A atriz Roberta Rodrigues, que viveu uma ninfomaníaca na novela “A Regra do Jogo”, da Rede Globo, revelou que conhece bem esta realidade também fora das telas. “Sou bem compulsiva por sexo e isso me consome bastante, mas não chego a sofrer. Toda vez que chego ao extremo, paro”, admitiu, em entrevista à revista Época.
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O quadro descrito pela artista, no entanto, difere um pouco do conceito de ninfomania, que, segundo o psicólogo clínico Samir A. Mourad, da Equilybra Clínica de Psicologia, é caracterizada pelo desejo sexual intenso associado à falta de controle.
“A ninfomania tem um diagnóstico difícil, é preciso olhar diversos aspectos e ouvir vários relatos. No entanto, quando a atriz diz que não há sofrimento, podemos presumir que não há compulsão”, descreve.
O que é ninfomania
A condição é considerada um transtorno compulsivo de origem sexual, ou um vício, e também pode ser descrita como Desejo Sexual Hiperativo (DSH) ou hipersexualidade. A terminologia é utilizada exclusivamente para pacientes do sexo feminino; no caso dos homens, utiliza-se o termo satiríase.
“A mulher ninfomaníaca não pratica a masturbação ou sexo por prazer, mas sim porque é viciada. Ela não consegue ter saciedade, então está sempre buscando o sexo de forma contínua, como se nunca estivesse satisfeita”, descreve o profissional.

Segundo ele, não necessariamente a paciente tem orgasmos ou mesmo sente prazer nas relações. “O clímax, para ela, pode ser simplesmente conseguir realizar a vontade de fazer sexo”, afirma.
A mulher percebe que há um problema quando isso começa a trazer algum prejuízo para ela, que pode ser social (é taxada pelos outros como “vagabunda”), profissional (não consegue se concentrar no trabalho, precisa se masturbar constantemente) e outros. Mesmo tendo diversidade, ela continua buscando o sexo e nunca fica satisfeita.
Falta de controle e culpa
A hipersexualidade gera uma angústia muito grande, que é aliviada momentaneamente através do sexo. Sem poder de controle sobre sua compulsão e ansiosa, a mulher sente a necessidade de saciar seu vício imediatamente. Para isso, é possível que se exponha exageradamente na busca por um parceiro ou que escolha o parceiro sem critério algum.
“A busca pelo prazer é tão grande que ela acaba tendo momentos irracionais. É como um adicto que precisa satisfazer seu desejo pela droga: ele irá compartilhar uma agulha sem pensar nas consequências”, compara Samir. Este comportamento leva a paciente a sentir culpa após o ato, tanto por não ter conseguido se controlar como por ter se colocado em perigo ou exposição desnecessária.
Além dos prejuízos morais, a paciente também põe a própria saúde em risco, já que, na ânsia pelo sexo, dificilmente tem consciência de usar preservativo. Pode, inclusive, sofrer lesões na região genital devido à masturbação ou penetração muito frequentes.
O psicólogo explica que a paciente ainda sofre com um conflito moral, uma vez que a cultura da sociedade recrimina a mulher que faz sexo. Este pensamento geralmente está internalizado em seu próprio subconsciente, o que a leva a condenar-se pelo ato. Esta é uma diferença social importante entre a hipersexualidade no homem e na mulher, já que, no caso masculino, o sexo é estimulado e “visto com bons olhos”.
O que causa?
A ninfomania pode se manifestar em qualquer fase da vida da paciente, acompanhada ou não de outros comportamentos compulsivos (com relação a comida ou drogas, por exemplo). O transtorno não tem causa biológica conhecida, ou seja, a medicina não consegue determinar um sintoma físico da ninfomania.
É um problema, portanto, de ordem psicológica, que pode ser desencadeado por inúmeros fatores, como carência, falta de afeto, relação pouco sadia com os pais, decepção amorosa, etc. O histórico de repressão é importante e recorrente nos casos de ninfomania.
“Pode ser que a mulher tenha sido estimulada sexualmente na infância, por meio de propagandas de cunho erótico, músicas, fotos na internet, etc., o que a leva a crescer pensando que a sexualidade não é algo prazeroso, mas sim que a inclui socialmente. Porém, quando ela se torna adulta, ocorre o oposto: o sexo é taxado como algo sujo e errado para ela, e a mulher é reprimida. Então, ela o usa como uma forma de compensação”, elucida o especialista, alegando que o mesmo pode ocorrer com meninas que tiveram uma criação muito rígida ou religiosa, que proíbe o sexo.

Tratamento
Como ocorre frequentemente nos quadros de vício, reconhecer o problema é uma das maiores dificuldades. “Geralmente, a mulher que sofre de hipersexualidade tem muita vergonha de falar sobre isso. Por isso, é importante criar um ambiente de acolhimento, para que ela possa entrar em contato com essa compulsão”, explica Samir. “A partir daí, averiguamos o que está por trás deste comportamento, ou seja, o que ela está, de fato, buscando”, completa.
Concomitantemente ao tratamento psicológico, pode haver administração de medicamentos para controlar a ansiedade, bem como acompanhamento ginecológico para tratar e prevenir eventuais danos físicos. “É possível que, com a terapia, a mulher leve uma vida normal, mas, como qualquer dependente, ela terá de se controlar pelo resto da vida. É como um paciente em abstinência”, esclarece o especialista.