Ídolos

Mais presente entre crianças e adolescentes, a idolatria é um sentimento de adoração a celebridades como atletas, atores, cantores, que aumenta a cada dia. Tratar gente famosa como semideuses é uma tarefa desenvolvida com mais desenvoltura pelos jovens, embora muita gente grande também engrosse as fileiras da tietagem. Para estudiosos, idolatrar é adorar alguém ou alguma coisa de forma desproporcional à realidade. “A admiração exagerada é um comportamento ligado à ilusão, que se torna preocupante caso a pessoa entre em uma fixação de adoração”, explica a psicóloga Maria Ducarmo, diretora do Espaço Delphos.

O psicólogo José de Lima diz que esse sentimento é mais forte entre os jovens, porque eles estão ainda em processo de formação da personalidade, ficando mais vulneráveis ao que a mídia propaga. “Existe o limite entre ser fã e idolatrar algo ou alguém, depende da duração e a forma de expressar esse sentimento”, afirma.

A idolatria se torna um grande problema quando a pessoa não cumpre com suas responsabilidades, quando muda seu comportamento até o ponto em que perde sua identidade

A atriz Cleo Pires classifica idolatria como uma obsessão, e ser fã como um sentimento “mais light“. Mas ela diz que nunca soube de admiradores que a tietassem a esse ponto. “O fanatismo iria me incomodar dependendo do momento e da forma. Confesso que não gosto que fiquem insistindo em assuntos pessoais ou achem que eu sou obrigada a expor minha vida ou partes dela que eu não quero. Acho válido o uso do bom senso, em como abordar a pessoa, em que momento e para quê”, ilustra ela.

Dentro dessa idéia de idolatria, claro que existe a normalidade de ser apenas fã de uma celebridade. Todos nós temos cantores que admiramos, atrizes ou atores que procuramos saber mais sobre a vida que eles levam, mas nada que interfira no cotidiano. A cantora baiana Claudia Leitte diz que passou muito tempo buscando uma resposta para esse amor incondicional dos fãs que ela não conseguia entender. Mas assegura que tem os fãs mais inteligentes e carinhosos do mundo. “É impressionante quando falo com eles e vejo que, mesmo jovens, são amadurecidos, sabem o que querem, estão comigo porque se identificam com minha música, com minha presença no palco, mas acima de tudo, com meu jeito de ser”, afirma a cantora, que costuma conversar com os admiradores pelo blog pessoal e antes e depois dos shows.

Seguidores leais

Mas o que leva alguém a imitar uma pessoa famosa, abdicando de suas próprias características físicas e até mesmo psicológicas? O psicólogo Lima classifica esse tipo de comportamento como sendo “a cópia dos modelos”. Ele afirma que as pessoas buscam nos famosos uma auto-identificação. “Mas quem imita alguém não quer copiar qualquer pessoa, mas sim, aquelas que mais lhe agradam, que mais lhe tragam felicidade”, analisa Lima, lembrando que o fã não se contenta apenas em adotar um corte de cabelo igual ou vestir roupas parecidas, mas até mesmo a falar da mesma forma que o imitado.

Para a psicóloga Maria Ducarmo, a idolatria é uma questão de auto-estima, em que a vida da pessoa deixa de ser o centro da atenção para que a do ídolo seja. “Se torna um grande problema quando a pessoa não cumpre com suas responsabilidades, quando muda seu comportamento até o ponto em que perde sua identidade”, acrescenta.

Tietagem para maiores

A publicitária Joana Sant’anna, 26 anos, já chegou a perder o emprego para ir atrás da atriz Jennifer Aniston quando morava nos Estados Unidos. Fã da loura desde quando ela estrelava o seriado “Friends”, Joana saiu do Texas, onde morava, para acompanhar as gravações da atriz em Los Angeles. O que já seria maluquice suficiente, virou loucura total. “Durante o fim de semana, ela filmou na rua e eu acompanhei tudo de longe. Quando já me preparava para a viagem de volta, eu conheci um brasileiro que trabalhava na montagem do cenário, iluminação, sei lá. Fiquei uns três dias observando tudo de perto, quer dizer, de praticamente uma janelinha no fundo do estúdio”, relembra às gargalhadas.

Como não deu satisfações sobre o paradeiro, ela perdeu o emprego de “doorwoman” que mantinha num restaurante no país. Mas se sente recompensada. “Tirei várias fotos, peguei autógrafo e conversei um pouco com a Jennifer”, afirma a publicitária que ostenta cabelos pintados num tom parecido com a atriz. Exagero? Segundo Joana, nem um pouco! “Gente, a mulher é uma das atrizes mais bonitas, solicitadas e interessantes do mundo. É claro que ela é um modelo a ser seguido!”, justifica-se.

De volta ao Brasil, Joana ainda mantém sua paixão por Jennifer, mas já elegeu seus novos ídolos tupiniquins: as cantoras Maria Rita e Sandy. “A Maria Rita é muito sensual, né? Tá um luxo cantando samba. E a Sandy é linda, linda”, diz. Mas, até agora, ela não fez nenhuma loucura pelas duas. “Só fiquei mais de uma hora na fila do autógrafo. Mas isso não foi muito trabalho, não… levei na boa”.