Indignação de jornalista com volta de Bruno ao futebol viraliza: ‘Desrespeito às mulheres’

por | jan 8, 2020 | Comportamento

Seis meses após sair da prisão para cumprir pena em regime semiaberto domiciliar, o goleiro Bruno foi contratado pelo time baiano Fluminense de Feira de Santana, e a notícia de que ele voltaria aos campos revoltou muita gente – inclusive a jornalista Jessica Senra, âncora da TV Bahia (afiliada da Rede Globo), que foi enfática ao explicar que ressocializar criminosos não é o mesmo que alçá-los a ídolos.

Jessica Senra critica contratação de Bruno

Preso em 2010 por suspeita de envolvimento na morte da atriz Eliza Samudio, o então goleiro do Flamengo Bruno Fernandes foi condenado em 2013 pelo assassinato dela e ocultação de seu cadáver, bem como sequestro e cárcere privado do filho dos dois. Sentenciado a uma pena de 22 anos e três meses, ele permaneceu preso até julho de 2019, e sua transição para um regime semiaberto vem causando polêmica desde então.

No início deste ano, porém, o assunto voltou a ser discutido após o anúncio de que o time baiano havia acertado sua contratação – e foi de forma direta que a jornalista Jessica Senraque já viralizou anteriormente ao rebater homofobia ao vivo – abordou a notícia no “Bahia Meio Dia”, telejornal do qual é âncora. Na ocasião, ela disse concordar com a ressocialização de criminosos, mas questionou se a contratação de Bruno não seria algo superior a isso.

“Uma pessoa que cometeu um erro, que já pagou por ele em termos judiciais, precisa poder refazer sua vida – e, legalmente, não há nenhum impedimento para que ele exerça qualquer profissão para a qual esteja habilitado. Mas no caso do feminicida Bruno e a profissão de atleta, eu quero questionar você que está aí do outro lado: isso é moral?”, disse ela, explicando sua crítica de forma dura.

“Atletas são referências para crianças, para adultos. São ídolos! Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar, dar o corpo para os cachorros comerem é um desrespeito a todas nós, mulheres. É um desrespeito a todas as crianças e adultos que cresceram sem mãe por causa de homens desprezíveis que tiraram a vida de mulheres”, afirmou a jornalista.

Para Jessica, a contratação de Bruno contribui, de certa forma, com crimes de violência contra a mulher. “[A contratação] colabora com a ideia de que matar mulheres é permitido desde que você cumpra sua pena – ou parte da pena, como é o caso de Bruno. Depois, pode viver sua vida normalmente. Não, gente, não pode!”, refletiu ela, lembrando também que a prisão não é o único tipo de pena existente.

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“Para sociólogos, que estudam a sociedade, o medo da punição é só uma das formas de prevenir crimes, e não é a mais eficaz. A reprovação, o medo da exclusão da sociedade, a culpa, a vergonha, a autocrítica, são mais poderosos que o medo da pena. Assim, quando a gente condena judicialmente, mas tolera socialmente a convivência, o recado dado é que aquela atitude não é tão grave”, comentou.

Conforme explicou, Jessica não se opõe à volta de Bruno ao trabalho, mas não concorda com a continuidade de sua atuação como futebolista. “Bruno pode e deve refazer sua vida, mas não na posição de ídolo. Não alçado socialmente a uma posição de admiração”, disse ela, caracterizando um time que se propõe a isso como “tão desprezível quanto os crimes que ele cometeu”.

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Ao publicar o vídeo do discurso no Instagram, ela também complementou a fala com uma reflexão sobre perdão na legenda da postagem. “Eu acredito na recuperação do ser humano. […] O perdão é um dos sentimentos mais belos que podemos cultivar. Mas perdoar alguém não significa esquecer o que esse alguém fez nem permitir que esse alguém continue em nossa vida. […] Não se pode fingir que nada aconteceu”, disse, lembrando que “há comportamentos legais que são imorais”.

Diante da repercussão bastante negativa que a notícia teve, o presidente do Fluminense de Feira de Santana, Ewerton Carneiro da Costa, anunciou em uma coletiva de imprensa que desistiu de dar continuidade à contratação de Bruno.

Leia o discurso completo da jornalista:

Caso goleiro Bruno