Parece óbvio demais para perguntar, mas vamos lá. Se você pudesse transformar o seu marido, namorado ou mesmo companheiro pra lá de temporário no cara mais lindo desse mundo, você faria? Ah, nem vem!, porque desejar pretendentes bonitos, lindos e maravilhosos já faz parte da nossa natureza. Assim como eles também não titubeiam na preferência: quanto mais gostosa, melhor! Mas já sabendo que o mercado amoroso – e erótico – anda acirrado e que quem prima pela qualidade estética acaba de mãos vazias, a gente não fica nem um pouco chateada se ele for somente gatinho ou, simplesmente, interessante. Entretanto, tem momentos ímpares na nossa vida, em que, sem fazer maior esforço, surge um deus grego à nossa porta. E aí, recusar para quê, não é mesmo? Passear de mãos dadas com um verdadeiro galã de novela estufa o ego de qualquer uma. Só que, por incrível que pareça, às vezes não é tão prazeroso assim ter um monumento ao seu lado. Porque, para estar bem com alguém que é muita areia para o seu caminhão, é preciso confiar muito no próprio taco.
Não tem muita explicação. A beleza exterior é algo que nos encanta e que sempre nos diz muita coisa (tanta coisa que os extraordinariamente belos não precisam nem gastar lábia na hora de conquistar alguém). “Eu namorei um cara que não só era modelo da Ford (agência de modelos) como tinha 1,97 de altura. Simplesmente, as mulheres se tacavam nele, descaradamente. Menina de tudo quanto era idade, mulher já velha e garotinha também. Olhavam demais para ele e na minha frente mesmo!”, lembra a publicitária Fabiane Gonçalves. Na época, Fabiane nem acreditou que aquele tudo-de-bom estava querendo ficar com ela, que era nada menos do que sete anos mais nova. “Eu era uma criança, tinha 16 anos e ele, 23. A faculdade dele era do lado do meu colégio. Me espantei mais ainda quando ele se mostrou todo interessado em namorar. Eu nem tinha tanto interesse nele assim, para mim, ele era aquela coisa distante. Não que eu me ache feia, me acho bonita, mas não com aquela perfeição, entende? Como ele veio todo carinhoso e eu fui vendo que ele era legal, não tive como recusar. Namoramos dois anos e meio”, recorda a publicitária.
Alguns homens, com a certeza que são colírios para nossos olhos, têm extrema facilidade na hora da conquista. Sabendo disso, muitas mulheres procuram não demonstrar interesse, fazem de conta que não tão nem aí… “O cara mais lindo que já peguei vi pela primeira vez na praia. Todo perfeito, corpo maravilhoso, olhos verdes, um deus. A gente se encontrou numa festa e eu fiz questão absoluta de nem olhar para ele, já que todos as meninas estavam dando o maior mole”, conta a arquiteta Janaína Mendonça, de 27 anos. Talvez, exatamente por ter agido da maneira oposta ao resto da mulherada, foi por Janaína que a sensação da noite se interessou. “Aonde eu ia, ele ia atrás. E eu fugindo, até que ficamos. Foi sensacional. Passei duas noites sem dormir, só pensando em como ele era lindo. Sério!”, revela a arquiteta. Esse momento é mesmo um frisson, a gente se sente poderosa e a auto-estima alcança as alturas. “Se apaixonar por alguém lindo é mais fácil. É até uma ilusão. Você beija e quando abre os olhos vê aquela coisa verde, isso é um plus! É bom ter um homem lindo do lado. E mexe com o ego, né? Nos sentimos a rainha da cocada preta, tiramos onda com as amigas”, confessa Janaína, lembrando que, por outro lado, batia uma certa insegurança. “Uma obrigação de estar à altura dele, sabe? Era chato ter um monte de mulher em cima o tempo todo”, explica ela.
A beleza sempre foi uma grande qualidade. Os padrões de beleza é que se transformam com o passar do tempo. Sabemos, por exemplo, que as mulheres magérrimas que desfilam, hoje, nas passarelas não seriam consideradas belas numa determinada época. Estatuetas de mais de 35 mil anos mostram que o homem da Era Paleolítica valorizava as gordas, pois associava obesidade a uma maior fertilidade. E inúmeras pinturas renascentistas também mostram que os padrões de beleza mudaram – o quadro “As três Graças”, de Peter Paul Rubens, indica até uma certa contemplação da celulite (!).
