Logo no primeiro capítulo da novela Babilônia uma cena chamou a atenção: o beijo do casal de lésbicas formado pelas atrizes Fernanda Montenegro e Natália Timberg, ambas de 85 anos. Ao contrário de outras novelas, em que o público precisava esperar até o final da história para saber se o beijo entre personagens homossexuais iria ou não acontecer, desta vez o assunto está sendo tratado com mais naturalidade pelo autor Gilberto Braga. Mas nem todo mundo aprovou as cenas.
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Boicote à novela Babilônia
Os deputados da Bancada Evangélica divulgaram uma nota de repúdio e convocaram um boicote à novela. “Há clara intenção de afrontar os cristãos em suas convicções e princípios, querendo trazer, de forma impositiva, para quase toda a sociedade brasileira, o modismo denominado por eles de ‘outra forma de amar’, contrariando nossos costumes e tradições”, diz um trecho da nota.
Em publicações em seus perfis na Internet, outros deputados chegaram a classificar a trama como uma apologia ao mal, produzida para destruir famílias, ou uma ameaça com cara de diversão. A campanha é para que o público evangélico pare de assistir à novela.
Causa LGBT comemora
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Para os militantes da causa LGBT, a naturalidade com que a novela vem tratando o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo já é uma vitória. Segundo o psicólogo Klecius Borges, autor do livro “Muito além do arco-íris – Amor, sexo e relacionamentos na terapia homoafetiva” (Edições GLS), as personagens de Babilônia colocarão alguma luz sobre as dificuldades e os conflitos que muitas mulheres enfrentam ao se assumirem publicamente como casal.
“O que falta para esse público é informação, já que são raras as referências ou representações sobre a natureza dessas relações. A novela irá apresentar aos muitos casais, que vivem invisíveis e amedrontados, e também à sociedade, de forma geral, um espelho positivo e potencialmente muito libertador”, afirma.
Acostumado a lidar com experiências de indivíduos e casais submetidos a uma cultura heteronormativa e muitas vezes opressora e dominada, ainda hoje, por práticas e atitudes fortemente discriminatórias, ele ressalta a importância da autoaceitação, visibilidade social, homofobia e preconceito e defende que a novela abre caminho para a autorreflexão e a transposição de barreiras na busca de uma vida mais equilibrada e feliz.
Casamento e adoção por homossexuais
Enquanto a polêmica é debatida, as leis brasileiras têm cada vez mais dado abertura aos direitos dos homosexuais. O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu recentemente a adoção de crianças por um casal gay. A decisão da ministra Carmen Lúcia foi baseada na ação que liberou a união homoafetiva em 2011. “A Constituição Federal não distingue entre a família que se forma por sujeitos heteroafetivos e a que se constitui por pessoas de inclinação homoafetiva”, concluiu, na época, o ministro Carlos Ayres.