Dependência emocional > E o amor?

O dependente emocional não muda suas ações sozinho; por estar acostumado a certos sentimentos, mesmo que sejam desconfortáveis, serão familiares. Assim, chega-se a uma das maiores razões que impedem o indivíduo de assumir a doença: achar que o que sente é amor, e que deve ser vivido assim, sofrido e sem limites. A doutora Rita é radical neste ponto. “Nunca foi amor. A pessoa com dependência não aprendeu o que é amar e ser amada. Ela precisa aprender e lidar com seus conflitos internos”, afirma.

A jornalista Camila Reis também sofre com este mal. “Fui morar com meu namorado e achava que nosso relacionamento duraria a vida toda. Mas, como em outras relações, me afastei dos amigos e da família para dar mais atenção a ele. Mesmo quando nosso namoro já dava sinais de verdadeira ruína, eu não cogitava terminar”, comenta. Ela fala ainda sobre esta sensação de desconforto. “Uma vez ele saiu para beber com amigos e voltou de madrugada. Um sentimento de raiva incrível queimava dentro de mim e sabia que o melhor a fazer era terminar o namoro naquele momento, mas não consegui. Achava que a situação poderia ter conserto”, relata.

Se um indivíduo é capaz de amar produtivamente, também ama a si mesmo; se ‘só’ puder amar os outros, não pode amar, em absoluto

Outro meio de começar a explorar seus receios e exercitar a autoconfiança é praticar muita leitura. Livros de auto-ajuda podem estimular a identificação através de situações semelhantes narradas e alternativas de saída. A doutora Rita cita uma interessante passagem do livro “A arte de amar”, de Erich Fromm: “se um indivíduo é capaz de amar produtivamente, também ama a si mesmo; se ‘só’ puder amar os outros, não pode amar, em absoluto”.

Apesar de a forma de manifestação da dependência emocional mais comum ser através de relacionamentos amorosos, fique sabendo que ela pode ocorrer em vários âmbitos, como o familiar, o social, e até mesmo o profissional. O último, inclusive, é o que mais afeta os homens e ocorre quando o pavor de ser visto como mal-sucedido faz com que eles mantenham um emprego com unhas e dentes, se sujeitando a circunstâncias hoje caracterizadas como assédio moral. Ou seja, tolerando agressões e humilhações de chefes ou colegas de trabalho.

Com o avanço da mulher no mercado de trabalho, hoje muitas já passam por casos semelhantes. E as atitudes se repetem. Ou melhor, a falta delas: omissão de opiniões e incapacidade de lutar pelo que é certo. Do mesmo modo, a carência afetiva extrema pode levar ao desenvolvimento da dependência emocional em relação aos amigos (conhece aquela pessoa que não sabe dizer não, nem ao colega mais chato?) e familiares, principalmente os mais próximos, como os pais. Este caso é muito corriqueiro em ambientes onde a mãe com um filho é viúva ou separada. Possivelmente, o rapaz terá dificuldade em desenvolver relações amorosas, devido ao risco de sair de casa e abandoná-la.

Muitas vezes, o conflito será o diferencial entre o que é ou não saudável. Evitá-lo a qualquer custo não trará uma vida tranqüila e pacífica, mas apenas transformará a pessoa em uma máquina de agradar. Sempre presente, aceitando qualquer situação e alimentando cada vez mais a incapacidade de buscar o que se realmente quer: uma vida feliz, livre de sofrimentos internos, seja sozinha ou acompanhada.

Faça o teste

Teste para detectar dependência emocional (desenvolvido pela psicóloga Rita Granato)

Responda sim ou não:

1) Torno-me obsessiva com relacionamentos?

2) Nego o alcance do problema?

3) Minto para disfarçar o que ocorre na relação?

4) Evito as pessoas para ocultar o problema?

5) Repito atitudes para controlar a relação?

6) Sofro acidentes devido à distração?

7) Sofro mudanças de humor inexplicáveis?

8) Pratico atos irracionais?

9) Tenho ataques de ira, depressão, culpa e/ou ressentimento?

10) Tenho ataques de violência?

11) Sinto ódio de mim mesma e me auto justifico?

12) Sofro doenças físicas devido a enfermidades produzidas por excesso de estresse?

Se você respondeu afirmativamente a mais de três perguntas, é uma pessoa dependente emocionalmente.