Quando se fala em amor, todo mundo pensa logo em momentos mágicos, repletos de romantismo e paixão. Mas, na prática, não é bem assim que as coisas acontecem. Por melhor que seja o relacionamento de um casal, pequenas brigas sempre vão aparecer. E até mesmo eventuais separações. Mas há quem passe por cima dos desaforos e acredite numa segunda chance. Aí, são só beijinhos, abraços e carinhos. Até a próxima briga, é claro. Relacionamentos esquizofrênicos não são lá muito bem compreendidos, mas, na prática, não é que eles podem dar certo?
Mônica Bitencourt, 26 anos, namorou Carlos durante quase seis anos até perceber que o relacionamento não dava certo. “Eu era muito imatura e, para complicar, a ex-namorada dele havia morrido e deixado um filho. Por isso, eu achava que ele não me correspondia e ficava insegura”, conta. Apesar de gostar muito do namorado, foi ela quem tomou a iniciativa de terminar a relação. “Sofri muito. Tudo me lembrava ele. Cheguei a precisar de Lexotan para dormir”, lembra. Mas qual não foi a surpresa de Mônica ao saber que, um mês após terem terminado, ele já estava namorando? “Era uma conhecida nossa!”, recorda. O tal namoro durou dois anos, mas durante todo este tempo Carlos continuava ligando para Mônica e os dois chegaram a sair algumas vezes. Numa destas saídas, ela resolveu tentar uma reaproximação. “Perguntei se ele ainda gostava de mim e ele disse que não sabia se valia a pena voltar”, relembra.
Apesar da frieza da resposta, Carlos não demorou a ceder. “Estava na casa de praia da irmã dele, que era uma grande amiga minha, quando ele apareceu dizendo que tinha terminado com a namorada”, conta. Não é difícil prever o que aconteceu depois. Para Mônica, o grande problema do seu primeiro relacionamento com Carlos era a intensidade do que sentiam. “Nenhum relacionamento dá certo quando um gosta mais do que o outro”, garante. Apesar das reviravoltas, Mônica acredita que tudo aconteceu da melhor forma. “Acho que esse intervalo de dois anos foi ótimo para mim e para que nós pudéssemos amadurecer. Agora ele me respeita mais. Sinto que nossa relação está muito melhor e estamos até juntando dinheiro para casar”, comemora.
Até quando é possível dar uma segunda chance à relação? Para Letícia Araújo, 23 anos, brigas só servem para enfraquecer o relacionamento. Apesar de ter consciência do desgaste, ela e seu namorado conseguiram a proeza de terminar a relação quatro vezes no período de cinco dias. Em todas as ocasiões, foi ele quem propôs o ponto final no romance, que já completa dois meses, apesar dos mal entendidos. O motivo das brigas é o horário de trabalho de Pedro. “Ele sai muito tarde do trabalho e, por isso, só pega o final da festa. Meus amigos vão para minha casa e ficamos de papo, tomando cerveja. Quando ele chega, por volta de meia-noite, estou morrendo de sono”, reclama. O casal acaba brigando porque a incompatibilidade de horários faz com que Pedro sinta ciúmes da atenção que Letícia dá aos amigos. Mas por quê, então, o relacionamento não acaba de vez? Letícia explica que existe um sentimento muito forte entre os dois e argumenta que brigar faz parte de qualquer relacionamento saudável. A dificuldade é identificar quando deixa de ser saudável e entra no campo da loucura.
Quando um casal discute, os motivos variam do mais trivial ao mais relevante. Mas independente de qual seja, o motivo da briga pode prejudicar o relacionamento e se tornar uma arma poderosa para a discussão seguinte. Que o diga a advogada Luciana Marinho, 28 anos, há três namorando o também advogado Júlio Magalhães, 31. “O que eu não admiti foi quando ele jogou na minha cara erros que cometi no passado”, queixa-se Luciana, que ao terminar o namoro foi buscar refúgio na casa da mãe. “Não acreditava que fôssemos voltar, mas bastaram algumas semanas longe dele para perceber que não dava para agüentar. Eu tive que perdoar”, conta. Depois de passarem um mês sem trocar palavras, os dois resolveram sair para conversar e bastou uma troca de olhares para a irresistível vontade de tentar de novo aparecer.
Júlio se diz apaixonado pela namorada e muito arrependido da briga que tiveram, mas acha que foi um ótimo momento de reflexão para os dois e fundamental para que tivesse certeza do que sente por Luciana. “Foi a prova de fogo. Depois daquela separação, nosso relacionamento ficou muito melhor”, analisa. Mas se, para alguns, dar um tempo pode funcionar para confirmação do amor, para outros pode ser a gota d’água. O DJ Gabriel Penna, 22 anos, viveu um relacionamento cheio de altos e baixos durante sete meses. “Perdi a conta de quantas vezes terminamos”, diverte-se. Sua namorada era muito ciumenta. “Por causa da insegurança e da desconfiança, ela não permitia que eu tivesse uma vida social normal”, reclama Gabriel, que mesmo tendo dado fim ao relacionamento há 5 meses, admite não saber se existe volta: “De todas as vezes que brigamos, eu não acreditava que poderia haver conciliação, mas agora acho mais difícil porque ela não está disposta a mudar”, conclui.
Mas o que faz com que um casal acabe brincando de iô-iô com a própria relação? A psicóloga Lilian Stephan analisa a instabilidade como uma característica própria de relacionamentos entre pessoas mais novas. “Os jovens costumam ser impacientes ao lidar com problemas e qualquer coisa se torna motivo para separar”, explica Lilian. Mas a produtora Renata Alves, 21, que em seis meses de namoro já separou e voltou inúmeras vezes, se defende: “Eu não quero ter um casamento frustrado como os de hoje em dia. Por isso, acho fundamental discutir e deixar tudo sempre muito claro entre nós. Não quero deixar os problemas se acumularem sem solução, por isso nos separamos com freqüência”, revela.
Se para voltar atrás num namoro é preciso muita disposição e grande capacidade de perdoar, imagine num casamento. Nesse caso, em que o fator rotina é mais uma má influência, depois que um compromisso foi firmado, deixar a tampa da privada levantada não pode mais ser encarado como estopim para o divórcio. “Casamento é uma coisa muito difícil”, afirma Lilian Stephan. A psicóloga, que trata diariamente de casais insatisfeitos com a vida a dois, sabe como é difícil encarar uma crise quando não se pode, simplesmente, dar um tempo. Morando debaixo do mesmo teto, os problemas ficam mais aparentes e o romantismo logo desaparece. “Muitos casais se separam, mas logo depois estão saindo para jantar, viajar e, quando percebem, estão juntos novamente e satisfeitos. Descobrem que o bom é namorar”, conta Lilian.
Depois de muitos anos escutando desabafos, a psicóloga vê inúmeros motivos para se terminar um relacionamento, mas o mais assustador deles continua sendo o machismo masculino: “As mulheres estão trabalhando fora e tomando posições até mais importantes que a de seus maridos. Muitos homens não conseguem acompanhar estas mudanças e se sentem ameaçados”, explica. Um outro motivo é a incerteza: “As vezes se vai em busca outras experiências, mas no final percebe-se que apesar do velho ter problemas, tem muitas coisas boas também”, brinca.
Apesar de todas as dificuldades, Lilian acredita que tudo tem jeito se o relacionamento é valorizado e os dois têm capacidade de perdoar. Pois bem: separou? Que tal apagar tudo e recomeçar? Deixe o rancor de lado e se permita ser feliz ao lado de quem você ama… pelo menos por enquanto.
Agradecimentos:
Lilian Stephan – psicóloga
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