O guarda-roupa lotado. Opções não faltam para todos os tipos de ocasiões. Mas chega na hora de sair de casa é aquele drama. Que tal aquela saia estampada nova com camisa lisa básica ? Hum, não ficou bom. Começa o desespero. Ah, já sei! Meu vestidinho branco novo. Mais uma olhada no espelho, vira para ver a bunda e… nem pensar! A hora vai passando, o namorado já está bufando e nada! Vou ligar para fulaninha para ela me ajudar. Vira, revira. Tira e bota. São mais de 50 modelitos em uma hora. Parece um treinamento para desfile de moda. Qual mulher não passa por isso ?
“Depende muito do meu astral. Mas o pior é quando estou me achando gorda. No banho já começo a pensar nas várias opções para vestir. Tenho dez modelos na cabeça e arrumo vinte desculpas para não usá-las. É horrível! Acabo sempre com o meu curinga. Aquele vestido preto básico que serve para qualquer ocasião e ainda emagrece. Pelo menos não sou de “alugar” minhas amigas com isso.”, declara a arquiteta Sheila Mattos, 27 anos, que tem um estilo básico de se vestir, procurando ter sempre no guarda-roupa peças neutras e sem modismos.
A vendedora Paula Oliveira, 25 anos, é dessas neuróticas típicas e assumidas. Sempre começa a se arrumar com a certeza da roupa que vai colocar, mas infalivelmente acaba experimentando todo o armário. “São várias mudanças. Coloco a mesma saia com 126 camisas diferentes. Todos os 1034 vestidos. Falo assim, no exagero, porque parece não ter fim a minha dúvida. Já deixei até de sair por causa disso.” Paula optou por trabalhar em loja masculina justamente por isso, “a mulherada enche o saco. Experimenta a loja toda e não leva nada. Ficam todas na frente do espelho falando: “essa me dá barriga, essa achata minha bunda, meu peito está amassado” e por aí vai.”
Ana Xavier, 45 anos é dona de casa e volta e meia é surpreendida pelo marido com jantares em cima da hora. “Ele sempre me avisa na noite anterior, se esquece que mulher é cheia de detalhes. Precisamos decidir a roupa, fazer unha, cabelo, maquiagem. Nada pra gente é assim tão simples quanto um terno.” Ana começa a bolar a roupa pela manhã enquanto vai providenciando o resto. Mas garante que só se preocupa quando tem algum evento, “no dia-a-dia sou básica, coloco qualquer coisa, não fico me neurotizando.” A opinião do marido e da filha, Aline, são muito bem vindas, “mas a Aline sempre reclama de alguma coisa, me acha cafona.”
“Estou passando por uma fase mais complicada. Não estou satisfeita com o meu corpo. Mas sei que isso é pura doença. As roupas são as mesmas, o que realmente muda é o meu estado de espírito. E sou muito baseada nisso.” diz Flavia Teixeira, 27 anos, compradora de uma rede de lojas surf wear. Flavia não tem um estilo, mas vários, “depende de como acordo”. Tem dias que ela está patricinha, em outros, totalmente guerreira. “Tenho um estilo pessoal. Gosto de roupa confortável e prática. Detesto ter que ficar me preocupando com decotes ou comprimentos de saias.” Mesmo sendo formada em moda não deixa de ouvir as opiniões da irmã e da mãe, “se estou mal e elas criticam mudo na hora. Mas se estou me sentindo bem, apenas arquivo.”
E eles ?
O consultor de empresas Raul Cunha, 32 anos, faz até deboche desse lenga-lenga feminino diante do armário. Diz ele que seu ritual imenso de preparo para o trabalho começa na dificuldade para despertar. De quinze a trinta minutos nisso. “Depois eu tomo coragem e entro no chuveiro. 15 minutos após, saio desesperado por que estou atrasado. Faço a barba meio correndinho, escovo os dentes, penteio o cabelo e começo a me trocar vendo TV (noticiário). Vou pra cozinha, pego uma fatia de pão-de-forma, coloco alguma coisa no meio e termino de me trocar mastigando. Saio à caça de chaves/carteira/cigarro/isqueiro/óculos/relógio/celular/caneta. Geralmente não acho alguma coisa. Nisso são 9:00 e o pânico já se instalou (me lembrei que tinha algum compromisso marcado para as 9:00). Falta dar o nó na gravata. Dou, e invariavelmente ela fica muito curta ou muito comprida. Penso “depois eu refaço isso”; repenso “putz, mas tem o fulano me esperando e é jeca aparecer com gravata comprida demais”. Refaço o nó. Pego o paletó e visto, coloco os troços nos lugares (óculos na cara, relógio no pulso, etc.) e… Voilá! Saio de casa! Detalhe: você percebeu que em nenhum momento eu tive dúvidas sobre o que vestir? Geralmente eu me visto com o que está mais à mão. A gravata é a única coisa que dá uma certa dúvida. Dura uns 2 segundos.”, brinca.
O web-designer Arnaldo Branco é outro que não entende muito desse “timing” feminino. Ele conta que no seu dia-a-dia tudo é simples. “Banho, barba (dia sim/dia não) me visto e rua (não tomo café). Minha namorada faz a mesma coisa, exceto barba. E, é claro, demora 30 minutos a mais no processo”. Perguntado sobre se tinha alguma história engraçada sobre a espera pela namorada ele reclama: “Só casos dramáticos. Não é muito engraçado esperar na chuva a menina, chegar atrasado no cinema e perder o filme.”.
Mas há quem goste, ou ao menos aproveite, esse ritual. Luciano Moraes, 29 anos, desenhista adora ver o histerismo da namorada. “Ela passa horas experimentando roupas. Vem até a mim e pergunta se gosto e mesmo quando acho maravilhoso ela troca. Mas levo para o lado bom, fico curtindo toda a sensualidade dela em se vestir, ou desfilar de calcinha e sutiã.” Gabriela, sua namorada, fica nesse ritual pelo menos uma hora e meia e geralmente termina com uma calça jeans e uma blusinha básica, “ainda bem que é só a roupa. Ela não gosta de se maquiar.”, entrega Luciano.
O consultor Daniel Pereira, 26 anos, como bom consultor, tem uma teoria para essa dificuldade. Ele acha as mulheres muito inseguras com o lado de fora delas e diz que elas estão sempre arrumando defeitos nunca vistos pelos homens. “São lindas e gostosas e se acham gordas. Cadê o marketing pessoal ? A maioria das mulheres experimenta uma roupa, fica indecisa. Experimenta mais cinco e acaba saindo com a primeira.”, comenta sabiamente e diz mais: “Está mais do que comprovado que a intuição feminina é eficiente. Então, sigam suas intuições e sucesso.”
Então, tá! Ou será apenas um truque masculino para não ter que ficar mofando horas enquanto espera sua mulher experimentar o armário inteiro ?
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