Entre versos > Poetas consagrados

Fazer poesia não é simplesmente rimar palavras. Talvez esse seja o ponto de maior dificuldade, e a parte mais assustadora deste estilo literário. Entretanto, não é difícil ver gente que faz uns parcos versos e já se intitula poeta. Mas, afinal, o que é ser poeta? “Ih… que pergunta difícil! Acho que não tem uma definição. Fazer poesia é um modo diferente de ver o mundo e manifestar essas impressões. O poeta é um tradutor das atmosferas, que fala muito com poucos recursos. Enquanto na prosa o que vale são os detalhes, a descrição dos fatos, na poesia, é a musicalidade, o ritmo, os jogos de palavras e as imagens formadas que importam”, explica Suzana Vargas, poetisa, mestre em Teoria Literária da UFRJ e pesquisadora da Biblioteca Nacional.

É a relação poema-leitor que dirá se uma poesia é de qualidade ou não

Partindo dessa descrição, não se pode dizer se uma poesia é boa ou não – tudo depende de como aqueles versos irão mexer com os leitores. Algumas podem emocionar, outras, provocar. É a relação poema-leitor que dirá se uma poesia é de qualidade ou não. Quanto mais a pessoa lê poesia, mais exigente vai ficando.

Porém, existem autores clássicos, fundamentais na bibliografia poética. A pedido do Bolsa de Mulher, Suzana Vargas listou os nomes mais importantes da poesia. E nós mostramos uma pequena biografia deles.

Os clássicos:
Luís de Camões (1525-1580): Sua obra mais famosa é a epopéia “Os Lusíadas”, que conta a história de Vasco da Gama e dos portugueses que tentaram desbravar o caminho até à Índia. É considerado o maior poeta de língua portuguesa e um dos maiores da humanidade.

Gregório de Matos (1633-1696): O baiano Gregório também ficou conhecido como O Boca do Inferno e foi um dos grandes poetas barrocos brasileiros. A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época. Chegou a escrever alguns poemas considerados eróticos. Entre seus grandes textos está o poema “A cada canto um grande conselheiro”, em que critica os governantes baianos de sua época. “Florilégio da Poesia Brasileira” é uma coletânea com 39 poemas de Gergório. É patrono da Academia Brasileira de Letras e sua cadeira é a de número 16.

Álvares de Azevedo (1831-1852): É talvez o melhor representante da poesia ultra-romântica brasileira. O poeta paulista costumava falar da mulher, ora idealizada, comparada aos anjos, ora sensual. Mas, nos dois casos, é sempre inacessível ao poeta. Um outro tema constante era a morte. Seus poemas foram reunidos no livro “Lira dos vinte anos”, mas também fez sucesso com “Macário” e “Noite na taverna”.

Castro Alves (1847-1871): Foi o último grande poeta do Romantismo brasileiro. Um dos temas mais constantes eram os problemas sociais e a opressão. A poesia abolicionista foi um dos traços mais importantes deste baiano. Entre suas obras destacam-se “Espumas flutuantes”, “A cachoeira de Paulo Afonso” e “Os escravos”.

Os modernos:
Manuel Bandeira (1886-1968): Nasceu em Recife, mas passou a vida mudando-se para várias cidades por causa da família e para tratar a tuberculose. Escreveu seus primeiros versos em 1912. Cinco anos depois, publica o primeiro livro, “A cinza das horas”. Fez parte, junto com outros escritores, da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e fez sucesso com o poema “Os sapos”, do seu livro “Carnaval”. Trabalhou como crítico musical e jornalista em algumas publicações da época. Em 1940, é eleito imortal da ABL. Tinha um estilo literário sóbrio, porém simples e direto. Uma das obras mais famosas é “Libertinagem”, de 1930, e o poema “Vou-me embora para Pasárgada” é um dos seus textos mais conhecidos.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): Mineiro de Itabira, foi considerado o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Em 1921, passa a colaborar com o Diário de Minas e, poucos anos depois, já era redator do jornal. Sete anos mais tarde, publicou na Revista de Antropofagia o poema “No meio de caminho”, que provocou muitos comentários. Os temas de suas obras eram diversos – ia dos acontecimentos banais como em “O caso do vestido” e “Construção”, a temas sociais como em “Sentimento do Mundo” e “A rosa do povo”. Inicialmente fala do amor ironicamente, mas, depois, após ler Camões, busca uma essência maior deste sentimento. Faz uso constante da metalinguagem em seus textos.

Vinicius de Moraes (1913-1980): Conhecido por ser um grande astro da MPB, Vinicius tem uma vasta obra literária. O amor e a paixão eram as temáticas mais comuns. Boêmio, se casou nove vezes. Em 1933, publica seu primeiro livro “O caminho para a distância”, dois anos depois lança sua primeira obra poética “Forma e exegese”. A partir daí mistura a carreira literária, musical e diplomática. Conhece os mais variados mestres da música, literatura e do cinema. Entre algumas de suas obras poéticas estão: Novos Poemas” (1938), “Poemas, Sonetos e Baladas” (1946) e “Livro de Sonetos” (1957).

João Cabral de Melo Neto (1920-1999): Este carioca foi diplomata e pertencia a uma das mais tradicionais famílias de Pernambuco. Era primo de Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre. Ele era muito rigoroso e buscava a perfeição estética em seus versos. Era mais lógico que emotivo. Viajou o mundo como diplomata e ganhou vários prêmios literários. Seu poema mais conhecido é “Morte e Vida Severina”. Foi membro da ABL.