Sem dúvida nenhuma, todos nós temos medo. No entanto, alguns o administram bem, conseguem ter controle sobre ele, como se nada estivesse acontecendo e só desabam quando a situação chega ao fim. Infelizmente, nem todo mundo tem essa frieza, esse sangue de barata. O quê? Barata? Argh… Pois é, a fobia se caracteriza por um medo que foge ao controle humano. Pavor incontrolável, aversão, ojeriza mesmo! Mas será que existe uma forma de encará-la?
Para a jornalista Marcela Figueiredo, nem chinelo, nem vassoura, somente um canhão poderia lhe dar tranqüilidade no momento em que fica cara-a-cara com aquele inseto citado no parágrafo de cima. “Morro de medo. E o pior é que elas sabem. Se aparece uma barata em algum lugar, pode ter certeza que virá na minha direção. Uma vez entrou uma barata dentro do carro e, claro, subiu na minha perna. Fiz um escândalo tão grande que meu pai quase bateu. Ficava pulando pra lá e pra cá berrando ‘ai, uma baraaaata!!’”, conta.
Pânico, horror, terror. Qualquer palavra serve para descrever a sensação que a advogada Flávia Faisal, 38, sente por altura. No entanto, mesmo avessa a estar com os pés bem longe do chão, ela encarou uma ida a um teleférico com a família numa das férias que passou no Sul do país. “Em dezembro, fui para Gramado e Canela, onde existe a Cachoeira do Caracol que é maravilhosa. Mas só se chega de teleférico. Lá avisei que não iria e esperaria por todos no parque. Só que eu ficaria sozinha, já que a família inteira quis ir. De tanto meus filhos e o resto do mundo me chamarem de “mané”, peitei e fui. Não curti nada, porque me atraquei na cadeirinha e olhei para o céu o tempo todo. As lágrimas escorriam e ainda tinha um primo meu que gritava que, se ele morresse, queria ser enterrado com a bandeira do Flamengo”, conta Flávia. Tortura psicológica, não? Veja só o que estava por vir: “Um cara que estava voltando, teve a cara de pau de me perguntar se a cadeira em que eu sentava era torta ou estava se soltando do cabo. Acho que nessa hora esqueci até o medo, virei pra trás e, bom, você pode imaginar o que eu disse, né?”, indaga ela.
Se estar nas alturas dá insegurança, estar bastante protegida, dentro de um determinado recinto, angustia. A estudante de jornalismo Carolina Andrade, 24, sofre de claustrofobia. Ela conta que o pavor de lugares fechados é tanto que não anda de metrô. Pois não imagina o que faria se um dia ficasse presa dentro de um vagão a muitos palmos abaixo da terra. “Não dá. Já tentei pegar o metrô, mas voltei da estação porque não me via dentro do trem com um monte de gente sem que pudesse ficar presa. Só ando a pé ou de carro”, diz.
O problema é quando se é pega de surpresa dentro de um meio de locomoção até então inofensivo, como um elevador. Carolina descreve um episódio ocorrido há três anos e que até hoje, depois de tudo resolvido, é motivo de muitas risadas para ela e os colegas. “Eu voltava de uma festa na casa de uma amiga. Estava com um grupo e pegamos o elevador para o estacionamento, quando, de repente, tudo parou e as luzes apagaram. Não tive dúvidas, comecei a gritar e a esmurrar as paredes. Não fiquei ali nem cinco minutos, mas parece que foram dez anos. Até que o porteiro abriu a porta e eu pulei, literalmente, nos braços dele e comecei a beijá-lo e dizer que ele tinha me salvado. Hoje morro de rir quando lembro, só que na hora o pânico não me deixou pensar em nada”, revela.
Geralmente as fobias surgem por causa de traumas sofridos na infância. É o caso da fisioterapeuta Jerusa Moura, 30, que hoje tem verdadeiro horror a hélices de ventiladores, aviões e até à ventoinha de seu computador. Incrível? Nada disso. Simplesmente foi uma travessura de criança, em que ela quase perdeu o dedo, que originou tal aflição. “Eu gostava de ligar o liquidificador, desligar e parar a hélice com a mão. Numa dessas, liguei o botão na velocidade máxima e quando desliguei, ainda girava muito rápido. Eu não notei, coloquei o dedo e quase decepei o meu indicador”, lembra.
A psiquiatra Magda Vaissman explica que existem três tipos de fobias: específicas, como medo de barata ou avião; social, quando as pessoas têm dificuldade de relacionamento, de falar em público; e ainda o que chamam de agorafobia que é o medo de sair na rua. Das três, as duas últimas são mais comuns porque têm origem fisiológica, ou seja, são reações neuroquímicas e, por não terem uma causa específica, são as que demandam tempo maior de tratamento onde se associam a psicoterapia e o uso de medicamentos. Para ela, o fato de o paciente saber se é doente e procurar ajuda médica é o primeiro passo no processo de recuperação. Portanto, na próxima vez em que você se pendurar na luminária do seu escritório ao ver uma barata, seja honesta consigo mesma e procure um bom terapeuta, a menos que subir no teto faça você se sentir o homem-aranha. Aranha?! Aiiii….