‘‘ Idéias de irresistível irreverência para quem tem ou quem não tem filhos, para os que querem ter ou não! Um pouco de impertinência jamais despovoará o mundo!” – Crítica no “Le Magazine des Livres”, França.
Corinne Maier, psicanalista e economista francesa, anda criando polêmica na Europa. Segundo reportagem da BBC Brasil, o livro “Sem filhos – 40 razões para não ter filhos” está na lista dos mais vendidos na França e a autora discorre sobre o quão é ruim procriar. O livro já vendeu 45 mil exemplares e está na quarta edição. Resisti muito em ler e, como sou convicta em relação a minha opção por ter filhos, achei curiosa a idéia do livro. Como Corinne escreve um livro com esse título e tem dois filhos adolescentes? O que a levou então, a escrever sobre o tema? Bem, para quem escreveu um livro chamado “Bom dia preguiça” deve ser mesmo um horror ter filhos…
A autora afirma que o fato de ela mesma ter tido filhos permite que ela tenha a independência necessária para falar sobre o assunto
A narração tem um tom provocativo proposital e o que foi tratado no início com ojeriza por mim, começou a ganhar bons argumentos a partir do segundo capítulo. Aqui para nós, a verdade é que nem todo mundo está mesmo preparado para as mudanças que um filho provoca na vida das pessoas e nem está disposto a mudar de vida por causa de uma criança.
Os filhos alteram ainda mais a vida dos casais porque não é fácil encontrar instituições baratas ou pessoas pra transferir a responsabilidade. Os pais devem a assumir de verdade a maternidade. Não tem mais as vovozinhas para tomarem conta, enquanto o casal vai dar um pulinho em Campos do Jordão.
Segundo Corinne, muitas pessoas são mais infelizes depois que têm filhos, já que, para muitos, as crianças são mesmo um inferno, se intrometem em tudo, querem dormir na cama do casal, exigem demais e, por mais que os pais façam as vontades, nunca estão satisfeitos. A autora afirma que o fato de ela mesma ter tido filhos permite que ela tenha a independência necessária para falar sobre o assunto. “Se eu não tivesse filhos, achariam que sou uma velha amarga”, afirmou em entrevista à BBC de Londres.
Para o jornal francês Le Figaro, “Sem Filhos” é um “ensaio provocador”. O jornal escreve que a ironia da autora “ajuda a expor de forma divertida idéias sem grande originalidade, como seu discurso sobre a idolatria dos filhos e os malefícios da educação contemporânea”. A autora é indignada com a política pró-natalidade adotada pela França (o país está estimulando agora o crescimento da taxa de natalidade. Imaginem só a bomba que não foi o lançamento deste livro!) e complementa: “este pequeno livro tem como objetivo desmotivar pais em potencial que ainda se perguntam se vale a pena ter filhos”.
O Brasil tem cenário bem diferente. Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, há queda na taxa de natalidade (1,8 filho por mulher) e crescimento, de acordo com o IBGE, da ordem de 80% no número de casais que nos últimos dez anos resolveram não procriar. Já os franceses têm comemorado o maior índice de fertilidade da Europa: dois filhos por mulher.
A autora trabalha atualmente como psicanalista em Paris e Bruxelas, depois de ter sido despedida da companhia de energia francesa EDF, em conseqüência da publicação de “Bom dia Preguiça”.
Ora bolas, sem emprego e sem filhos, não consigo ver graça na vida e Corinne Maier bem que tentou me convencer do contrário, mas não deu não. Façam suas apostas. O livro tem bons argumentos, podem acreditar.
Na próxima página, uma entrevista exclusiva com a autora.