Apaixonada por trânsito, ex-motorista de ônibus ajuda mulheres com medo de dirigir

São oito horas da manhã e ela já está devidamente uniformizada: camiseta branca, legging e maquiagem cor de rosa. Com um “bom dia” animado, Dayane Ribeiro coloca o cinto de segurança e assume o volante com a habilidade de quem vive no trânsito. Aos 29 anos, ela é instrutora em uma autoescola voltada para as mulheres que têm medo de dirigir.

Leia também:
Celebridades que venceram o medo de dirigir: saiba quem são
Como funciona o treinamento para habilitados? Fizemos a aula
Medo de dirigir: histórias reais de mulheres que conseguiram superar

Dá, como gosta de ser chamada, está no ramo há menos de um ano, mas sua relação com pessoas e veículos vêm de longa data. “Fui motorista de ônibus durante quatro anos e esse sempre foi o meu sonho. Gosto muito de carros grandes, olhava os ônibus e pensava ‘que coisa linda! Meu pai era taxista, acho que minha vontade vem de lá”, afirma.

As duas profissões têm em comum o que ela mais gosta de fazer na vida: dirigir. “Para mim é prazeroso olhar no retrovisor e ver um monte de janela. Dirigir me desestressa. Quando trabalhava com ônibus, gostava até do cheiro de diesel que ficava no cabelo”.

Em 2013, ela trocou os ônibus da linha Santa Cruz/Jardim Ângela, uma das mais movimentadas de São Paulo, pelos carros cor de rosa do centro de treinamento Mulheres no Trânsito. Se antes ela cruzava a cidade no meio do trânsito caótico, hoje pisa no freio para ajudar outras pessoas. “Mulheres de todas as idades nos procuram com perfis e histórias diferentes. Em comum, elas têm o excesso cuidado e preocupação”, afirma.

Medo de dirigir

Sobre esse medo tão comum entre as mulheres, a instrutora fala com conhecimento de causa. “Eu tinha muita insegurança no começo. Fui fazer as aulas para pegar a habilitação D morrendo de medo, mas fui. Esse era o meu sonho. Acho que virei instrutora para ensinar aquilo que aprendi”, diz.

O principal conselho dela é usar o medo ao seu favor. “Tem medo de o carro voltar na subida? Então coloca em prática tudo o que eu te ensinei para não correr o risco de isso acontecer. Transforme o medo em dupla atenção. Não esquece que isso é uma máquina e ela só faz o que você mandar”, diz para a aluna que entra em pânico quando vê uma ladeira.

Para ela a melhor coisa de ser instrutora de autoescola é contribuir para o crescimento de cada um. “É gratificante ver as pessoas colocarem em prática o que você ensina. Uma das minhas alunas é a dona Dalva, de 68 anos. O marido ficou doente e não pode mais dirigir, agora ela tem que se virar. E está indo superbem”, afirma.

Se o assunto é preconceito, ela tem histórias para contar. “Quando trabalhava no terminal, os outros motoristas deixavam uma vaga bem apertada para eu estacionar meu ônibus e ficavam só olhando. Eu arrumava o cabelo, passava batom e colocava de primeira”, lembra.

Apesar de sofrer com as piadinhas dos homens, Dayane diz que as mulheres costumam ser mais machistas do que eles. “Algumas voltavam para o ponto quando viam que era eu quem estava dirigindo. Depois que você mostra que veio para ficar, os homens passam a te respeitar e te tratam como uma colega, mas as mulheres ainda resistem”.

O próximo passo na carreira de Dayane é a faculdade de gestão de transportes terrestres, que começa no próximo semestre. Tudo para ficar mais perto do que realmente gosta e ajudar cada vez mais pessoas.