Eu perdoei > Traição: eu perdoei

“Eu perdoei duas vezes. Ele me traía com a ex-namorada e eu já desconfiava de tudo. Da primeira vez, uma amiga em comum decidiu me contar e na segunda eu descobri pelo arquivo do MSN dele. A ex provocava, dava pistas de que algo tinha acontecido, e eu fui a fundo pra descobrir. Me senti péssima porque ele, apesar de tudo, sempre fez mil declarações públicas pra mim, era muito carinhoso, dizia que tudo aquilo era coisa da minha cabeça e ainda se dizia indignado por eu estar desconfiando dele! Imagina a raiva que eu senti por ter confiado nele e ele ter duvidado de mim! Por outro lado, fiquei aliviada por confirmar que eu não estava maluca!

Para mim, traição não é só a coisa do envolvimento físico com outra pessoa, é também questão de deslealdade com o parceiro, de você quebrar a confiança ou fazer com que a pessoa passe por trouxa na frente dos outros. Estava muito apaixonada e achava que perdê-lo ia ser pior. No final, acabei acreditando que ele mudaria mesmo, mas perdoei porque não conseguia me imaginar sem ele. Admito que me arrependi da primeira vez, mas da segunda não. Então, no final das contas, não me arrependi por tê-lo perdoado. Me arrependo, sim, da postura que eu tive, de ter deixado chegar àquele ponto.

Depois de tudo, nossa relação se transformou completamente, e se eu não tivesse insistido na história não teria tido a chance de conhecer um outro lado dele, muito melhor que o anterior. Ele também mudou. Ficou mais maduro, teve mais certeza do que sentia por mim. No fundo, ele tinha muito medo de entrar de cabeça numa relação séria, mas isso sumiu depois de tudo que passamos. Ele virou outra pessoa e passou a me dar muito mais valor, a ter mais cuidado comigo e com os meus sentimentos.

Fiquei neurótica durante um bom tempo, até poder confiar nele de novo. Ele tinha que me ligar sempre pra dizer onde estava, com quem estava, deixava de sair pra certos lugares


Perdoar não foi simples. No começo não me sentia segura, com medo de acontecer de novo. Hoje em dia eu relaxei, mas demorei muito para isso. Ainda tenho um pouco de receio, claro, mas nada demais comparado ao que eu sentia. Fiquei neurótica durante um bom tempo, até poder confiar nele de novo. Ele tinha que me ligar sempre pra dizer onde estava, com quem estava, deixava de sair pra certos lugares. Mas não dá pra viver assim, é muito estressante! Ele me ajudou a voltar a confiar nele de novo. No nosso caso, o que contribuiu bastante foi a postura dele – tentava fazer com que eu confiasse nele de novo. Eu podia ter o ataque que fosse que ele não brigava (só às vezes), compreendia que ele era responsável por toda aquela falta de confiança.

Hoje, evito tocar no assunto novamente nas nossas brigas, mas às vezes é inevitável. A falta de confiança afeta muito o namoro. Quando conversamos, eventualmente surge isso, porque mudou minha forma de encarar o relacionamento. Mas toda vez que toco no assunto procuro não fazer num tom de acusação, mas para explicar como eu me sinto.

Ele foi muito amigo e não apenas namorado. Exigiu muita paciência também e muito esforço das duas partes.Conversamos muito sobre isso quando voltamos. Eu falei que só voltaria se ele também estivesse disposto a todo esse esforço.Sabia que seria muito difícil. No final, muita conversa e paciência foram fundamentais.

Para mim, valeu muito ter perdoado… disso não me arrependo!” D.G.*, 25 anos, assistente financeira, namora há três anos e meio o arquiteto R.S.

Dói. É inegável que dói. Quem já foi traído sabe muito bem a sensação de revolta, frustração e decepção que uma infidelidade pode acarretar. São muitos sentimentos, ilusões que se misturam, se confundem. Medo, incertezas, confiança perdida. A traição pode ter acontecido apenas uma vez ou ser um caso de muito tempo, mas o conflito interior é sempre o mesmo. Todas as expectativas acerca do relacionamento parecem que caem por terra e a única pergunta possível nessa hora é: por quê? Mas tem gente que consegue passar uma borracha em tudo e recomeçar o relacionamento, seja por amor, medo da perda ou acomodação.

No dicionário, a palavra traição significa enganar uma pessoa. Mas, quando está no contexto de uma relação afetiva, o termo toma conotações diversas. Para alguns, uma relação sexual sem vinculação afetiva pode não significar absolutamente nada. Para outras, um simples beijo já é motivo para o fim de um relacionamento. Definir, então, esse conceito vai variar de acordo com os valores os quais a pessoa se formou. Além disso, culturalmente, a traição é uma ofensa grave e a sociedade sempre aponta um algoz e uma vítima nesse caso e isso é determinante na decisão de perdoar ou não.

Vítima é uma palavra que a dona-de-casa, M.B., 55 anos, não sabe o que significa. E a história dela impressiona. Há quinze anos ela descobriu que o marido tinha uma vida dupla: casa montada com a amante e dois filhos. A descoberta foi por acaso. A filha de M.B. tinha saído mais cedo do trabalho e decidiu passar no shopping. Lá, ela viu o pai com a outra e duas crianças, todos em harmonia. A farsa, que já durava dez anos, tinha acabado de ser descoberta. Pai e filha foram juntos para casa e decidiram que a verdade tinha que vir à tona.