O ano é 2011. O evento, a quarta edição nacional do Rock in Rio, que há 26 anos arrastou pela primeira vez milhares de pessoas para a então deserta região do Riocentro. A história se repete, a partir do dia 23 de setembro, no mesmo local, que apesar do avassalador crescimento continua a ser distante do grande centro da Cidade Maravilhosa. No palco e fora dele, outros personagens, em sua maioria, vão compor o espetáculo. Da mesma forma, uma nova mentalidade deixa o evento com a cara do século 21: vamos de carona solidária? Conhecida Brasil afora como “carpool” ou “rideshare”, a prática é uma alternativa simples, eficaz, barata e super bem-vinda na era do aquecimento global, tornando-se um exercício simples de cidadania, principalmente em grandes eventos.
De olho nessa tendência, Fernando Doria de Bellis criou o site Carona Brasil. Nele, os usuários se cadastram oferecendo e buscando caronas paras os mais variados locais. E o clima, segundo o empresário, é bem diferente daquela carona formal que pegamos para voltar do trabalho, por exemplo. “A vibe é muito mais legal e positiva. É um aquecimento para o evento e rola uma interação social muito grande. A gente quer criar uma cultura para que essa prática aumente cada vez mais”, torce.
Dividir o banco de trás do carro também é importante na hora de economizar. Se você reunir no seu carro quatro amigos que iriam ao Rock in Rio a bordo de seus próprios veículos, já são quatro carros a menos ocupando o estacionamento e ainda dá para dividir a tarifa por cinco. Sem contar a maior facilidade para encontrar vagas. “Já aconteceu de alguns festivais darem desconto para os carros com mais integrantes”, acrescenta Fernando, que também sugere a divisão do combustível. “É um deslocamento muito mais confortável e barato para todos, ainda mais para os jovens, que não abrem mão de cada centavo”, diz.
A jornalista Kelly Beltrão é um exemplo de que dar carona une as pessoas. Ela, que não bebe nunca, é sempre a motorista da rodada. Mas não se incomoda nem um pouco com isso. “Adoro o meu carro bem cheio e não gosto de chegar aos lugares sozinha. Não faço questão de dividir a gasolina, porque já gastaria mesmo. Mas os meus amigos sempre dividem o pedágio e o estacionamento”, conta.
Kelly e Fernando dividem a mesma opinião: os caroneiros são sempre excelentes companhias. “Já tivemos eventos com mais de três mil caronas organizadas pelo site. É uma ótima oportunidade de conhecer novas pessoas“, conta ele, enquanto Kelly, brasiliense que mora no Rio há cinco meses, acha que dar carona é muito divertido. “E sempre tem a paradinha para comer algo depois da noite”, comemora ela.
E nem precisa ir tão longe. Um carro somente com os amigos pode reservar ótimas surpresas. “Você convida um amigo, que chama outros dois de outro círculo social e por aí vai… Ali mesmo, no carro, você já está conhecendo uma pessoa nova”, diz Fernando. Namoro ou amizade? A carona já aproximou, agora vai depender da química. “Acontece muito de as pessoas iniciarem novos relacionamentos a partir dela. Uma meia hora ali, lado a lado, faz muita diferença. Já recebemos mensagens de pessoas nos agradecendo por ajudá-las a encontrar um novo amor”, lembra Doria de Bellis.
Mas, para não cair numa carona furada, vale seguir os conselhos de um especialista no assunto. “São essenciais espírito jovem, cabeça aberta para lidar com novas experiências e vontade de conhecer gente nova. Isso tudo sem abrir mão da segurança. Em casos de carona com estranhos é sempre bom conversar antes e buscar referências sobre o condutor. Assim, você evita que a festa acabe antes mesmo de começar”, alerta Fernando, que disponibiliza para os usuários de seu site uma busca de faixa etária, gosto musical e a visualização dos documentos dos caroneiros.
Kelly também age da mesma forma e, prevenida, leva e traz apenas pessoas conhecidas. “No máximo, amigos de quem conheço. E também não paro o carro no meio da estrada para pegar pessoas desconhecidas”, conta.
E você? Já pensou em procurar a sua carona?