Casamento nunca mais

Umas dizem que é por causa dos filhos, outras porque já tiveram uma experiência e alegam que erro não é pra ser repetido e há um terceiro grupo que já passou por isso tantas vezes que não agüenta mais. Os motivos são diferentes, mas a conclusão de todas elas é igual: casamento nunca mais. Muitas mulheres que já passaram pelo altar dizem veementemente que jamais colocarão os pés em um de novo. Ou, como diz a engenheira Marly Mello: “Casamento? Só se for na próxima encarnação!”

A advogada Katerine Kitsos, 30 anos, é uma delas. A experiência do casamento que durou apenas três anos, é suficiente para que ela afirme, categoricamente, que não quer passar por este tipo de suplício de novo. “Casei muito nova, com apenas 21 anos. Tive dois filhos e me separei aos 24. Casamento? Nem pensar! Eu trabalho demais e o tempo que sobra pra mim é mínimo. Particularmente, eu descobri que posso ser feliz sem ter que dividir os lençóis da minha cama com um homem. Na verdade, acho que é muito mais fácil ser feliz desta forma, sem ter que ficar, obrigatoriamente, agradando alguém, levantando no meio da noite para buscar um copo de água, fazer café da manhã, estas coisas”.

“O pior castigo que eu poderia ter é um novo casamento”, afirma a arquiteta Solange Castro, 56 anos. “Meu casamento durou quatro anos e não deu certo. Quando me separei eu estava com um filho pequeno e tive que criá-lo com muita dificuldade. Depois que terminei meu casamento, tive um namoro que durou 16 anos, mas nunca moramos juntos. O máximo a que chegamos foi alugar uma casa no Recreio dos Bandeirantes para passarmos os finais de semana. Nem assim deu certo. Descobri que ele era muito estressado e eu confesso que também sou. Eu não quero casar de novo porque, na idade em que eu estou, eu quero é liberdade e não ter que assistir a jogos de futebol nos domingos à tarde”, diverte-se Solange.

A contadora Aparecida Cavalcanti, 47 anos, engrossa o coro das desiludidas. Depois de um casamento que durou 10 anos e teve saldo de três filhos ela garante: “Na vida da gente uma experiência ruim já é mais do que suficiente! O grande problema é que casar é muito fácil, mas descasar é que é complicado. Brigas, definir e convencer o ex a pagar pensão, os filhos que demoram a se acostumar à nova situação, o processo de divórcio…” O divórcio também é o fantasma da professora Sandra Tavares, 35 anos. Depois de 10 anos de casada, ela não quer casar porque ainda não conseguiu se desvencilhar dos laços que a prendem ao ex-marido. “Não consigo me divorciar! E o pior disso tudo é que o meu ex sumiu do mapa e dizem algumas pessoas que ele está morando no Uruguai, por isso, não consigo citá-lo na Justiça. Só de gastos judiciais eu teria que desembolsar mais de R$ 3 mil”, lamenta.

A brigada anti-casamento têm combatentes de todas as idades. A dona de casa Maria Silva Costa, 68 anos, também não quer casar mais. Motivo: cansou de enterrar marido. Viúva três vezes, ela conta: ” Meus casamentos nunca deram certo porque eles sempre morreram cedo e eu não agüento mais esta história de velório de marido. Fora as brincadeiras que as pessoas fazem me chamando de “viúva negra”. Quando minha afilhada se casou, na hora que ela atirou o buquê ele caiu certinho na minha mão. Ah, nem preciso dizer que todo mundo ficou rindo da minha cara, perguntando qual era a minha próxima vítima! É chato, mas eu acabo me divertindo com essa história. O que eu posso fazer”?

O psicólogo João Alberto Barreto tenta explicar: “O grande problema é que todas as pessoas, não necessariamente só as mulheres, têm tendência a levantar um grande muro de defesa quando um relacionamento não dá certo. Então é natural que algumas não queiram nunca mais passar por algum tipo de experiência que as tenham machucado. Esta informação fica guardada no subconsciente da pessoa e só o tempo e a vontade de ser feliz com alguém ao lado é capaz de removê-la, mas a pessoa tem que querer muito”, conclui.

A felicidade não está, necessariamente, na palavra casamento. Se uma primeira, ou segunda, ou terceira experiência não deram certo, não é por isso que vocês vão “ficar pra titia”. Soluções como morar em casas separadas podem ser uma excelente pedida. E talvez, daqui a alguns anos, você esteja tão feliz que este relacionamento poderá ser comparado ao de Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre que, apesar de morarem em casas separadas, se amaram até os seus últimos dias. Estaremos torcendo por vocês.