Antes de atravessar qualquer rua, a mãe sempre pega o filho pela mão, ensina que se deve atentar para os dois lados e cruzar só na faixa de pedestre após observar a sinalização. Com atitudes simples como essa é possível fazer uma imensa contribuição para a educação dos pequenos no trânsito. Orientar desde cedo um comportamento mais cidadão é fundamental, por isso saiba o que dizem especialistas sobre o papel da família, do governo e da escola nessa missão. Descubra também como você pode fazer a sua parte através de um guia com dez atitudes práticas para despertar o interesse das crianças no assunto.
Não são só sinais, placas, leis e multas que regem a vida no trânsito. ” A socialização, a obediência às regras, a solidariedade. Tudo isso é necessário para viver em harmonia nas ruas e avenidas”, diz Mariza Martins, coordenadora da Escola Pública de Trânsito do Detran-RS. Mariza está à frente de um projeto da instituição que forma professores multiplicadores do conhecimento na área: “A EPT forma esses mestres através de palestras e cursos de 20 horas. A intenção é que eles comecem suas próprias iniciativas de ensino em todas as cidades do estado. Oferecemos todo o material do curso para que passem adiante os métodos. Eles se comprometem em nos enviar relatórios com os resultados obtidos”, explica ela.
O coordenador geral de Educação no Trânsito do Detran-RJ, Jorge Moreno, faz um paralelo entre a função de seu departamento e o ensino escolar. “Na escola, toda criança é ensinada a respeitar a fila, dividir o brinquedo, esperar o outro falar. O nosso papel é transferir esse aprendizado para situações de trânsito”, resume. Além dos cursos de formação de professores e promoção de palestras, o Detran-RJ investe ainda num formato mais lúdico de ensino. “Para o projeto Sentido da Inclusão, voltado a crianças de 3 a 5 anos portadoras ou não de necessidades especiais, usamos um material divertido que passa as noções de trânsito a partir da movimentação de carros e pessoas numa minicidade”, conta.
A idade mínima para começar o processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é 18 anos. No entanto, o fato é que todos começam a ter contato com o trânsito já a partir da saída da maternidade. “Todos nós somos parte dele: seja como condutores, passageiros, ciclistas, pedestres ou motociclistas”, afirma Martins.
O respeito às normas de convivência no asfalto desde cedo pode contribuir decisivamente para maior cortesia no futuro. “O foco é criar uma nova mentalidade. Deve-se chegar à idade adulta com as noções corretas, consciente de que o trânsito é um ambiente social e não individual”, ressalta Moreno. Não basta apenas conhecer as normas e, sim, entendê-las e valorizá-las. “A sociedade só pode se organizar através de regras. Elas servem para você poder prever o comportamento alheio, e, assim, poder ditar o seu”, completa Mariza.
Trânsito na escola
Criar uma disciplina no currículo escolar, entretanto, não é a melhor saída na opinião de especialistas. “Isso só faria as crianças se preocuparem em passar nas provas. E o ensinamento deve ser para a vida toda”, pondera a coordenadora da EPT, que acrescenta: “Acredito que a escola pode contribuir ao incluir situações das ruas em matérias de matemática, português e geografia, por exemplo, pois a educação no trânsito é um tema multidisciplinar”.
GUIA PRÁTICO – 10 noções básicas de educação no trânsito para você mesma ensinar
1) Cada coisa em seu lugar: Ensine que a rua é o lugar dos carros e a calçada é onde devem ficar os pedestres.
2) Sinalização: As placas e semáforos são atrativos aos olhos das crianças. Explique o que significam através de uma linguagem simples, para que eles possam absorver.
3) Cinto de segurança: Apesar de ainda não serem condutores, os pequenos já fazem parte do trânsito e têm o seu papel. Explicar que é seu dever usar o cinto de segurança e trafegar dentro da cadeirinha ou da poltroninha é essencial para desenvolver a consciência de trânsito.
4) Comportamento no carro: Estar em um veículo não é sinônimo de estar em uma montanha russa. Hábitos como colocar mãos e braços para fora da janela devem ser repreendidos.
5) Lixo é no lixo: Especifique um local para destinar todo o lixo produzido dentro do carro. A consciência ambiental também faz parte do trânsito. Atenção aos pais fumantes: o hábito de jogar as guimbas pela janela é tão recorrente quanto prejudicial à consciência ambiental.
6) Respeito às leis de trânsito: O primeiro exemplo para os filhos é aquele que vem dos pais. Se o filho está acostumado a ver o pai desrespeitando a legislação, o motorista do futuro não dará a importância necessária às regras previstas.
7) Respeito às autoridades: Assim como as leis, as autoridades devem ser respeitadas perante os pequenos. Em caso de abordagem de alguma autoridade de trânsito, a conduta do pai será levada como exemplo para a conduta do filho no futuro.
8 ) O valor da autoescola: Introduzir os princípios básicos é uma tarefa que os pais devem auxiliar. No entanto, o ensino específico de direção deve ser feito pelas autoescolas. Tanto os pais quanto os filhos devem saber disso.
9) Responsabilidade: A ideia principal a ser passada é que o trânsito é um local de convívio social: cada um tem a sua responsabilidade sobre quem transporta e sobre os demais veículos no entorno.
10) Gentileza: O ambiente hostil do trânsito não deve ser refletido no comportamento. Desde cedo, os filhos precisam observar nos pais a capacidade de lidar bem com situações adversas no asfalto e a cordialidade nas disputas do espaço público das ruas.