Herdando estilo

As relações mãe-e-filha rendem pano pra manga para familiares, psicólogos, educadores e… estilistas. Isso mesmo, estilistas! O simples fato de ambas pertecerem ao mesmo sexo, provavelmente, é fonte de inesgotável inspiração para profissionais de áreas tão distintas. No entanto, apesar das semelhanças reveladas pelo espelho, a maioria das filhas, em alguma época, tenta enganá-lo da maneira que pode. O primeiro passo, quase sempre, é o de tomar uma distância segura do guarda-roupa da mãe. Passada essa fase, a aproximação, a príncipio de mansinho, ao universo do armário embutido materno – ao baú da vovó e até mesmo ao sótão da bisavó – é dada como certa. Talvez porque toda mulher chega à bela conclusão de que não há nada mais original do que herdar estilo.

Um lencinho hoje, uma bolsinha amanhã. Aproveitando o ensejo da porta aberta, pega também o par de brincos (aquele que você cansou de escutar falar que fez um tremendo sucesso na formatura de normalista). Quando sua mãe se dá conta, quase desmaia ao se ver saindo de casa sem ter se levantado do sofá. Cenas assim, conforme as filhas crescem, são comuns em muitos lares. Claro que algumas mães não vão perder a oportunidade de dizer que essa apropriação indumentária se dá em função do seu manequim – o mesmo desde que tinha 18 anos!

Mas brincadeiras à parte, é verdade que muitas meninas, assim que se tornam moças, começam a perceber que aquela peça da mamãe tem muito mais a oferecer do que lembranças da sua infância. “Minha mãe é uma referência significativa do estilo que adoto hoje. Antes de sair para uma festa, passo no guarda-roupa dela para ver se tem alguma coisa diferente que eu possa complementar minha produção. Os lenços e as bolsas dela já fazem parte do estilo que criei e as pessoas sempre comentam isso”, revela a assessora comercial Suzana Monteiro.

A administradora de empresas Maria Regina Paes Leme conta que, quando era criança e adolescente, achava tudo o que tinha no armário da mãe careta e cafona. Mas, como faz parte do processo de amadurecimento a mudança de conceitos… “Cresci, me formei e comecei a procurar emprego. Advinha como eu fui na minha primeira entrevista? Fantasiada de minha mãe. Usei um tailler, um sapato e uma bolsa dela, já que no meu armário não tinha nada que a ocasião pedia”, confessa ela, assumindo que, a partir daí, começou a olhar com carinho para o guarda-roupa do quarto ao lado. “Nesse momento, passei a mudar de estilo e o armário da minha mãe virou uma fonte pra mim. Chego a ser abusada, não canso de pedir para ela comprar algo que eu também vá aproveitar”, diz ela.

Para quem ainda reluta ou tem ressalvas quanto ao valor do tesouro que existe dentro dos armários e dos baús da família, a consultora de moda Renata Gadelha avisa: “Estamos na época ideal de fuçar o guarda-roupa da mãe, da avó e até o da bisavó atrás de todos os tipos de peça. A moda, hoje em dia, permite que se use tudo e o estilo vintage, que se refere a coleções passadas, predomina nas roupas e acessórios”, afirma ela, complementando que o bom senso também sempre está na moda. “Se a mãe é alta e magra e a filha mais baixa, nem tudo poderá ser comum as duas”, adverte.

A tendência da moda é a retrô, portanto, tudo que foi dos anos 20 até os dias de hoje pode ser usado e abusado sem medo de ser feliz. Muito pelo contrário, não há nada mais chique do que estar vestida com uma peça de família, isso só mostra que estilo vem de berço. Então, mamães, que tal aproveitar o mesmo manequim e a tendência, e dar uma incerta no guarda-roupa da filha?