O Devedores Anônimos (DA) é um grupo de apoio e ajuda a pessoas oneomaníacas inspirado nos Alcóolicos Anônimos (AA). Ele existe no Brasil desde 1997 e tem participantes nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Ceará. Nas reuniões semanais, os DA trocam experiências e têm acesso a apostilas e literatura em geral sobre a doença. O grupo segue doze tradições, doze passos e doze promessas, baseados no programa de recuperação dos AA e de outras irmandades anônimas. As informações, inclusive sobre os passos e tradições, estão disponíveis no site. “O programa parte do princípio do espelhamento – você ouve a história do outro, compreende e se identifica. A literatura serve para entender o que está acontecendo e aprender a se controlar. E até hoje eu faço os exercícios diários”, afirma Erika, referindo-se à prática de anotar em um caderno todos os gastos do dia: “Tem que botar tudo no papel, cada coisinha que comprar, mesmo que custe centavos. Isso ajuda a pessoa a saber o que é gasto desnecessário, o que pode ser cortado etc. É difícil no início, mas vale a pena”, diz.
Deve haver um planejamento sobre o que realmente é necessário comprar. Dá para aproveitar roupas que estão no armário antes de pensar em gastar com novas. Aquelas mais antigas podem ser doadas
Ter controle vale muito
Para quem sofre com a doença, organização financeira é fundamental. Saber o quanto se ganha e o quanto se gasta, anotar os custos e fazer planilhas são atitudes que devem ser adotadas pelos oneomaníacos que querem sair das dívidas – e não voltarem mais a elas. André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas, indica que o primeiro passo para controlar as finanças é conhecer o orçamento doméstico: “A pessoa precisa saber quanto custa para se manter. Para começar, é bom gerenciar os gastos com os custos fixos, ou seja, despesas que têm que ser pagas, como luz, aluguel, telefone etc. Muita gente abusa do celular desnecessariamente ou desperdiça energia elétrica deixando lâmpadas acesas – tudo isso influi”, afirma.
As despesas pessoais, com vestuário, por exemplo, podem ser reduzidas mais drasticamente por serem menos importantes, mas também são mais sedutoras: “Deve haver um planejamento sobre o que realmente é necessário comprar. Dá para aproveitar roupas que estão no armário antes de pensar em gastar com novas. Aquelas mais antigas podem ser doadas”, recomenda André, enfatizando que viver de acordo com o que se ganha é a melhor maneira de viver bem. Ao comprar bens maiores, como carro, casa e reformas, o planejamento deve ser ainda mais cuidadoso: “Pesquisar preços e juntar dinheiro é o melhor a se fazer sempre. Fugir do financiamento também, pois constitui-se num gasto que vigorará por muito tempo. Além disso, é bom ter em mente o fator imprevisto. Reservar no mínimo 30% do salário garante tranqüilidade no caso de emergências e evita as dívidas”, explica ele.
Os cartões de crédito e o cheque especial são um perigo em potencial, assim como os empréstimos – de acordo com a pesquisa do Ibope Mídia, 11% dos consumidores já recorreram a eles no último ano. Não faltam bancos que oferecem vantagens e mais vantagens nestas formas de pagamento – lucrativas para eles, mas que podem virar um problema na vida de muitos consumidores. “Esses tipos de cartões e cheques criam uma ‘ilusão monetária’: você acha que o dinheiro é seu, mas não é”, diz o economista. Para os que já se endividaram, André sugere que o uso do cartão seja imediatamente interrompido, pois as dívidas tendem a virar uma bola de neve. “Uma boa dica é negociar junto à empresa ou banco o pagamento dos juros, tentando dividi-los de forma que caibam no seu orçamento. Outra opção é o crédito consignado, uma linha de crédito pessoal com desconto na folha de pagamento que oferece taxas reduzidas”, conclui.
* O nome foi alterado a pedido da entrevistada.





