Senso de humor é elemento mais do que fundamental para a saúde de qualquer relacionamento. Não só para encarar os tropeços da vida cotidiana a dois com espírito esportivo, mas também para tornar mais agradável esse convívio difícil por natureza. Só que tudo tem um limite e algumas almas por aí insistem em fazer piada até disso – aliás, sempre com um talento digno do palhaço mais decadente de circo do interior. Esses engraçadinhos estão por aí em qualquer esquina, prontos para fazer chacota, constrangir você, sua família e seus amigos e transformar a presença dele numa verdadeira ameaça à integridade da paciência coletiva.
A professora Solange Rios garante que tem horror a gente mal-humorada. “Não consigo conviver com quem não tem senso de humor para a vida”, afirma ela. Por isso, ser divertido é uma característica básica exigida para qualquer pretendente seu. O problema é que, às vezes, depois de algum tempo de convivência, essa condição rende um certo gostinho de arrependimento. “Eu me sinto atraída por caras engraçados, divertidos. A maioria deles é inteligente e agradável. Mas sempre tem um ou outro que se revela o autêntico babaca, o bobo alegre. Qualquer coisa que aconteça, ele ri, às vezes do que ele próprio falou, igual a um idiota. E quando diz alguma coisa que todo mundo acha graça, fica que nem criança, repetindo aquilo até alguém dizer ‘chega!!”, comenta Solange. “Pode ter coisa pior do que estar num cinema, assistindo a um filme, concentrada, e o mané do seu lado fazendo piadinha em cima de tudo o que acontece na tela? A paciência esgota! É difícil até terminar um relacionamento com uma pessoa dessas, porque você conversa sério e ele fica rindo. Aí, depois, você passa como grossa, intolerante, mal humorada”, reclama.
A capacidade dessa gente de criar efeito inverso, instituindo mau humor coletivo com suas “piadas”, é realmente impressionante. Principalmente quando o tema dessa espirituosidade é pessoal. “Namorei um cara que era bem esse tipo. Ele fazia uma coisa que me irritava ao extremo, que era me esculhambar na frente dos outros, rir de mim. Uma vez, era aniversário da minha mãe, saímos para jantar num restaurante e depois fomos eu, ele e meus pais para a minha casa tomar um café e encerrar a noite. Ele já tinha me deixado p da vida porque eu estava com um vestido florido, que ele dizia que parecia um show room de velório. Ok, tudo bem, estava engolindo. Mas, quando a gente chegou em casa, tinha uma pena de algum bicho na entrada do prédio. Ele vira e diz: ‘a Vivi fica nervosa quando eu faço piada e vai deixando rastro’. Na frente dos meus pais, pô, que falta de respeito!”, desabafa a gerente financeira Viviane Bahia.
Outra especialidade desse tipo de homem é desfilar sua estonteante criatividade criando apelidinhos sem a menor graça. A assessora de imprensa Ana Paula Penque estava sofrendo para se adaptar a um regime e, quando esperava contar com o incentivo do marido, recebeu dele uma mimosa alcunha. “Ele me via sofrendo por não poder comer coisas que eu adorava, ria de mim e ainda me chamava de Bolinho. Fora que volta-e-meia, no auge da minha dieta, ele chegava em casa com uma barra de chocolate pra mim, embrulhada pra presente. Nesse dia, eu ainda por cima estava de TPM e tive uma crise de choro. Por sorte, ele se assustou e parou com aquilo. Mas foi um estresse muito grande, bem traumático até”, conta ela.
Lidar com essas figuras é mesmo um teste de resistência física e mental. E, na opinião da vendedora Carla Nascimento, que encara doses pequenas mas diárias desse tipinho em seu trabalho, o melhor,pra não ter a paciência abduzida de vez, é se fazer de engraçadinha também. “Quando vem um engraçadinho, todo soltinho, fazendo piada e se achando o rei da cocada preta, me faço de idiota. Reajo séria, finjo que não entendi que era uma piada. Ou então, faço cara de burra, dou um atraso e rio um pouquinho no canto da boca. Eles desistem. É tiro e queda: a melhor arma contra a babaquice é ela própria”, conclui ela.