Sentar à direita do condutor só não acontece na terra da Rainha da Inglaterra, onde a direção é do lado contrário. No entanto, seja qual for o lado do carona, ele passa por maus bocados quando é do sexo masculino. E se quem estiver guiando for uma mulher, piorou. Muitos desentendimentos acontecem nesta situação, afina, eles gostam de controlar tudo: desde as rotas até as travas das portas, passando pelo rádio, ar-condicionado e abertura de vidros.
Mas o que explica esse comportamento masculino? Ouvimos o secretário geral da Sociedade Brasileira de Sexologia, Amaury Mendes Júnior, a fim de buscar respostas. Segundo ele, a adoção de símbolos para demonstrar e comunicar o poder masculino é antiga. “O carro hoje é o que era a gravata no início do século: simboliza o poder. Tê-la no pescoço era uma ligação psíquica direta com a virilidade”, comenta ele, complementando ser este mais um dos símbolos fálicos masculinos.
Mas e nossas belezas de quatro rodas? “O homem usa tudo que ele pode para chamar a atenção do sexo oposto. Chega com atitude, tira a camisa. É como um ritual de acasalamento e o carro faz parte disso”, responde o sexólogo. O automóvel simboliza o castelo do homem, no qual ele é o rei e está no comando. Faz parte da educação utilizar o veículo como reforço da masculinidade, é um espelho de sua personalidade.
E, dentro do reinado deles, ninguém pode dar pitaco. Mendes Júnior diz que o homem não pede informação, não muda de opinião e é egoísta e centralizador quando está ao volante. “Qualquer opinião alheia é vista como crítica negativa, como se o acusassem de não saber o que está fazendo. Afeta a virilidade”, acredita ele. No entanto, para o funcionário público Sylvio Júnior, é uma questão de etiqueta. “Este é um espaço que deve ser respeitado pelo carona, porque é do motorista e não deve ser invadido sem que ele permita”, considera ele.
Ainda para o funcionário público, não é à toa que o verbo dirigir se aplica a outras situações que não envolvem carros. “Os sinônimos guiar, conduzir, controlar podem servir para diversas questões da vida, assim como justificam a posição do motorista como comandante. É uma simples questão de respeitar o espaço de quem quer que esteja ao volante. Tudo depende da forma como é feita. Você pode emitir uma opinião sem invadir o espaço de ninguém. A sugestão é sempre a saída”, considera.
Para Mendes Júnior, a mulher adota outro comportamento quando comanda os pedais. “A mulher é mais receptiva à informação. Por isso, opiniões são sempre bem-vindas. Já o homem não aceita isso”, conclui.