É fundamental falar abertamente sobre sexualidade feminina, como fez Bruna Linzmeyer

Em uma roda de conversa no programa “Saia Justa”, do canal GNT, a atriz Bruna Linzmeyer falou sobre masturbação e sexualidade feminina. Falar de uma forma aberta e natural sobre corpo e prazer da mulher rendeu notícia em diversos veículos de mídia e comentários nas redes sociais. Mas por que algo que é normal ainda gera tamanho espanto?

Bruna Linzmeyer fala sobre sexualidade

Apesar de ser normal e saudável, a masturbação feminina não costuma ser discutida. Na nossa sociedade, é comum que meninas cresçam sentindo culpa, medo e vergonha por explorarem e tocarem o próprio corpo.

No programa, Bruna Linzmeyer contou que não cresceu dessa maneira: “Eu sempre fui muito livre. Sempre tive um acesso ao meu corpo muito validado e respeitado por mim e pela minha família”.

Ela, inclusive, disse que a masturbação é presente em sua vida desde a infância, algo que é normal, uma vez que é nessa fase da vida que surge a curiosidade acerca do próprio corpo. Ao falar sobre o assunto, a atriz mostrou que a melhor forma de acabar com um tabu é falando sobre ele.

Sexualidade e corpo feminino ainda são tabus: por quê?

“A sexualidade feminina foi reprimida ao longo de muitos séculos. Enquanto a masculina é valorizada, a da mulher foi repreendida por causa do preconceito”, diz Arnaldo Barbieri Filho, psiquiatra e diretor do Instituto de Estudos da Sexualidade (IES) de Ribeirão Preto.

É comum que as mulheres não conheçam o próprio corpo e que enxerguem seu prazer como algo “sujo”, algo que não deve ser estimulado. Segundo o especialista, muitas não sabem do que gostam e do que não gostam porque foram ensinadas que o corpo feminino não pode ser explorado por elas mesmas.

Para a sexóloga Katiuscia Leão, por muito tempo a sexualidade feminina foi enxergada unicamente como um meio de procriar. “Isso foi mudando aos poucos, a mulher foi percebendo que também tinha desejos, vontades, que seu corpo não servia só para ter filhos”, conta.

Os resquícios desse imaginário machista perduram até os dias atuais. “Quando uma menina coloca a mão na genitália, logo é repreendida pelos pais, que dizem que é feio, é errado”, diz a sexóloga. “Por isso, quando chegam à fase adulta, muitas continuam a acreditar que é errado sentir prazer”, continua.

Isso fica muito claro durante a infância, quando os garotos são estimulados a ver e tocar o próprio órgão genital. Já a as mulheres são ensinadas a ter vergonha, a esconder e a não observar a própria vulva.

Assim, quando começam a entender o próprio corpo, os desejos e preferências, começam a sentir culpa. Afinal, elas nunca foram ensinadas que a sexualidade pode ser desfrutada. “A mulher tem tanto direito a conhecer seu corpo quanto o homem, o prazer não é exclusivo deles”, diz o psiquiatra.

Masturbação feminina: o assunto proibido

A sexóloga afirma que a masturbação é essencial para o autoconhecimento: “A mulher precisa se tocar, sentir. Até mesmo para mostrar para o parceiro suas preferências”.

Na masturbação, a vagina, considerada feia e suja, entra como protagonista do prazer, que também é visto com maus olhos. Essa combinação causa vergonha e medo, o que contribui para o silenciamento do assunto.

Esse processo não tem idade “certa” para começar, mas é muito natural que tenha início ainda na primeira infância. “As crianças se tocam, sentem prazer desde bem pequenas. Não há a fantasia sexual, mas o prazer sempre esteve ali, tanto para homens quanto para mulheres”, esclarece Arnaldo.

A grande diferença, segundo ele, é que, para os homens, a masturbação é um processo muito natural porque eles não são ensinados a acreditar que é errado sentir prazer ou colocar a mão no pênis.

O psiquiatra explica que é muito importante que a família encare esse processo com naturalidade também no caso das meninas. “Os pais precisam conversar com as crianças, explicar que não é errado, mas que o local e o momento precisam ser adequados”, afirma.

Casos como o de Bruna Linzmeyer, em que a família nunca a repreendeu por ter curiosidade sobre seu próprio corpo, mostram que é possível que a mulher tenha uma relação saudável com a sexualidade desde a infância.

Atualmente, esse ciclo de vergonha e culpa já é quebrado por muitas outras pessoas. Ao falar abertamente sobre o assunto, a atriz e outros jogam uma luz sobre o tabu. E só assim ele pode ser quebrado.

Masturbação feminina