E quanto à beleza interior? Essa, apesar de não estar com a bola toda, é fator indispensável para algumas mulheres. Charme, inteligência, simpatia e sensibilidade… Enfim, conteúdo! “Eu considero charme mais importante que beleza. O cara mais bonito que eu fiquei não era grandes coisas. Meio sem graça, não tinha muito papo. Pra mim, pode até ser feinho, mas se for charmoso e tiver uma química parecida com a minha está ótimo. Não sei se a escolha é consciente, mas eu sempre fui considerada muita areia pro caminhão dos meus namorados”, afirma a estudante Fernanda Pires, revelando que provavelmente se sentiria insegura ao lado de um galã. “Acho que eu não namoraria um cara lindo. Apesar de eu saber que não precisa ser muito bonito para gerar insegurança. Meu namorado atual e meu ex estão longe de ser um supra-sumo e com os dois tive esse tipo de problema”, conta ela.
Gosto, definitivamente, não se discute. Tem mulher que não apenas valoriza o charme e a beleza interior… Para algumas, a feiúra também é atraente. “Eu adoro um feio. Homem feio é comigo mesmo. Acho que eles se esforçam mais, fazem mais elogios, te botam no pedestal. Gosto de olhar pro mais feio da roda. Eu olho, olho e o cara demora a notar, porque custa a acreditar que estou olhando pra ele. Acha que não é possível. Aí, quando a gente fica, ele te enche de elogios, fala que nem acreditou que você tivesse dando bola. Adoro isso”, afirma a artista plástica Vanessa Conceição, que na época da faculdade arrumou um caso com o menino mais feio da turma. “Ele era feio de doer. Eu fiquei muito tempo com ele e foi muito legal”, lembra ela. Apesar do próprio casal não ligar para a discrepância entre as belezas, não faltavam críticas por parte de quem estava ao redor. “Minhas amigas me enchiam a paciência, diziam que eu era maluca, mas eu não estava nem aí. Acho que ficar com o cara que não é o galã da turma, principalmente quando ainda se é novo, é sinal de maturidade e personalidade. Eu não preciso ficar com alguém bonito para ser bonita. E não acho que vou ficar mais bonita ou mais feia de acordo com o cara que está comigo, sacou?”, questiona Vanessa.
Se na busca para desvendar relacionamentos em que um é muita areia para o caminhão do outro, encontramos até mulheres que gostam de feios, por outro lado, achamos um exemplar da ala masculina que viveu uma época em que aparência era tudo. “Antigamente, a única coisa que importava para mim numa menina era ela ser bonita. Minha ex era uma bela embalagem, sem conteúdo nenhum. Ela era a maior morena, parecia a Viviane Araújo. Uma vez a gente foi para uma casa de shows e parecia que eu ia ser linchado. Os homens me olhavam com uma cara de ódio e inveja. Dava pra imaginar o que eles pensavam: ‘esse moleque deve ter muito dinheiro, só pode ser!”, brinca o estudante Marcelo Barbosa, de 26 anos, confessando que se sentia bem tendo ao seu lado uma mulher almejada por muitos outros. “Ah, eu aproveitava, me sentia o máximo. Não sentia tanto ciúmes de os homens olharem, até porque era inevitável. E também, pra falar a verdade, eu não era apaixonado por ela. Só queria mesmo era tirar onda”, revela Marcelo.
Será que nós mulheres nos importamos menos com as características externas dos nossos parceiros do que os homens? Podemos até acreditar nisso, mas não provar e afirmar. Afinal, a valorização da beleza é algo que está um pouco em todos nós, indiscriminadamente. “Sem dúvida, na nossa sociedade, a beleza exterior é o que move nossa admiração e desejo, exatamente porque somos envolvidos em referenciais que nos impelem a buscar o ideal de beleza no outro”, esclarece o psicanalista e sexólogo Cássio dos Reis, frisando também que o prazer em ser bem visto pelos amigos realmente é algo que influencia na escolha de um pretendente. “Não se pode negar que, para algumas pessoas, o ser bem visto é uma maneira de elas construírem referências positivas a respeito de si mesmo”, explica ele.
Entretanto, nada impede que exista amor verdadeiro entre duas pessoas que não dividem a mesma beleza – até porque a beldade de cada um é abstrata e, portanto, difícil de ser mensurada. Se considerar um pequeno caminhão frente a abundância de areia do outro é um sinal de autodesvalorização, que, aliás, pode até não condizer com a realidade. Uma pessoa muito bonita pode se considerar feia frente a outra. “O que determina acreditar que alguém seja muito para o próprio caminhãozinho? A idealização do outro faz com que a pessoa coloque em si toda a negatividade e que o outro seja só positividade. Olhar sob essa perspectiva, na verdade, é uma forma de aumentar a distancia entre as pessoas”, argumenta Cássio. Se você é uma que se sente inferior ao seu parceiro, saiba que sempre é tempo de reverter essa baixa auto-estima. “Para contornar este sentimento de inferioridade, a pessoa deve usar tudo o que sabe, sem medo de se revelar. Pois todos nós temos aspectos positivos que podem e devem ser identificados. Uma boa auto-estima é necessária para não sucumbir às próprias inseguranças”, conclui Cássio dos Reis.