Já a antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg, autora dos livro “De perto ninguém é normal” e “Infiel: nota de uma antropóloga” (Ed. Record), a ser lançado em dezembro, não acredita na idéia de natureza humana. “Cada cultura constrói diferentes comportamentos e valores. Na nossa cultura, existe a fidelidade como valor, mas grande parte dos homens e das mulheres são infiéis”, afirma, de acordo com a pesquisa realizada para o seu livro. Ela apurou que, dos 1279 entrevistados, 60% dos homens e 47% das mulheres já foram infiéis, mas acreditam na fidelidade.
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Mirian explica que, de acordo com Marx e Engels, a fidelidade passou a tornar-se importante quando seus valores se associaram às preocupações com a herança e propriedades. “Os homens queriam ter a certeza da paternidade e garantir que seus herdeiros eram realmente seus filhos. Muitas sociedades são poligâmicas, o que não quer dizer que as pessoas não sofram, não sintam ciúmes ou aceitem facilmente a situação de dividir o parceiro”, afirma. Para ela, a fidelidade ainda é um tabu nos dias de hoje porque as pessoas querem se sentir únicas e especiais em uma relação. “Não é fácil aceitar que o parceiro tenha interesse por outra pessoa. Vivemos a fantasia que podemos completar totalmente o outro, preencher todas as suas faltas e realizar todos os seus desejos”, completa.
Muitas sociedades são poligâmicas, o que não quer dizer que as pessoas não sofram, não sintam ciúmes ou aceitem facilmente a situação de dividir o parceiro
Ao optar por trair ou não trair, devem-se colocar os prós e contras na balança. “Uma infidelidade é uma quebra do pacto feito pelo casal, como se a aliança se partisse. Ainda há o risco de ser descoberto e com isso abalar as estruturas do relacionamento”, explica o psicólogo Paulo Próspero, lembrando que, muitas vezes, a própria culpa leva à confissão. Mirian lembra que a infidelidade, quando descoberta, pode minar uma relação de confiança e amor, ressaltando que homens e mulheres traem por motivos diferentes. “Os homens que pesquisei podem ser infiéis sem que isso interfira no amor que sentem por suas esposas. Já as mulheres, dizem que traem por não serem amadas ou desejadas pelos maridos. Elas culpam os maridos por suas infidelidades”, relata, sublinhando que as mulheres parecem sofrer muito mais ao se verem divididas entre dois amores.
Desanimada com todo esse papo de traição? O psicólogo Paulo Próspero consola: “há aqueles que têm a vocação para a fidelidade, que almejam uma vida mais pacata e sem riscos”. Ainda há esperança. Mas sem desconfiança?





