Irreverente, criativo. Nem artista, nem atleta. Simplesmente poeta. Assim é Chacal que, apesar ter o mesmo apelido do terrorista que assombrou o mundo nos anos 70, não se esconde atrás de máscaras e está sempre organizando e produzindo eventos relacionados à cultura. Seu dom para a poesia foi descoberto lendo Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. “Escrevo flashes do cotidiano, são poesias ‘kodak’, como dizia o Oswald de Andrade”, revela.
Em virtude da dificuldade de divulgar a sua obra, Chacal teve uma idéia inovadora e criativa: resolveu rodar suas poesias em um mimeógrafo e vendê-las pelos bares do Rio de Janeiro. Tal atitude o coloca como representante oficial da chamada “Geração Mimeógrafo”. “Não importam os meios com que você trabalha. Se você souber extrair daqueles meios uma coisa que te satisfaça esteticamente, aquilo pode ser muito poderoso”, garante.
Declaradamente tímido, Chacal admite que não é nada fácil viver de poesia no Brasil. “É difícil viver dela pura e exclusivamente porque o Brasil é um país de pouca leitura, as pessoas não têm o hábito de ler. Mas eu acho que você viver de poesia está muito além de viver simplesmente do teu poema. É, enfim, viver de uma forma criativa, criando espaços, não só para a poesia, mas também para outras artes, editando revistas, enfim, viver criativamente”, acredita. Talvez seja por isso que ele faça uma espécie diferente de poesia: a poesia fora do livro. “Eu sempre gostei muito de falar meus poemas. É como se a minha poesia se realizasse mais pela oralidade do que da palavra escrita”, afirma. Para estimular a capacidade criadora da nova geração, Chacal está à frente, há 11 anos, do projeto CEP 20000. “Esta turma está mais ligada à coisa da poesia marginal, que é o pessoal mais beat, mais do cotidiano, da sujeira dentro do poema, da performance, da poesia ao vivo, que é uma coisa muito importante”, comenta.
Rotulado pela imprensa não como um poeta, mas como um agitador cultural, Chacal não se incomoda. “Eu acho que sou mesmo um guerrilheiro cultural”, diz, sem falsa modéstia. Casado, segundo ele, por umas 500 vezes, ele vê com bons olhos o espaço que a mulher está conseguindo na nossa sociedade. “Eu acho que é justa a luta das mulheres. Elas foram massacradas durante muito tempo, subjugadas por uma cultura machista, uma cultura patriarcal, medieval, acho muito justa a luta das mulheres para se emanciparem desse jugo”, afirma. Como bom poeta, Chacal já fez poesias para elas. “Sempre existe uma mulher dentro de um poema, nem que seja a sua mãe”, brinca, às gargalhadas. Com 50 anos, ele encara com alegria “a idade do lobo” e, se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo. “Mas eu não seria ninguém sem os erros que eu cometi. Ter conseguido chegar aos 50 anos para mim é muito importante porque eu senti um upgrade na minha forma de trabalhar, nas coisas que acredito. Essa coisa meio informal, meio anárquica, irreverente e poética de ver a vida”, revela.