Brinquedinho de mulher

Mulheres à beira de um ataque de nervos sempre escutam gracinhas como “você tá precisando de um vibrador” e similares. No entanto, o movimento nos sex shops vem provando que, mais do que uma válvula de escape nos momentos de pressão, o vibrador se tornou um acessório fundamental no universo feminino, seja na prática ou mesmo em sonhos. Protagonista de muitas fantasias daquelas que se fazem de rogadas, o vibrador é o companheiro quase inseparável de mulheres que deixaram o preconceito de lado e resolveram dar vazão à máxima de Woody Allen de que ‘masturbar-se é fazer sexo com alguém que você ama’.

E ele não é nenhuma novidade. Lá pelo final do século XIX, alguns médicos, para aliviar os sintomas de doenças sem identificação nas suas pacientes, faziam uma estimulação clitoriana à mão. No entanto, apesar do sucesso, o tratamento era um pouco exaustivo, já que as sessões podiam durar quase um dia inteiro. Foi aí que surgiu o vibrador, que acelerou o processo, levando as pacientes a sensações mais intensas e resolvendo o “problema” em apenas dez minutos. Só por volta do anos 20 que os médicos abandonaram o uso do aparelho em consultórios, depois que ele começou a aparecer em filmes pornôs. Isso acabou dificultando a camuflagem do fato de que o vibrador era, na verdade, um dispositivo de uso genital. No final dos anos 60, quando estudos revelaram a importância do orgasmo pela estimulação direta no clitóris, o vibrador se popularizou como um aparelho sexual fundamental para a mulher.

No Brasil, devido a preconceitos e ao forte controle da censura, principalmente pela dominação religiosa, o fato foi escondido e as pessoas não tiveram acesso a tais informações, o que gerou uma imagem muito perversa deste inofensivo acessório feminino. Por isso, na hora de comprá-lo, pode surgir um certo constrangimento, como aconteceu com a bailarina Monica Gama. “Pedi para uma amiga que já tinha um, se poderia ir comigo até a loja. Quando entrei e vi aquela  enorme variedade de tamanhos, cores e funções, a timidez passou rapidinho. Foi a coisa mais divertida que fiz nos últimos tempos, rimos à beça”, conta.

Escolhido o brinquedo, Monica viu que a diversão estava apenas começando. “Levei pra casa e adorei. Tê-lo sempre à mão dá uma enorme sensação de liberdade”, comenta. A modelo Cristina Barros também se apegou tanto que tem dois para não ficar de mãos abanando no caso de perder um deles. “Eu viajo muito e não me separo dele. Para onde vou carrego ele na minha nécessaire”, confessa.

Segundo a vendedora Alessandra Leal, do sex shop carioca A2, o objeto traz mesmo tanta alegria que ela já nem se surpreende mais quando alguma cliente a pára na rua para agradecer. Diferente do consolo, que não treme, o vibrador dá pilha às fantasias sexuais femininas. “São vários os formatos, tamanhos e cores. O mais vendido é o chamado ‘serviço completo’, que tem estimulador clitoriano e massageador interno”, conta. Mas, como fator discrição é preponderante para algumas mulheres, o site inglês www.gash.co.uk especializou-se em vibradores com formatos inusitados para atender às necessidades das clientes com esta exigência, sobretudo para carregá-los na bolsa. Os maiores sucessos são o em formato de batom e o com design futurista que, aliás, nada se assemelha ao membro que inspirou o aparelho originalmente.

Mas o uso do vibrador não está restrito apenas a atividades solitárias. Já são muitos os casais que contam com a sua presença – mesmo que controvertida –
na cama. “Compramos um juntos no nosso primeiro ano de namoro. Curto vê-la usando, mas só respeitamos uma regra na hora de comprar: não poderia ser maior que o protagonista, o meu, claro”, diverte-se o empresário Carlos Freitas. A maioria dos homens, no entanto, vê o vibrador como um rival e se sente ofendida com a simples menção de sua existência. “Minha mulher não precisa dessas coisas, dou conta do recado sozinho’’, acredita o fisoterapeuta Luis Câmara. Sobre isso, o escritor Fernando Bonassai, da coluna “Macho”, da Folha de São Paulo, escreveu em seu livro “As Melhores Vibrações” que o melhor é não competir. ‘’É preciso mostrar a diferença entre carne de primeira e espuma de polietileno. Faça o melhor uso possível do que não se compra em loja. Não perca tempo!”, recomenda.

Só que os homens podem dormir tranqüilos. Afinal de contas, por incrível que pareça, é mais fácil conversar com eles do que com um vibrador. No entanto, sempre existem aqueles que merecem ser substituídos. Foi justamente por isto que a advogada Celina Peixoto decidiu comprar um vibrador. “Namorava um cara devagar quase parando e, para não traí-lo, resolvi buscar uma alternativa de sexo solitário”, confessa. Depois de dois meses de uso intenso do novo briquedinho, o namoro acabou. Sinal dos tempos.