um novo gás”, acredita Fernanda. Nada desse lenga-lenga de “tempo”. “Hoje em dia, não acredito mais em dar ou pedir um tempo, porque isso deixa a outra pessoa na reserva, o que não é legal. Você fica desesperada, angustiada, ansiosa por um veredicto que não sabe quando chega”, diz.
Renato Martins*, programador, concorda e acha que tempo é uma coisa muito subjetiva. “Digo que tive um tempo no meu relacionamento porque só ficamos quatro dias separados, mas também considero um término. Ou você está com a pessoa ou não está. Porque tempo também deixa a situação muito aberta… Quais são os limites? Você pode ficar com outras pessoas? No meu caso, não aconteceu, mas eu teria que arcar com as conseqüências se a minha namorada tivesse feito isso”, pondera.
No entanto, uma coisa é certa. A publicitária Fernanda Dias afirma que, dando um tempo ou não, terminando ou não, é essencial o casal ter um momento para cada um ficar sozinho. “Depois de muito tempo com uma pessoa, acabamos confundindo nossos gostos com os dela e esquecemos das coisas de que realmente gostamos e fazemos sozinhas. Por isso, acho importante ter momentos de individualidade para se reencontrar, voltar a se ver como uma pessoa, e não apenas como um casal”, frisa.
Múltiplas previsões
Na verdade, dar um tempo pode ter inúmeros significados, que vão desde incerteza, insegurança, medo de ficar sozinho ou pode até mesmo acontecer numa relação onde ambos estão em sintonias diferentes – um menos apaixonado e o outro, mais. “O ser humano é regido pelo princípio do prazer, como já dizia Freud. Então, quando o saldo da relação está pendendo de um dos lados, alguém pode levantar o dedo e pedir um tempo técnico”, explica o psiquiatra Leonardo Gama Filho.
Entretanto, o importante no tempo é que ele seja um momento de reavaliação da vida a dois. “Ambos devem entender porque o tempo está sendo dado, até para tentar mudar alguma coisa individualmente e em conjunto. Afinal, um, sozinho, não muda nada na relação. O trabalho é em dupla e, para isso, deve haver transparência. Nenhum namoro ou casamento vai longe se não houver sinceridade”, afirma o psicólogo Antonio Carlos Amador.
Além disso, quando um não quer, dois não brigam. “Se pediram um tempo para você, não fique na paranóia. Você pode recusá-lo se achar que não vale a pena e propor algo diferente ou então aceitar e aproveitar o período para você mesma colocar ordem nas suas idéias. Quando saímos do foco de algum problema, vemos as coisas com mais clareza. Mas atenção, é desfocar e não fugir do problema”, aconselha o psicólogo.
De nada adianta, também, ficar num “vai e volta” eterno, numa relação cheia de tempos. “Alguém já viu um time de vôlei, por exemplo, ganhar o jogo depois de inúmeros tempos técnicos? Não existe. Se o casal não se acerta de primeira, de segunda, também não pode ficar recorrendo a dez tempos no relacionamento. Isso indica que algo está muito errado e que talvez não seja para dar certo mesmo”, avisa o psiquiatra Leonardo Filho.
De acordo com a personal coach Jael Coaracy, autora do livro “Vai dar certo” (Editora Best Seller), as perguntas-chave para o casal se colocar quando as coisas não vão bem são: “Queremos mesmo ficar juntos? Existe amor, vontade de investir?”. “Se precisarem de um tempo, tenham em mente que ele não precisa ter cara de término. Você pode tirar um final de semana com as amigas, fazer uma viagem sozinha. Tudo vai depender de como você conversa com o seu parceiro, de como você expõe a situação”, diz. “É preciso pedir um tempo para você mesma e não para a relação. Pode apostar que essa é uma necessidade do seu parceiro também”, garante Antonio Carlos Amador. Afinal, quem não precisa de umas férias de tudo e de todos de vez em quando?
* os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados