“Amor, temos que conversar..” Não, não foi ELA quem propôs, foi ELE, o macho da relação. Esta matéria aborda um comportamento muito comum hoje em dia: homens mais sensíveis, dizendo e fazendo coisas antes inadmissíveis a um peludo que se prezasse. Chorar, fazer cenas de ciúmes, ficar em casa enquanto a mulher trabalha fora, cobrar atenção, lavar louça, cuidar dos filhos, amamentar.. ok, amamentar ainda não, mas muita coisa mudou. Atrás da máscara de machão, há um lado feminino vindo à tona, antes escondido e execrado por eles.
Luciana saía para a aula às 6h da manhã. O maridão Sérgio Públio, 34 anos, fotógrafo, acordava às 7h, brincava com as filhas pequenas Júlia e Giovana, levava para passear, dava banho, passava os uniformes, cozinhava, dava almoço, e deixava as crianças na escola. Só depois é que ia para o trabalho. Se ele reclamava? “Nada mais justo que dividir tarefas”, diz ele, “essa coisa do machão está caindo, com o tempo os casais estão levando a vida mais numa boa. Minha mãe criou sozinha os quatro filhos, porque antigamente era assim, a mulher ficava em casa e, se estudava, era para ter um diploma. Hoje, a mulher tem conquistado o espaço dela.” Sérgio acha que o homem costuma mascarar suas crises, mas que no fundo, sempre quis pedir um colinho, um arrego. “Casamento é um pacote, tem as tarefas, mas tem tudo, o negócio é dividir os sentimentos também.”
Se você acha impossível ficar sem empregada e, ao chegar do trabalho, todos os afazeres domésticos estarem prontos, saiba que na vida da arquiteta Bel Lobo, 39 anos, isto já foi rotina. Quando ela casou com o também arquiteto Bob Neri, só ela trabalhava fora. “Foi uma inversão total de papéis. Ele ficava em casa e aprendeu a cozinhar jantares maravilhosos. Quer dizer, ele já sabia preparar alguma coisa, mas com tempo livre, aprimorou.” Bel conta que ao nascer o primeiro filho, trocou literalmente de lugar com Bob: montou um escritório residencial e passou o antigo emprego para o marido. “Continuei trabalhando como uma louca, mas perto dos meus filhotes. Ambos os sistemas funcionaram, mas depois da nossa experiência, uma coisa ficou meio estabelecida: cozinha é com ele. Eu só entro lá com permissão,” conta rindo a arquiteta. A feira também é com ele, que sabe escolher o melhor tomate, a melhor verdura, etc. Uma vez uma psicóloga falou que quem tinha personalidade para ficar em casa era ele, não eu. Acertou em cheio!”
O empresário gaúcho Jeferson Bertolini, 30 anos, acredita que está nascendo uma nova consciência da existência de um homem mais real, mais terreno, não idealizado. “Nós homens estamos perdendo o medo de sermos taxado disto ou daquilo. A questão não é gostar de ser sensível ou deixar de gostar, mas simplesmente ser. Desta maneira, a vida pode ser mais plena, os relacionamentos melhores e temos um mundo com compreensão. Ser sensível, é como voltar a ser criança, sem condicionamentos.”
Sob um mesmo teto, opiniões podem divergir, mas para haver harmonia é necessário muito respeito. Na casa dos gaúchos Fernanda e Cássio Kern da Cunha, é assim: tudo baseado na cumplicidade. Ela é arquiteta e ele trabalha em casa, num escritório virtual. Para Cássio, isso não significa que ele seja o “dono de casa”: “hoje é comum os homens dividirem os afazeres domésticos com suas companheiras.” Fernanda vê, nessa troca, um ponto marcante: “Meu marido acabou valorizando mais o que temos. Em geral, são as mulheres que se preocupam mais com decoração, limpeza, etc, mas como ele fica mais em casa, estes aspectos são fundamentais para o seu bem estar, o que faz com que ele acabe me ajudando a manter a casa em termos de limpeza e a preservar mais os nossos objetos.” Cássio, que se considera um homem sensível, acredita que o machismo está diminuindo, mas que ainda não estamos preparados para uma mudança radical, onde a mulher sustente sozinha o homem e a família: “Qualquer pessoa, independente do sexo, deve desenvolver alguma atividade profissional além dos afazeres domésticos. Faz bem para a pessoa e para a sociedade.”
Fernanda desenvolveu também uma nova teoria sobre o machismo: que ele diminui com a “urbanidade” do homem. No interior do RS, ela tem um primo que cresceu numa fazenda. “Como todos sabem, a vida no campo é rude e faz com que as pessoas fiquem um pouco mais “gaudérias”. Um dia, comentaram que este primo iria ter dificuldades para se adaptar na capital, que iriam discriminá-lo e até debochar dos seus hábitos. Meu pai, um gaúcho com tudo que tem direito, respondeu imediatamente: “Antes grosso que bicha!” Se meu pai fosse da geração de meu marido e urbano, ele não pensaria assim. Então, acho que os homens estão mais sensíveis sim, mas os homens urbanos.”
Nanda diz que os sexo masculino perde muito da vida preservando sua imagem de forte e deixando de se entregar por inteiro aos sentimentos: “A nova sensibilidade masculina é muito boa para os próprios homens e se eles podem se sentir melhor, é bom para os relacionamentos.” E dá a receita de homem ideal: “Ele deve ser cúmplice, deve se entregar, deve encarar um relacionamento como uma opção de vida e não de sexo, deve considerar as diferenças entre homens e mulheres, e complementar, somar, não exigir a perfeição, construir, não ser muito vaidoso e ter pêlos no peito e no abdômen.” Algo mais?